"Merda!" Harry xingou quando, com os sapatos, paletó e chaves nas mãos, bateu o dedinho do pé na mesa de centro da sala de estar. "O que é que isso está fazendo aqui no meio?" reclamou com uma careta de dor no rosto, falando alto o bastante para que pudesse ser ouvido do andar de cima.
Sempre esteve aí, pensou Louis.
Pela terceira noite na semana, Harry chegou depois do horário habitual (ou talvez, agora ele tenha um novo), embora hoje parecesse não estar sendo tão cuidadoso como das outras vezes em que chegava com o farol do carro desligado, deixando-o estacionado na entrada da garagem, para que nenhum barulho fosse considerado suspeito.
Subiu as escadas lentamente na ponta dos pés, e Louis soube exatamente o momento em que o homem entrara no quarto em que fingia estar dormindo: o perfume masculino, o aroma amadeirado que apenas sugeria, e, ao mesmo tempo, esbanjava sexualidade; e que não era de Harry.
Deixou as chaves sobre o criado mudo e caminhou até o banheiro, encostou a porta, deixando que uma fresta de luz cortasse o cômodo. Lá, tirou o resto da roupa que vestia e jogou-as dentro do cesto de roupas sujas - que Louis lavaria mais tarde - e examinou-se diante do espelho. Tocou a marca quase arroxeada em seu peito com a ponta do dedo, fechou os olhos e suspirou em desgosto. Se sentia sujo. Ser o sujo ou o mal lavado, ele já não se importava em pensar sobre isso.
Apoiou-se no mármore da pia com as duas mãos e cabeça abaixada. O que poderia fazer? Vivia em um mundo onde era movido pelos pecados e eles podiam ser facilmente escondidos por um belo rosto e um par de cheques de quinhentos dólares.
Entrou no chuveiro e enquanto deixava a água cair sobre seu rosto, lembrou-se do momento que percebeu estar apaixonado por seu marido. Pequeno e delicado Louis...
O de olhos azuis tinha apenas dezesseis, mas já virava o mundo do mais velho de cabeça para baixo, e talvez não desconfiasse disso até hoje.
Lembrava daquele dia como se tivesse sido semanas atrás, mas havia se passado quase dez anos.
[Flashback | Dez de Abril de 2006; Hyde Park, Londres]
"Harry, para!" O garoto gritava e gargalhava esparramado na grama verde enquanto Harry, em cima do seu pequeno corpo, fazia cosquinhas em sua barriga.
"Então diga, Lou!" Riu junto com o menor. "Diga que eu sou o homem mais bonito e inteligente que você conheceu em toda a sua vida!"
"Isso está totalmente fora de questão, Hazz." Harry saiu de cima dele e sentou-se ao seu lado, fingindo estar aborrecido. Louis sorriu e apertou as bochechas do mais velho. "Oh, você sabe que é o rapaz mais lindo e inteligente que eu conheço, Harry." Ao ver o pequeno sorriso surgindo, continuou. "Bom, eu ainda não conheci Orlando Bloom, mas até lá você pode ocupar o cargo." E Harry explodiu em risadas.
"Ok, Louis, obrigado por isso!" Disse rindo e o menor sorriu docemente como se respondesse 'por nada, amigo, sempre que precisar'.
E, naquele momento, por causa daquele sorriso miserável, Harry percebeu que amava Louis mais do que ele amava Orlando Bloom.
[Ano de 2015; Presente]
Um sorriso surgiu no rosto de Harry, mas logo o mesmo foi substituído por uma expressão de dor. Seu coração doía e se sentia confuso como nunca.
Quando - e como - ele se transformou naquela pessoa?
~*~*~*
Louis dormiu mal naquela noite, assim como todas as vezes que Harry não apareceu em casa após o fim de seu expediente no trabalho.

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HIATUS Leave Your Lover (l.s)
FanfictionPor noites, Louis tem visto seu marido chegar tarde na casa em que dividem cheirando a um perfume que não se parece nada com o seu. Mas Louis só pode pedir por uma coisa: Deixe seu amante, Harry. Deixe-o por mim.