XXIII. Violoncelo

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─ É uma honra te ter em minha classe novamente, Sr. Tomlinson. ─ A Sra. Phillips me cumprimentou com um sorriso no rosto, fato que não era tão corriqueiro e normal. Ela chegou até onde eu estava e todos os alunos se voltaram para olhar. Isso me deixava tão constrangido! ─ Espero que tenha praticado em casa e tente pegar as músicas que tocamos durante o tempo em que esteve ausente.

A verdade é que não tive oportunidade de ensaiar enquanto estive em casa cuidando de minha mãe. Preocupei-me mais em dar toda a atenção que ela merecia do que praticar violoncelo. Além disso, a dor que a falta de Mark fazia não me deixava sequer raciocinar direito.

─ Nós ensaiaremos uma música simples como devem ter visto no cronograma da disciplina. ─ Anunciou com bom humor. ─ New York, New York. Preparados?

Ajustei o violoncelo entre minhas pernas e apoiei metade na cadeira onde estava sentado. O nervosismo já tomava posse de mim e a situação só piorava quando eu pensava que deveria orgulhar meu pai. Parecia tanta responsabilidade. Tinha medo de falhar.

A professora começou seus movimentos de maestro e nós iniciamos a música com o instrumento. Concentrei-me ao máximo para tentar acompanhar através da partitura, mas era praticamente impossível. Eu não conhecia tão bem a canção quanto deveria. No entanto, eu tinha que tentar, porém desafinei terrivelmente em uma parte e todos pararam para me olhar.

A professora deu um suspiro pesado e minhas bochechas coravam por estar passando tamanha vergonha. Com o canto dos olhos, pude observar Beatrice revirar os olhos.

─ Ok. Vamos voltar. Concentração, por favor. ─ Respirei fundo uma vez e soltei o ar dos pulmões. Logo em seguida, fechei os olhos com força e tentei me atentar apenas ao momento.

Voltamos a tocar e meus erros gradualmente foram diminuindo, mas o desempenho ainda era baixo. Eu não conseguia acompanhar o resto da turma. Ficava inseguro e ansioso de um modo péssimo quando se tratava de tocar em grupo. No final, a Sra. Phillips me lançou um olhar de compaixão que não gostei de receber. Era difícil se ver falhando, ainda mais com olhares de pena.

Ela nos dispensou e então guardei o violoncelo dentro da capa com cuidado enquanto todos já estavam saindo e caminhando em direção à aula de partitura.

─ Sr. Tomlinson... ─ A Sra. Phillips me chamou e andei timidamente até ela. Seus olhos me analisavam atenciosamente por cima dos óculos. ─ Eu sei que deve ter sido difícil ter perdido seu pai e eu lamento muito. Espero que o senhor consiga superar isso e dar a volta por cima.

─ Obrigado. ─ Praticamente sussurrei e dei um sorriso sem dentes à mostra.

Ela me incentivou para que fosse e não me atrasasse para a próxima aula. Caminhei desajeitado pelo corredor com o violoncelo apoiado no ombro. Não daria tempo de levá-lo direto para o quarto. Eu teria de carregá-lo durante a manhã inteira.

Assim que entrei na sala de aula, encontrei Liam sentado em sua carteira como de costume. Ele jamais mudara, nem mesmo com a possibilidade de sentar ao lado de Zayn e ainda me fizera continuar no mesmo lugar, pois se eu mudasse, segundo ele, nada mais estaria certo.

Mas é claro que aquilo não era uma mania sua.

Harry já estava lá também e em seu lugar habitual. Encontrava-se de costas para mim vestindo um moletom azul-escuro e mexendo em seu celular. Provavelmente jogando um jogo viciante que tinha baixado há poucos dias atrás. Tinha chegado ao ponto em que me trocava para ficar naquele vício. Tinha vezes em que eu apenas ficava quietinho ao seu lado apenas mexendo em seus cachos até ele cansar daquele jogo tolo.

Shy Soul (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora