Capítulo 3

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Assim que cheguei da escola comecei a me arrumar para a festa. Tomei banho e coloquei minha melhor roupa.

Estava com um shorts acinzentado. Uma blusa preta, curta e folgada, que deixava meu ombro esquerdo e minha barriga à mostra. Pentiei meus cabelos curtos e prendi com grampos um coque alto, somente com a parte de cima dos cabelos, deixando duas mechas da franja caindo sobre meu rosto e o restante solto com as pontas fazendo uma leve curva acima dos meus ombros. Passei tanto rímel em meus cílios, que podia sentir o peso deles. Sob os meus lábios um gloss incolor.

Desci as escadas correndo, porque já estava atrasada. Pisando os pés na sala de estar, dei de cara com meu pai. Que me olhava sério.

— Onde você pensa que vai Maria Luisa? — Ele me questinou, sem mudar sua espressão carrancuda.

— A uma festa. — Respondi, sem rodeios.

— Com a ordem de quem, posso saber? — Ele perguntou ainda sério.

— Mamãe. — Falei cruzando os braços, com um sorriso desafiador no rosto.

Ele simplesmente bufou descontente e sentou-se no sofá.

Se tem uma coisa que amo, no modo como meus pais me criam, com certeza é o fato de que eles nunca descordam um do outro.

Teve uma época que eles viviam brigando, porque minha mãe queria me deixar fazer tudo, já meu pai não me deixava fazer nada. Então ambos tiveram a brilhante ideia de concordar sempre. Qualquer coisa que um deixava o outro devia acatar sem discussões. O que pra mim, claro, foi ótimo. Peço tudo para minha mãe. Ela sendo a boa mãe que é, nunca me diz não.

Fui até a cozinha, onde minha mãe fazia o almoço.

— Oi mãezinha. Pode me levar na festa já? — Perguntei debruçando meus braços na pia.

— Minha queria Malu-quinha, pede pro seu querido paizinho. Porque a mamãe ta super ocupada fazendo o almoço e eu sei que a senhorita já esta atrasada. — Minha mãe falou enquanto jogava um tempero no filé de frango sob a tábua de madeira.

Lancei para minha mãe um olhar debochado.

— Sério? Você sabe que ele não vai querer. — Disse revirando os olhos.

— Ele não tem que querer. — Minha mãe me respondeu dando um enorme sorriso e piscando com um dos olhos.

Corri até ela e a abracei. Ela ficou com os braços levantados para nao encostar suas mãos meladas em mim. Mas deitou sua cabeça sob a minha, para retribuir o abraço.

— Eu te amo.

— Também te amo mãe. — Afirmei abraçando-a com mais força.

— Olha aqui. — Minha mãe falou chamando minha atenção. — Ignora a cara feia do seu pai, não deixa isso estragar sua festa, e tenha juízo Malu-quinha. — Ela completou dando um belo sorriso, em seguida beijando minha testa.

— Pode deixar mãezinha. — Falei concentindo com a cabeça. Me virei e fui chamar meu pai.

...

Dentro do carro a caminho da festa, meu pai não disse uma única palavra. Vez ou outra me encarava sério.

Depois de alguns longos minutos de tortura, presa em um carro com meu pai, chegamos ao local da festa. Meu pai estacionou em frente a casa da Aline Machado.

— Ok. Então até mais tarde pai. — Falei soltando o cinto de segurança com pressa e destravando a porta.

— Espera. — Meu pai falou rapidamente, então permaneci no carro. — É... Juizo Maria Luisa!

— Ta pai, eu sei. — Respondi virando os olhos.

— É sério! Não quero filha minha na boca do povo. — Ele continuou falando com uma voz assustadoramente séria. E me deixando muito irritada.

Odeio quando meu pai faz isso. Só comprova a falta de confiança dele em mim. Sempre que vou para algum lugar com meus amigos, tudo isso acontece. Ele fica com a cara fechada o dia inteiro e me da esse sermão ridículo, sobre ter juízo para não ficar mal falada. Do modo que ele fala, até parece que eu sou uma dessas garotas devassas.

Sei que não sou nenhuma santa, mas também não sou uma vadia. Além disso, eu e meus amigos somos apenas crianças de treze/quatorze anos. O máximo que fazemos é beijar uns aos outros de vez em quando.

— Ta pai, acabou? Posso ir agora? — Retruquei enfurecida.

— Ta, vai logo! — Ele respondeu irritado. Então sai do carro e logo meu pai se foi, acelerando sem piedade.

Toquei a campainha ao lado da porta. Logo Aline Machado a abriu me convidando para entrar.

— Licença Ali. — Disse educadamente, entrando na casa.

— Toda. — Aline me respondeu da mesma maneira e fechou a porta.

Ali sempre dava festas. Seus pais eram liberais, até demais pro meu gosto. Mas não tinha o que reclamar, afinal se não fossem as festas dela, eu nunca teria dado meu primeiro beijo. E não estaria agora prestes a repetir a dose.

— Oi gata. — Alec falou, segurando minha mão e me rodopiando. — Você está desnumbrante. — Ele completou beijando minha mão.

— Eu sei. — Disse jogando meus pequenos fios de cabelo para tras.

— Vamos? — Alec perguntou fazendo um gesto cortez com o braço, para que eu me juntasse a ele.

Cruzei meu braço com o dele e seguimos para o fundo da casa, onde a festa acontecia. O som era tão alto que seria difícil ouvir Alec que estava ao meu lado. Uma mesa marcava o ponto central de toda aquela área, na mesma haviam vários tipos de salgados e um pão com patê que era típico da Sra. Machado, a mãe da Ali, entre refrigerantes e sucos. Do lado direito estavam alguns meninos, comendo e conversando. Já do esquerdo estavam as meninas, fazendo o mesmo.

Essa divisão meninos e meninas, sempre me deixou enfurecida. Afinal nunca tive muitas amigas, sempre me dei melhor com os garotos. Quando eu e Alec nos deparavamos com essa situação, acabavamos formando um grupo só nosso. Com isso aos poucos todo mundo ia se misturando e então a festa começava.

— Ele está ali. — Alec falou apontando o dedo para um menino, que estava num canto escuro enconstado na parede, com fones de ouvido e olhando para o celular.

— Quem disse que eu estava procurando ele?! — Questionei o olhando de maneira impaciente.

— Seus olhos. — Ele respondeu passando uma das mãos sob meu rosto. Então eu o encarei virando os olhos e rindo.

— Quem usa fones de ouvido em uma festa, que já tem música? — Perguntei para Alec indignada.

— Por que você não pergunta para ele? — Alec falou me empurrando com o ombro de leve.

— Ta bom. — Falei e em seguida comecei a andar na direção do rapaz.

A cada passo que dava e me aproximava dele, conseguia ver melhor o quanto aquele garoto recluso era bonito. Mesmo com aqueles cabelos cacheados bagunçados na altura dos olhos. Ele vestia uma blusa de malha fina, num tom azul escuro, que marcava seu peitoral forte, calça jeans preta e um tenis beje. Eu não entendia como um garoto da minha idade podia já ter o corpo tão desenvolvido. Mas ele era diferente dos outros, dava para notar isso.

Parei em sua frente e logo ele tirou os olhos da tela do celular e me encarou assustado.

— Oi Lipe...

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