CAPÍTULO 1

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O amanhecer trouxe uma luz suave e dourada que atravessava as cortinas da janela de Chloe. Ainda deitada, seus olhos foram se acostumando devagar à claridade que invadia o quarto. Ela permaneceu em silêncio por alguns instantes, saboreando a calma daquele momento.
Chloe era uma jovem vampira, uma criatura da noite que acabara de terminar o ensino médio no mundo humano e havia recentemente sido aceita na prestigiosa academia Perry, um lugar onde os sobrenaturais aprendem a ser sua melhor versão.
Com um suspiro, ela se sentou na cama e observou o quarto. Os móveis eram de madeira escura e elegante, combinando com o ar antigo da casa. Ela se virou e viu suas malas ao lado da mesa de cabeceira, onde havia uma foto de sua pequena família, seus pais e sua irmã, ela se recordou de momentos felizes que haviam vivido naquela casa, se fechasse os olhos poderia até mesmo sentir o cheiro da grama fresca na primavera, ou o frio da neve durante as guerras de bola de neve que travavam nos invernos rigorosos que assolavam a cidade. Ela sequer havia saído e já sentia falta de tudo isso, se perguntava se a irmã cresceria muito no tempo em que estaria fora, se tudo iria mudar ou permanecer igual, mas não tinha como prever o futuro então afastou as preocupações, mesmo com a saudade já pesando em seu peito.
A vampira compreendia que embora a academia estivesse localizada no mundo paralelo, que com pouco tempo poderia atravessar o portal para se alimentar.

Decidida a enfrentar o novo dia, se levantou da cama e foi até o armário se trocar, deslizou o vestido negro sobre seus ombros pálidos, realçando sua elegância sombria. Um colar adornava seu pescoço, enquanto uma luva envolvia uma de suas mãos. Com passos silenciosos, ela se dirigiu ao banheiro em seu quarto. Lá, abriu um armário e retirou uma seringa contendo um líquido verde brilhante, feito pela almecegueira. Esta era a chave para sua liberdade durante o dia, uma árvore rara e valiosa, permitia que os vampiros saíssem sob a luz do sol sem sofrerem os efeitos prejudiciais da luz solar.
Com habilidade, Chloe injetou a almecegueira em seu pulso, sentindo um formigamento enquanto o líquido se espalhava por suas veias. Ela sabia que aquele momento de transformação era vital para sua vida durante o dia.

Ao sair do banheiro, Chloe foi para a cozinha e encontrou seus pais, já preparando a almecegueira, porque estava quase acabando, seu pai, um homem gentil, sorriu ao vê-la.

— Bom dia, filha. Como você está? — ele aguardou, para ouvir a resposta, enquanto a garota retribuía o sorriso.

— Estou bem, pai — respondeu, com o tom tranquilo ecoando pela cozinha — a almecegueira está fazendo seu trabalho como sempre.

Sua mãe, uma mulher de cabelos escuros e com a feição preocupada, aproximou-se.

— Ainda dá tempo de desistir daquela carta, filha
Chloe suspirou e se virou para ela

— Mãe, já conversamos sobre isso. Eu vou para Hoksfell. Eu preciso aprender mais sobre meus poderes. — Sua voz estava firme

— Mas nós podemos te ensinar mais. Podemos te mostrar mais sobre ser uma necromante. — A mãe insistiu

Chloe olhou para os pais, frustrada, e soltou um suspiro pesado antes de abrir os braços em um gesto dramático.

— Vou completar 19 anos em breve — sua voz tremia levemente, não de medo, mas de uma raiva contida — olha só o que vocês me ensinaram até agora. Eu estou no nível três da linha de sepulcro. Já era para eu estar muito mais avançada!

As palavras ecoaram pelo ambiente, carregadas de expectativa frustrada. Stella abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo toque suave da mão do marido em seu ombro. Ele não precisou dizer nada; o gesto sozinho pedia que ela não continuasse aquela discussão. A semana anterior já havia sido cheia de conversas desgastantes sobre o assunto, e ele sabia que, se começassem de novo, aquilo só traria mais dor.

Verdadeiro legadoOnde histórias criam vida. Descubra agora