Um

931 19 0
                                    

Faltando poucos dias para dar a luz a sua segunda filha, Carolina marcou mais uma viagem com a família, para uma casa de praia. Jenifer, sua primeira filha, e Camile, a melhor amiga da menina, que sempre os acompanhavam, brincavam na beira da praia, construindo castelos de areia. Paulo, seu marido, estava mergulhando. Sua mãe, na cozinha.

Sentada na varanda da linda casa, no litoral de Vila Velha, Carolina sentiu uma contração, não muito fraca, mas também não muito forte. Foi intensa o suficiente para lhe fazer soltar um suspiro. Um longo suspiro. Ela se acomodou na cadeira e então sentiu uma segunda contração, um pouco mais intensa. Outra contração e agora sentiu um líquido escorrer pela perna e outras contrações seguidas. Logo fortes dores a tomaram por dentro e com um pouco de esforço ela gritou "A bolsa estourou!"

[Três anos depois]

Naquele final de tarde Carolina deu a luz à Brenda. A garota, hoje com três anos, e Jenifer, com dezessete, são frutos do seu relacionamento com Paulo. Os dois estão juntos a dezoito anos. A família costumava viajar com frequência, porém, desde que Brenda nasceu, Caroline e Paulo passaram a ter que trabalhar em dobro para sustentar as filhas e acabaram não tendo mais tempo para as viagens.

Carolina chegava, depois de mais um longo dia de trabalho, em casa. Ela trabalhava como secretária em uma pequena empresa no centro de Vitória. Sandra, sua colega de trabalho e melhor amiga, sempre lhe oferecia carona. Ela, claro, nunca recusava. Passar o dia no trabalho e ter que pegar ainda três ônibus, lotados, era exaustivo. As vezes contribuía com a gasolina.

- Até amanhã. - Carolina disse, descendo do carro.

- Até Carol... - a amiga respondeu.

Sandra a deixava na esquina. Se entrasse na rua de amiga, só poderia fazer o retorno quatro quadras depois. Sandra saiu com o carro e Carolina caminhou até sua casa, não muito distante. Ao chegar, abriu a porta e, logo que entrou, viu Brenda correr em sua direção. Carolina soltou a bolsa no chão e pegou a filha nos braços. Sua mãe, logo atrás, fechou a porta e apanhou a bolsa.

- Que saudade que a mamãe estava - Ela disse lhe fazendo cócegas.

A garota, de forma inocente e fofa, gargalhou.

Marta, a mãe de Carolina, cuidava das netas enquanto a filha e o genro trabalhavam.

- Como foi o dia? - Carol perguntou à mãe.

- Bem... - Respondeu Marta, a acompanhando até a cozinha. - Chegou algumas contas, deixei em cima da mesa, ao lado da sua cama.

- Depois dou uma olhada... Que horas vieram ligar a luz? - A mulher perguntou abrindo a geladeira.

- Logo depois do almoço.

- Paulo já chegou?

- Sim, está tomando banho.

- E Jenifer? - Questionou sentando na mesa, ainda com Brenda nos braços.

- Está trancada no quarto desde cedo, disse que não ia jantar.

- Ainda por causa da ideia de viajar?

- Sim - A senhora respondeu sentando-se também. - Olha filha, ela até que tem razão. Desde que Brenda nasceu vocês só trabalham, trabalham e trabalham. Vocês deveriam tirar um tempinho para vocês.

- Não mãe, nem comece. Você viu a briga que foi ontem nessa casa por causa dessa viagem.

A mãe de Caroline assentiu. Pegou a bolsa, pendurada na cadeira, e despediu-se da filha. Antes de sair, deu um beijo na neta e caminhou até a porta.

RuínaOnde histórias criam vida. Descubra agora