Refugio

Capítulo 1 - Estrada

O que eu mais gostava das estradas era o vento, eu colocava o rosto para fora, fechava os olhos, abria os braços e parecia que estava voando, eu tinha a sensação de estar livre. Gostava também quando eu dirigia, bem no começo da manhã, com minha mãe dormindo no banco ao lado, o sol surgindo no horizonte, o silêncio e então o barulho da vida despertando com os sons dos pássaros. As pessoas também são interessantes, já encontramos cantores que corriam atrás de seus sonhos fazendo pequenos shows pelas cidades, conhecemos um casal adorável de velhinhos casados a 40 anos que haviam comprado um trailer e agora viajam por ai em busca de aventura, grupos de amigos fazendo mochilão, um casal de jovens que havia fugido para se casar. Conhecemos muito gente doida também, havia um cara vestido de papel alumínio, sim, ele estava coberto, em todas as partes do corpo, de papel alumio, ele jurava que havia sido abduzido por extraterrestres. Algumas pessoas também eram perigosas. Uma vez um cara me chamou de boneca e quis me agarrar, sorte que bem nessa hora uns policias entraram para comprar café. Santos policiais e seus cafés. Outra vez um grupo de arruaceiros nos abordou em um estacionamento, mas minha mãe andava sempre com uma arma, descarregada é claro, mas eles não sabiam disso. Até que era divertido estar na estrada, meio que viver uma aventura. Mas fugir, ah fugir é horrível. No começo eu checava o retrovisor toda hora para ver se estávamos sendo seguidas, ficava morrendo de medo de descobrirem que minha identidade era falsa e eu não me chamava Brooklyn, não conseguia dormir, vigiava a porta temendo que ela fosse ser arrombada a força no meio da noite. Mas eu fui me acostumando, passei a virar a cabeça quando me chamavam de Brook, consegui dormir em paz e parei de me preocupar nas estradas. Aquele medo realmente nunca some, você sempre está atenta a tudo e a todos ao seu redor, isso só passa a ser seu normal.