Acho que nunca acreditei tanto na perda e na morte como depois que ela puxou o gatilho. Entendi que a morte é o que nos torna mais humanos, mais frágeis.
Como de costume, acordei e eram 8 da manhã, e ví o sol pela janela no teto do meu quarto. Sol fraco, céu pouco nublado, folhas no chão, algumas secas, ainda com gotas de orvalho, e o cheiro de terra molhada, que se serrava com o frescor do ar gélido e receptivo. Era mais um novembro que começara.
Novembro era um mês que eu gostara bastante, pois era o término de mais um entedioso e sufocavel ano que chegava, por isso era o mês que mais aguardara. Não por alguma data especial. Meu aniversário era no mês de abril, não tinha esposa ou filhos, nem nada de importante no mês de novembro que o tornava especial para mim. Mas mesmo assim era o mês pelo qual todo o ano esperava ansiosamente.
No ano anterior recebi a notícia da morte da minha esposa, Sarah. Eu estava em uma missão de resgate de companheiros do exército americano aos últimos focos do nazismo em Auschwitz, na Polônia.
Eu estava muito familiarizado com a morte, via a cada dia milhares de pessoas morrendo de desnutrição. Nos campos de concentração os prisioneiros eram alimentados cerca de quatrocentos gramas por dia, o bastante que os mantinham vivos. Muitos ainda comiam os próprios piolhos que percorriam por todo o corpo, além da grama e folhas que haviam num lugar que chamavam de Caminho da Morte. Era uma sorte achar uma folha verde.
A morte era algo habitual para um delegado federal, convocado pra uma guerra que entrou pra a história de horror da humanidade. Mas chegar em nosso apartamento, cerca de alguns quilômetros da casa do lago, outra casa que tínhamos, enquanto tudo pegava fogo e receber a notícia da morte da minha esposa, foi a pior coisa da história da minha vida. Algo que os antidepressivos, psicoterapias e o tempo — ah, o tempo —, não me ajudaram a superar. Terminar um ano turbulento e tormentoso, pelo fato de voltar pra casa e sentir a tristeza em cada ambiente, com a ausência da Sarah, era a coisa crucial para um novo começo.
Crucial, fora Greta.
Greta era a garota que eu vinha me envolvendo meses após voltar pra casa. Era uma loura natural em que o tom do louro mudava de acordo com seu estado e ambiente – se estava molhado ou em lugar luminoso por exemplo –, olhos verdes num tom claro, que quando punha sob mim, dava vontade de esconder-me, um sorriso arrebatador que vinha de sua boca quase sempre com um batom rosado e um sorriso encantador, e sua voz me encantava a cada vez em que ela falava. Sua fala era quase um surrurro gritante e bastante sexy, que fazia tremer toda minha carne quando sorria e dizia lentamente meu nome. Nick... Com estas características de um esteriótipo perfeito você deve estar pensando ser só ficção de um grandioso autor em uma das suas obras, mas creia, ela existe.
A conheci quando fui à um café para fazer alguns relatórios de alguns casos que reiniciariam minha carreira de delegado federal, talvez o mais importante da minha vida. Eu sentei em sua frente, e ficamos cara a cara. Rolaram alguns olhares, nada demais. Não estava acompanhada, algo que era bastante estranho para aquele tipo de local e por ser uma dama. Enquanto ela se levantava para ir ao banheiro, deixei em sua mesa um bilhete escrito: "— Mais um minuto e enlouqueço...". Depois dalí conversamos mais e mantínhamos uma relação.
Não fui acompanhado, as vezes me sentia sozinho e falava sobre algo com minha própria caderneta de anotações. Gostei bastante dela após nos envolvermos.
Não conseguimos durar muito. Não conseguia fazer aquilo com a memória da Sarah, mas o quanto durou foi alucinante. Fazíamos sexo como dois famintos, parecia dois adolescentes.
Eu estava focado para a retomada da minha carreira de delegado federal e o primeiro caso após a licença era um caso de um desaparecimento num presídio para criminosos insanos. A desaparecida é Lay Alerk. Hoje à noite é o meu embarque para a ilha. Estou com uma infeliz dor de cabeça, mas esperei por este momento ansiosamente, espero também solucionar este caso que será gigantesco. Espere só ao conhecer o meu macabro assistente no próximo capítulo.Niccolas Lenon, 1 de Novembro de 1964.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Prison Fear
Mystery / ThrillerNo verão de 1954, o xerife Nick Lenon chega a Shutter Island com seu novo parceiro Chuck Aule. A dupla deverá investigar a fuga de uma interna do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, reservado a pacientes criminosos. Sem deixar vestígios, a assassina L...