"Corre! Não pares de correr!" Repetia para mim mesma na esperança de o conseguir fazer. Tentava afastar os ramos que me cortavam a cada passo. As minhas pernas fraquejavam, o meu corpo tremia e implorava por descanso mas eu não podia parar. O meu coração palpitava a cada tiro dado e sentia a adrelania percorrer todo o meu corpo.
"Há mais alguma? Acho que vi uma fugir por aqui" Os homens gritavam entre si enquanto pisavam os ramos caídos no chão, o som dos tiros era cada vez mais alto, sabia que eles estavam perto, o pânico começava a apoderar-se de mim e o meu corpo pedia para parar. "Continua a correr, por favor." Pedi a mim mesma enquanto corria cada vez mais devagar devido ao cansaço.
- Ali, disparem! -Um dos homens gritou assim que me teve no seu campo de visão. - É só uma criança. -O outro ripostou. - Disparem! -Ele ordenou novamente e os militantes obedeceram focando as suas metralhadores em mim, um, dois tiros, não sei ao certo. Apenas levei a minha mão à zona abdominal e outra à perna tentando-me arrastar pela floresta, enquanto tentava ao máximo não gritar de dores, deitei-me no chão molhado e lamacento repleto de folhas e galhos. Animais, eu era apenas uma criança. Fechei os meus olhos assim que eles se aproximaram para verificar o feito.
- Inimigo abatido.- Um deles gritou com raiva, tratando-me como se fosse um animal, porque seriam eles tão desumanos? Abri sorrateiramente os olhos, ele encarava-me, o que me fez fechá-los novamente, todo o meu corpo tremia, e eu pedia por tudo para não chorar, algo molhado atingiu a minha cara, ele havia ter cuspido em mim, os seus passos tornavam-se cada vez mais distantes.
- Cruéis, a minha filha não! - A voz da minha mãe fez-se ecoar por toda a aldeia e eu, do cimo da floresta, conseguia ter a perfeita visão do cenário horrível à minha frente.
- Mãe, estou aqui...- Tentei gritar mas a minha voz encontrava-se comprimida no meu peito. - Mamã, vem buscar-me.- Pedi impotente e comecei a choramingar com medo, observei a figura fina da minha mãe, o vestido de pano castanho já sujo e cheio de sangue. Os terroristas apareceram na aldeia, e aí o meu coração congelou, eles não hesitaram em colocar uma bala no peito da minha mãe que gritava de dor, o meu pai logo correra em seu auxílio mas era tarde demais. Também este levara um tiro na cabeça fazendo-me gritar, eu não conseguia entender o que se estava a passar, o porquê de ato tão maldoso, eu não entendia. Eles levavam agora os corpos colocando-os num monte, algumas pessoas encontravam-se desmembradas, sangue estava por toda a parte, levei as mãos aos olhos de modo a não ter de presenciar aquele cenário terrificante. Tudo estava a acontecer tão depressa e eu não conseguia entender.
As lágrimas escorriam pela minha cara à velocidade da luz até que os soluços apareceram para completar o serviço, virei-me pressionando os sítios onde as balas estavam instaladas, eu ia morrer.
Não sentia raiva, talvez por não saber o seu significado, mas eu não odiava, pelo menos eu pensava isso, no entanto, naquele momento, eu só sentia uma coisa.
Dor.
Dor de ver toda a minha aldeia ser massacrada, e porquê? Apenas por maldade, egoísmo, interesses. Dor de ver os meus pais morrerem à minha frente, gritarem de dor, implorarem pela vida e eu nada poder fazer para auxiliá-los. Eu não merecia viver. Eu ia morrer, ali, deitada naquelas folhas imundas, assim como eu estava.
Eis que uma voz que me soara amigável sussurra ao meu ouvido "Estás bem, tudo ficará bem pequena Arianne."
A verdade é que eu nunca iria ficar bem.
O homem cuja identidade era-me desconhecida até à época elevou-me nos seus braços e aconchegou-me no seu peito, eu sentia que podia finalmente fechar os olhos, descansar.Isto passou-se à sensivelmente 9 anos.
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Humans
ActionArianne Mosseau é uma rapariga que vê o mundo com outros olhos. Tudo vai contra os seus princípios, para ela não passa tudo de uma mentira e Arianne está pronta a mudar a forma de pensar das pessoas mesmo que isso implique enfrentar medos e tragédia...