2. Visível/Invisível

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Desde que nasci sou um pouco bajulada pelo fato de ser "a caçula". Mas confesso que nunca gostei de chamar muita atenção. Para compensar, minha irmã é a pessoa mais inconveniente que conheço! Sempre fazendo o que for preciso pra chamar toda a atenção, principalmente quando a ideia é me fazer passar vergonha. Ela é sete anos mais velha do que eu, e desde sempre foi do tipo chata que colocava a culpa em mim por tudo que fazia. Mas também tenho um irmão que é quatro anos mais velho que a minha irmã, ou seja, onze anos mais velho que eu. Ele sempre foi do tipo protetor, que quer cuidar e ensinar os princípios morais da vida, sabe?

Tive uma família normal durante toda a vida mas, como todo ser humano, não estava satisfeita e não me sentia feliz de verdade. Foi onde comecei a procurar o caminho que me levava direto à felicidade e sempre fracassava, principalmente quando se tratava de amores. Não conheço alguém na face da terra que tem o dedo mais podre do que o meu. Qualquer pessoa que eu apontava o dedo e escolhia, era a pessoa errada.

Durante o período de escola, eu tive 2 namorados. O primeiro foi uma experiência totalmente nova, que na verdade eu topei pela curiosidade de saber como era ter um namorado e com certeza não foi a melhor escolha que fiz. Ele era mais velho, já estava entrando na Faculdade e quase não tinha tempo pra mim. Depois de alguns meses, eu cansei de ser ignorada como se nem namorássemos e dei um fim nisso.

Já o segundo, que aconteceu a uns dez meses depois, conheci numa festa de 15 anos de uma das minhas amigas. Ela tinha uma lista grande de amigos para convidar e confesso que me senti um pouco perdida no meio de tantos jovens desconhecidos, mas teve um em especial, que me chamou a atenção. Um garoto normal, mas com um jeito que o diferenciava de todos os outros. E por uma coincidência (talvez), ele também viu isso em mim. Alguns dias se passaram e já éramos amigos, mais alguns e eu estava apaixonada. Fator que me fez reconhecer que ele sempre tinha tempo pra mim, me surpreendia todos os dias e me tratava como uma princesa.... no começo. Após algum tempo, percebi a propaganda enganosa que acabara de cair. Prefiro nem compartilhar com vocês a longa e aventureira jornada com o League of Legends que ele teve, enquanto eu esperava ansiosamente por um namorado que me notasse. Uma dica: não se iludam apenas com o que se vê, às vezes não está se vendo tudo!

Depois de quase dois anos sofridos com namorados idiotas, eu estava cansada de procurar a felicidade no amor, porque na minha visão o sentimento que se tinha com o amor era o problema, não as pessoas que me juraram amor. Então comecei a criar distância desse sentimento, criar distância das pessoas que realmente me amavam. Minha família foi um caso. Meus amigos, foi outro. Até que me vi sem ninguém, em um desespero mútuo de carência, querendo alguém que pudesse me enxergar, mas era tarde. Eu já estava invisível. Então fui tentando me ajustar a essa nova realidade, que me ajudou a ser mais crítica com as pessoas e até comigo mesma.

O meu irmão, que era quem eu gostava na família, se casou e foi morar um pouco longe de mim. Eu me sentia insegura de viver naquela casa, onde ninguém conhecia meus sentimentos e a cada dia que ia dormir, eu tinha esperanças de não acordar, para não ter que olhar para todos no dia seguinte e mostrar um sorriso que não pertencia a minha alma. Uma estratégia que meu cérebro descobriu para que as pessoas não precisassem vir até mim e perguntar o motivo das lágrimas, porque as lágrimas mesmo só saíam quando eu estava sozinha.

Vivi um bom tempo assim, numa vida cheia de amarguras e rancores, até que decidi dar um fim nisso. Pra que viver, se não é para ser feliz? Isso foi o que palpitou na minha mente neste dia, até que resolvi tomar uma atitude. Então caminhei silenciosamente até o quarto da minha mãe e fui direto para a gaveta onde sabia que encontraria muitos remédios para o coração (no qual minha mãe tinha algumas doenças) e levei-os para o meu quarto. Esvazie a cartela de comprimidos e deixei todos na minha mão. Fiquei olhando-os por alguns segundos e comecei a chorar, mas não foi um choro comum, foi um choro que doeu, foi o grito da minha alma pedindo misericórdia, pedindo pra que eu tivesse esperança. Mas nesse momento, ela perdeu pra força carnal, que foi rápida e engoliu todos aqueles remédios que resultariam em morte. Enfim, senti-os descendo pela minha garganta e tive dois sentimentos muito fortes: o alívio e o desespero. Meu coração estava aliviado por não ter mais de sofrer por coisas obsoletas, mas a minha alma estava desesperada.

Depois da explosão de sentimentos, escutei a porta do meu quarto se abrir e então minha mãe finalmente me enxergou. Me viu na pior situação que ela pudera ver, me viu com o rosto inchado, segurando forte na cartela de comprimidos já vazia enquanto algumas lágrimas ainda escorriam dos meus olhos. Olhei nos olhos dela, e ela começou a chorar, sem eu precisar dizer uma sequer palavra. Eu vi o desespero se criar no coração dela, a qual não me questionou e me levou direto para o banheiro. Com todo aquele sentimento de mãe aguçado, me forçava a vomitar de frente para a privada, na esperança de que aqueles remédios fortes ainda não tivessem chegado à minha corrente sanguínea.

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Notas da autora: Hmm, o que será que aconteceu? Será que ela sobreviveu ou vai continuar a história pensando em como teria sido se tivesse decidido diferente?

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Até a próxima.

Gostinho de felicidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora