XIII - Segundo dia: Que caia o céu

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Saímos daqui e quando finalmente chegamos em uma grande rocha preta, consigo me localizar e saber a direção do riacho. Andamos umas duas horas e finalmente chegamos no rio. Ele é grande, deve possuir uns seis metros de largura. Sua corrente não está forte, boa até para nadar. Enquanto aqui onde estou, a água bate nos joelhos, seguindo o curso dele a uns dez metros, há uns três metros de profundidade.

- Preparado? - pergunta Flehr.

Faço que sim com a cabeça e encosto meus dedos na água. De imediato nada acontece. Passa-se uns trinta segundos e tiro a mão da água.

- Podemos nos limpar aqui - digo - Olhe para os meus dedos. Estão todos aqui - continuo sorrindo.

Ela me dá um tapinha no braço e então nós dois ficamos nos olhando. Seus olhos pretos encarando os meus azuis. Seu rosto angelical olhando para o meu carrancadudo, mas que por alguma razão a atrai.

- Acho melhor tomarmos banho de uma vez. Esse riacho é uma maravilha - digo. Ela faz uma cara estranha e logo complemento - Mas é óbvio que é um de cada vez. Enquanto isso irei preparar algo para nós podermos ficar.

Os seus ombros, que até então estavam tensos, relaxam de imediato e um expressão de alívio é vista em seu rosto.

Um canhão dispara.

Levamos um pequeno susto e então ela diz:

- Me dê uma de suas facas por favor - percebendo meu olhar estranho e desconfiado ela acrescenta algo, que porém não ajuda muito - Fica tranquilo, é melhor a faca do que um machado para o que eu vou fazer agora.

Pego uma de minhas facas e dou para ela.

- Obrigada.

Me viro e vou para um lugar a uns cinquenta metros do rio e tento fazer um acampamento decente.

Como nunca na minha vida havia montado uma barraca antes, tento pelo menos algo bonito. Aqui pela região há vários tronco pequenos caídos. Pego dois e coloco um do lado do outro, com diferença de alguns centímetros entre as duas. Coloco gravetos para fazer uma fogueira, na frente dos troncos e no final pego um pouco de musgo para a fogueira acender mais rápido.

No final das contas, aquilo fica parecendo o cenário de dois jovens indo acampar. Tiro a espada e o facão de meu cinto e os coloco junto da mochila e do arco que estavam a meio metro dos troncos.

Acendo a fogueira e coloco algumas carnes secas em um graveto para poder esquenta-las. Como uma amora e fico sentado esperando Flehr.

De repente três canhões disparam. Uma pausa de cinco segundos e mais dois soam.
Vou correndo até onde Flehr estava e quando chego lá, ela estava desesperada colocando a blusa, já de calça vestida.

- Por um momento pensei que pudesse ter sido você - diz ela.

- Eu também.

- Está fazendo o que aqui? Ainda nem fiz o que queria fazer.

- Então ta né.

Vou até o acampamento e depois de uns cinco minutos tiro as carnes da fogueira. Quando termino de comer uma, Flehr aparece, com parte da blusa cortada deixando a mostra o umbigo e... não posso acreditar... seu cabelo que ia até a cintura e estava em um "rabo de cavalo", agora vai até abaixo de seus ombros. O que achei que não podia melhorar... melhorou.

- E ai? O que você achou? - pergunta ela com um meigo sorriso, que reduz sua idade de dezoito para onze.

- Está perfeita - respondo.

- Que bom que você gostou.

Comemos carne seca com amoras. E durante o almoço, mais quatro canhões disparam.

- Esses jogos tão que tão hein - Flehr comenta rindo.

Quando terminamos começa a ventar levemente. Nuvens no céu começam a surgir e então digo para Flehr:

- Acho melhor nós guardamos nossas mochilas em um local seguro... mas onde?

Dou uma olhada ao redor e percebo que a resposta está embaixo de meu traseiro. Pego um troco oco grande o suficiente para colocar as mochilas e o deixo embaixo de uma árvore com a copa bem espessa.

O vento aumenta de velocidade e então dois canhões disparam. Olho de relance para Flehr e ela para mim. As gotas d'água começam tão levemente, de modo que as folhas impedem que elas nos molhem. De repente ela engrossa e então Flehr diz:

- Os odres.

Corremos até as mochilas e tiramos os que estavam vazios, deixando os abertos.

Ela começa a cair com um pouco mais de intensidade e se transforma em algo extremamente belo.

De repente tudo ocorre em uma fraçao de centésimo de segundo. Uma forte luz, seguida de outra, atinge nossa visão. Todos os meus pelos se arrepiam e dois barulhos estrondosos atingem meus tímpanos, fazendo com que eu me jogue no chão em posição fetal e comprima minhas mãos contra os ouvidos com o máximo de força que consigo.

Mais cinco canhões.

Nunca havia sentido um raio de tão de perto, quanto mais dois. Bom... pelo menos os tributos que estavam perto de nós, agora foram eliminados. Estava errado. De longe vejo três tributos correndo em nossa direção. Atiro a faca que estava na minha mão em um deles e, no maior golpe de sorte da minha vida, acerto na região torácica. Se passam uns cinco segundo e de arfando no chão, o garoto passa para morto, de acordo com o tiro de canhão.

As outras duas garotas que nos atacam estavam com machados, enquanto nós estávamos em um temporal desarmados. Pelo lado positivo, se nós ganharmos teremos mais patrocinadores do que elas teriam, pois estão armadas e nós não.

A que vem para cima de mim, literalmente, é um "pedaço de cruz credo". Ela sente dificuldade em levantar o machado e seu golpe na minha cabeça, foi extremamente mal sucedido.

Dou um soco em sua cara e chuto sua canela. Ela cai. Dou um baita chute em sua cara para ela desmaiar, pois se ela gritar, já era para Flehr. Pego o seu machado e o atiro em sua cara. Um canhão.

Olho para Flehr e ela não para de chutar a barriga da outra garota.

- Haymitch você acredita que essa vaca teve a audácia de arranhar meu braço? - pergunta ela realmente indignada.

Mais um canhão.

Me aproximo de Flehr. Nossos olhos fixam-se uns nos outros. Meu rosto se aproxima dela e damos nosso primeiro beijo de verdade. Lento e demorado, a luz de raios e som de trovões. A encaro novamente e ela me pergunta:

- O que foi isso?

- O fato de termos tido nosso primeiro beijo ou estarmos em um novo banho de sangue?

E então ela me responde rindo:

- Não sei qual das duas opções.

Haymitch: o passado do mentorOnde histórias criam vida. Descubra agora