ELA

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ELA
por Mason Cooper

(Ela) Tem uma pinta com o formato de um elefante por trás da orelha esquerda.

(Ela) Tem a mania de organização, de ter um lugar para cada coisa e gosta de cada coisa no seu lugar. É extremamente organizada, nos estudos e em casa. Coisas fora do lugar tiram-na do sério e ela não gosta nada de atrasos e esquecimentos. Por isso, para ter sempre tudo sobre controle, ela tem a mania de fazer listas. Faz listas para tudo, sobretudo sobre cronogramas de estudo, das atividades diárias, do que precisa comprar e o que gostaria de fazer... Acho que ela tem a sensação de que, se não escrever numa lista, corre o risco de esquecer. Ela adora riscar coisas. E quando acaba uma lista, começa logo outra... Por isso, tem uma mania irritante de criar listas com resoluções que nunca cumpre.

(Ela) Tem certo trauma de remédios. Acha que pode morrer engasgada com um comprimido e se recusa a engoli-los com água. Sua boca parece produzir a função protecionista de prender o remédio na língua sempre que ela é obrigada a tragar a medicação com um gole generoso de água.

(Ela) Acha que um objeto só está certo se houver uma etiqueta nele.

(Ela) Costuma prender os fios cor-de-cobre com uma caneta mastigada jurássica nos seus momentos de desleixo. A mesma caneta que carrega no bolso desde o primeiro semestre e que, provavelmente, está sem tinta.

(Ela) Tem um cheiro clínico de álcool e gel, organização e canela.

(Ela) Gosta de discutir sobre as diferenças de Sherlock Holmes e Poirot em tardes maçantes de domingo.

(Ela) É uma pessoa muito expressiva e transparente. Seus sentimentos transbordam com facilidade. É muito fácil ler a analogia por trás de o seu trincar de dentes e revirar de olhos.

(Ela) Finge odiar comida chinesa/japonesa/qualquer derivado asiático, mas devora minha carne grelhada ao molho funghi como uma desesperada.

(Ela) Dorme com uma meia de lã horrorosa laranja porque diz que sente muito frio, mas se embola toda no lençol e derruba a colcha na primeira espreguiçada. A meia é furada.

(Ela) Acha que suas resoluções vão mudar seu estilo de vida e me obriga a segui-las para dar-lhe algum apoio espiritual. Numa dessas tentativas, eu só durei duas horas ao seguir sua meta de vegetarianismo, antes de pedir minha carne grelhada ao molho funghi e comê-la por trás da escada dos dormitórios masculinos. Ela só durou cinco, antes de se entregar ao bacon com cheddar embaixo da sua mesa de estudo.

(Ela) Franze o nariz e coça a nuca quando mente ou está nervosa. Ela faz isso com frequência comigo.

(Ela) Está sempre mergulhada nos livros ou vendo a vida passar. Eu estou sempre com um cigarro na boca e a assistindo da plateia.

(Ela) Sempre joga meus isqueiros no lixo e prega adesivos anti-fumo na porta do meu quarto.

(Ela) Costuma acordar com o cabelo todo babado.

(Ela) Tem uma baba fedorenta.

(Ela) É apaixonada por musicais de todos os tipos.

(Ela) Não chora assistindo Marley e eu, mas chora vendo Valente.

(Ela) Tem a unha do mindinho do pé direito estragada.

(Ela) Fica com as maçãs do rosto rosadas quando está brava, acentuando a coloração quente dos seus cachos rebeldes, o que a deixa com a aparência de uma cenoura. Gosto de sujar seu quarto para provocá-la. É como assistir um vulcão entrando em erupção, com a exceção das mortes iminentes e a destruição precoce. Pensando bem, talvez a parte da morte e destruição se assemelhe com a realidade (o que nunca é um bom indicador).

(Ela) Tem uma coletânea de sons naturais reservados para a hora de dormir. Eu já os troquei, certa vez, por uma gravação do Slipknot, o que não a deixou muito relaxada.

(Ela) Precisa ter, além dos sons reconfortantes de baleia acasalando, uma lâmpada acesa para garantir a serenidade do seu sono.

(Ela) É péssima jogando mímica ou qualquer jogo de adivinhação. Ela acha que temos alguma conexão psíquica, mas não entendo 1/3 dos seus movimentos ou rabiscos. Por que alguém desenharia uma caixa para retratar Madagascar?

(Ela) Almoça todos os dias o mesmo prato, no mesmo horário, no mesmo local, desde o segundo período da faculdade.

(Ela) Odeia mudanças.

(Ela) Possui um computador pré-histórico que tem a lentidão de uma tartaruga manca. O monitor está tão estragado que sua resolução oscila num tom esverdeado e amarelado, como uma rachadura cibernética. Recusa-se a trocá-lo, com o pé batendo em teimosia e as bochechas vermelhas, porque alega que tem valor sentimental. A verdade é que ela teme uma ruptura na sua tão centrada rotina.

(Ela) Acha que pode dominar o mundo com o devido planejamento.

(Ela) Organiza o próprio guarda-roupa por categoria de tons, peças e utilidade.

(Ela) É diferente de tudo o que eu já vi.

(Ela) Odeia bagunça, mas me ama.

Marshall & Mason - 2920 diasOnde histórias criam vida. Descubra agora