Prólogo

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Ser adolescente é ir em festas, as vezes beber escondido no porão com os amigos, grupos na escola, falar sobre besteiras, sobre moda, beleza, paixão, viajar para praia. Ser adolescente é normal. Normal. Uma palavra que está fora do meu vocabulário a algum tempo. Tenho atravessado o país com a minha mãe nos últimos 7 meses. Nós nunca ficamos muito tempo em uma cidade, então acabei perdendo um ano letivo, não fiz amigos, não estabeleci relações. Eram só eu, minha mãe, nosso carro e a estrada. E lanchonetes de estrada, você acaba se acostumando com o café com gosto de barro e os banheiros terríveis. Os motéis de estrada acabam se tornando um luxo perto do banco duro do carro, e comida congelada para de ter gosto de papelão.

A gente morava em Phoenix, Arizona, em um apartamento legal, com tijolos vermelhos e tínhamos uma vizinha que eu adorava, ela tinha uns 15 gatos. Eu tinha amigos, poucos, mas conhecia eles desde sempre. Tivemos que deixar tudo pra trás e atravessar o país. Minha mãe juntou suas economias dos anos de trabalho como enfermeira e comprou um Impala 67 usado, mas em boas condições. Tinha que ser um carro que não teria como nos rastrear. Partimos naquela noite, juntei minhas coisas em uma mala: roupas, itens de higiene, uma foto dos meus amigos, o colar que minha melhor amiga, Sara, havia me dado e meu travesseiro, e fomos embora. Não consegui despedir de ninguém, só liguei para Sara dizendo que a amava muito e agradeci pela nossa amizade, mas já estava tarde e ela me mandou dormir. A senhora Hamilton, a nossa vizinha dos gatos, apareceu na janela e acenou, com os olhos marejados e o Sr.Pumpkin no colo, ele era meu gato preferido. Lembro de algumas lágrimas terem escorrido, mas as limpei antes que minha mãe visse, eu sabia que já estava sendo difícil para ela. Naquela noite, há sete meses, nós deixamos tudo para trás, inclusive nossos nomes. Minha mãe conhecia um cara que forneceu novos documentos para nós. Naquela noite eu me tornei Brooklyn Hale. Naquela noite eu mudei.


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