CAPÍTULO 10

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Diário de Perry terceiro

Data: 12 de março de 1742
Hoje, senti uma necessidade urgente de registrar minhas descobertas. O que aconteceu comigo nas últimas semanas é nada menos que extraordinário, e temo que se não o fizer, a magnitude do que encontrei possa se perder com o tempo.
Desde jovem, fui obcecado pelo desconhecido. Lendas, mitos e relatos de fenômenos inexplicáveis, sempre atiçaram minha curiosidade. Passei décadas mergulhado em livros antigos, estudando textos esotéricos e viajando para locais remotos, em busca de algo que pudesse expandir os limites do que é considerado real.
Tudo começou com um velho manuscrito que adquiri de um mercador em uma feira de antiguidades. Suas páginas amareladas continham descrições de um "portal entre mundos", um ponto de interseção entre nossa realidade e outra, onde o tempo e as leis da natureza se comportam de maneira diferente. Intrigado, dediquei-me a decifrar cada palavra e mapa contido naquele manuscrito.
Passei anos seguindo pistas, cruzando florestas densas, explorando cavernas e consultando eruditos. O caminho estava repleto de obstáculos, mas minha determinação não diminuiu. A cada descoberta, sentia que estava mais perto do objetivo.
Finalmente, depois de vinte anos de pesquisas incansáveis, encontrei-me em uma floresta que, à primeira vista, parecia comum. No entanto, à medida que avançava, percebia sutis mudanças no ambiente: o ar parecia mais denso, o silêncio mais profundo. Guiado por uma intuição inexplicável e pelo conhecimento acumulado ao longo de duas décadas, segui um trilho quase imperceptível até um ponto onde a luz do sol se comportava de maneira estranha, como se atravessasse um véu invisível.
Foi ali que o vi: um portal. Não era uma porta física, mas uma fenda na realidade, quase impossível de se ver a olho nu. Ao tocá-lo, senti uma leve resistência, como uma barreira de água. Tomei coragem e atravessei.
Do outro lado, encontrei um mundo diferente de tudo que já havia imaginado. Era noite, com o céu escuro e estrelado, tinha acabado de sair da floresta e estava de dia, e aqui agora era noite. Tudo parecia envolto em uma aura mágica. As cores eram mais escuras, os sons mais nítidos. Caminhei por esse novo mundo, fascinado com cada detalhe, sentindo que finalmente havia encontrado o que procurava durante toda a minha vida.
Passei semanas explorando essa nova dimensão, documentando tudo que vi e encontrei. Descobri que esse mundo paralelo não era habitado. E o ciclo do dia e da noite era invertido em relação ao nosso mundo.
Retornei ao nosso mundo com um senso renovado de propósito. Eu sabia que precisava compartilhar minhas descobertas, mas de uma maneira que protegesse o equilíbrio entre os dois mundos. Decidi então fundar a Academia Perry, um lugar onde aqueles que, como eu, buscavam conhecimento e compreensão, pudessem estudar e se preparar para lidar com o sobrenatural.
A construção da academia foi um empreendimento colossal. Escolhi cuidadosamente o local, e supervisionei cada detalhe para garantir que a estrutura estivesse à altura do que havia descoberto. Queria que a academia fosse um farol de conhecimento e proteção, um santuário para aqueles que desejassem aprender sobre o mundo sobrenatural.
Hoje, ao escrever estas palavras, sinto uma profunda satisfação. Sei que ainda há muito a ser descoberto e compreendido, mas estou confiante de que a academia Perry continuará minha missão de explorar, proteger e ensinar. Este é apenas o começo de uma jornada que se estenderá por gerações, guiada pela mesma paixão pelo desconhecido que me levou ao portal.

Data: 1 de abril de 1742
Os dias passaram rapidamente desde que fundei a academia Perry. A construção está quase concluída, e o edifício se ergue majestoso na clareira que escolhi. Cada pedra, cada viga, cada detalhe arquitetônico foi pensado para refletir a dualidade entre os dois mundos que descobri.
Hoje, quero refletir sobre os últimos dias e como a descoberta desse mundo paralelo moldou minha visão sobre o que significa realmente conhecer. Quando atravessei o portal pela primeira vez, fui tomado por uma sensação de reverência e humildade. Percebi que nosso entendimento do universo é limitado, e que há forças além da nossa compreensão que coexistem conosco, invisíveis mas não menos reais.
Ao retornar, trouxe comigo não apenas conhecimentos, mas também objetos e textos antigos que encontrei no mundo real. Esses artefatos agora preenchem as salas da academia, proporcionando aos futuros alunos uma visão direta das maravilhas e perigos que existem além do nosso plano.

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