Capítulo 1

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- Alyssa! – Me recepcionou Daniel em tom de voz animado, como de costume. – Se junte a nós!

- Me desculpem a demora! – Respondi me juntando a eles em silêncio.

Todos os frequentadores do centro de apoio à criança e ao adolescente iam por conta própria, na verdade é como deveria ser. Alguns obrigados e outros para satisfazer desejo de alguém próximo. Portanto, suas feições eram sempre sonolentas e tediosas, porém, Daniel ignorava com êxito e fazia com cuidado que todos interagissem sem se sentir obrigados ou oprimidos. Nosso centro de apoio é o único de nossa cidade, nomeado como Girassol pelo nosso belo jardim repleto por girassóis. Eu sou auxiliar de Daniel, ajudo sem muito interferir com suas ideias mirabolantes de incentivá-los a esboçarem ao menos um pequeno sorriso, um sorriso torto tímido já era uma grande vitória para todos nós. Quando com crianças, éramos acompanhados por mais um psicólogo além de Daniel, sendo tratados com mais atenção.

- Eu não sei quem de vocês virá novamente na próxima reunião, mas guardarei na memória cada rosto que esteve aqui hoje e com esperança espero vê-los na semana que vem! – Finalizou Daniel agradecendo a todos com um aperto de mão.

- Até logo! – Me despedia sorrindo gentilmente para cada um que passava por mim, entregando-lhes um pedaço de papel dobrado como sempre fazemos no fim das reuniões. Nesses papeis contem frases que de alguma maneira esperamos que faça alguma diferença no dia deles. A maioria desses papeis encontrava nos corredores, jogados e amassados.

A caixinha que continha as frases era coberta num azul escuro com estrelas amarelas brilhantes, indicando que lá de dentro tirávamos um sonho de cada um. Muitos deles banalizavam a ideia, e poucos mostravam interesse em saber qual seria sua frase da semana. Aguardei dentro do armário e fui até o corredor pegar os papeis do chão. Peguei um por um e como mania, lia cada um deles imaginando para quem seria e terminava de amassar todos até transformar em uma enorme bola de papel e arremessar no cesto de lixo a minha frente.

- Ótima cesta! – A voz de Daniel ecoou o corredor vazio, me fazendo estremecer com o susto. – Te assustei?

- Não. – Menti forçando um riso.

- Já pode ir Aly, terminamos nossa missão de hoje. – Daniel ainda ria com o susto que de fato me deu enquanto trancava a porta da sala.

- Todos os outros orientadores já foram. – Olhei envolta e apaguei a luz do segundo corredor.

- Somos sempre os últimos! Vamos indo. – Daniel me acompanhou até a saída, agora fechando os cadeados do centro.

- Até amanhã Aly!

- Tchau Daniel.

Peguei minha bicicleta e Daniel deu partida em seu carro. Às vezes propositalmente ele andava com seu carro devagar, parando nas esquinas a frente até que eu chegasse em segurança em casa. Péssimo em disfarce.

- Mãe? – Chamei em voz alta ao entrar em casa. O cheiro que vinha da cozinha me lembrou que eu já fazia horas sem comer. – Mãe?? – Chamei novamente.

- Chegou na hora certa querida! – Mamãe mexia em um molho cheiroso. Sua TV ligada em um volume audível a um idoso com dificuldades de audição me mostrou porque não me escutava.

- O cheiro está na entrada! – Minha cara de esfomeada fez minha mãe esboçar um sorriso divertido e logo seus olhos arquearam, me fazendo entender o sinal. – Lavar as mãos! Já volto.

Corri para o banheiro do andar de baixo de casa e lavei as mãos. Olhei-me no espelho e também estava precisando de um banho. Voltei à cozinha e ajudei minha mãe a servir a mesa para nós duas. Jantamos em silêncio, num péssimo hábito de acompanhar a novela pela TV da cozinha.

- Filha pode deixar a louça comigo! – Minha mãe viciada em novelas, sequer tirou os olhos da TV.

- Ótimo, se não eu iria me jogar nessa pia... Preciso de um banho urgente! – Respondi largando meu prato na pia.

Corri para o meu banheiro e comecei a me desfazer das roupas, jogando-as no cesto. Pena não ser uma atleta, pois adorava arremessar coisas nos cestos. Tomei um banho longo e merecido depois de um dia cansativo e vesti meu vestido preferido de dormir. Peguei meus livros e terminei a noite fazendo meus deveres, enquanto minha mãe folhava algum livro, mas para variar, sempre com a TV ligada. Como se concentrada? Dona Norah é uma figura.

With Love, AlyssaOnde histórias criam vida. Descubra agora