Capítulo único

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Quando ela ouviu a notícia, chorou.

Chorou muito. Não conseguia parar de chorar. Ela se debatia em lágrimas. Lutava contra elas como se fossem uma correnteza, mas era um rio forte demais. Era imutável. Não tinha jeito. Não tinha como voltar atrás. Nunca.

Ela chorou por minutos, horas, dias a fio. Ele não aguentava vê-la assim. Queria poder melhorar a coisa de algum jeito, mas não podia. No fundo, pra ele também era ruim, mas ele era homem. Tinha que ser forte.

Tinha que chorar escondido.

Quando ela recebeu alta do hospital não queria sair. Ele entendia, mas não tinha escolha, precisava tira-la dali e leva-la pra casa para que tudo voltasse ao normal.

Mas, esse era o problema: ele não queria que voltasse ao normal. Queria que tudo tivesse sido como planejado e que a vida deles não tivesse virado de cabeça pra baixo, que tudo tivesse dado certo. Mas, não deu. Nunca daria.

Assim que chegaram em casa, ela se trancou no próprio quarto. Ele suspirou. Percebeu que teria que dormir no sofá. Queria entrar, pois ouvia os choros dela, mas ela como ela havia trancado a porta tornando isso impossível.

[...]

Dias se passaram. Ela só saia do quarto pra comer e fazer xixi (e outras coisas) e depois voltava a chorar e dormir.

O matava por dentro vê-la assim.

Um dia, ele viu a porta do quarto aberta e se surpreendeu ao ir na cozinha e não encontra-la. Quando se deu conta de onde ela estava, saiu correndo atrás dela.

— Não abra essa porta! — gritou ele ao pega-la com a mão na maçaneta.

— Você não manda em mim! — vociferou ela.

— Meu amor, será que não vê que se abrir essa porta você ficará ainda mais triste? — perguntou ele se aproximando preocupado com o bem-estar da esposa.

— Eu sei, mas... — ela segurava as lágrimas. — Eu tenho que ver. — ela disse. Ele mordeu o lábio inferior olhando pra baixo.

Ela abriu a porta e entrou no quarto. Ele tinha razão. Ela olhou ao redor do quarto e isso só a fez chorar ainda mais -e bem mais forte. Ela gritava de tanto que chorava e também soluçava. Não importava o quanto de tempo passasse, ainda doía como da primeira vez que lhe foi dito. Como se uma faca perfurasse seu coração.

Ele entrou no quarto e abraçou a esposa que ainda não havia perdido os quilinhos ganhos nos últimos meses se permitindo finalmente chorar com ela, sendo homem ou não aquilo também o doía.

Ele olhou naquele quarto azul, cheio de brinquedos e um berço daquilo que graças ao pouco dinheiro que tinham pra gastar em tratamentos IVF* seria a única chance deles.

E que agora, nunca seriam sequer usados.

* Sigla para tratamento de fertilização in vitro em inglês

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