Ela sabia que sentir amor por alguém era algo difícil. Todos os outros antes dela também sabiam. Lidar com tantas sensações, emoções... era para pessoas fortes. Mas, ela não sabia como é difícil perceber que não ama mais a pessoa que costumava amar.
Mesmo depois de ter seu coração partido, não imaginava que poderia tê-lo remendado de volta. Pensava que sentiria aquela dor para sempre. O aperto desagradável ao lembrar que a pessoa amada não era sua. Uma vez havia lido em um texto perdido no tumblr:
"Hoje sentei e chorei. Não porque ainda te amo, nem porque não está mais comigo. Mas sim porque percebi que não te amo mais. E isso me atingiu de uma forma que só pode ser comparada a dor que senti quando você me deixou."
De primeiro, ela não entendeu isso. Não entendia como poderia doer perceber que esqueceu uma pessoa. Então, ela começou à esquecer a pessoa que amava. Foi aos poucos, óbvio. Achou que nunca chegaria ao ponto de perceber isso. Até chegar aqui, o caminho foi longo. Ela chorou, sofreu, se relacionou com outras pessoas, se afastou do amor e de qualquer coisa que pudesse fazê-la recordar. Ela até deu uns passos para trás. Chegou bem perto daqui, mas, escolheu voltar algumas casas. Por que? Exatamente para não sentir a dor que o texto descrevia. A dor que começa a sentir agora.
Não posso dizer que ela esteja sofrendo tanto quanto da vez em que sua amada a deixou. Claro que não. É impossível. Ela quis morrer quando isso aconteceu. Deitou em sua cama, chorou e gritou no travesseiro. Sua mãe perguntou o motivo, mas não podia dizer. Tudo que ela não precisava naquele momento era sua mãe brigando com ela por simplesmente ter amado fora dos padrões certos. Brigando com ela por ter amado uma garota. Se tivesse dito à mãe, o fato de ter seu coração quebrado não importaria nada.
Quando ela a deixou, pensou que nunca mais poderia dizer que estava "bem". Nunca vi uma pessoa sofrer tanto na vida por outra. Era muito desconfortável de se ver. Uma menina tão alegre no dia-à-dia, ter se transformado naquilo.
Ela até estava acima do peso. Mas, depois de ter sido deixada, mal conseguia comer. Perdeu peso, perdeu sorrisos, se perdeu...
Os dias foram se passando. Me lembro de vê-la chorando no banho. No fim do dia, escorava sua cabeça no travesseiro e sussurrava: "mais um dia sem ela". Era muito triste, pois, antes, ela costumava contar quantos dias faltavam para completarem mais um mês de relacionamento.
Só que, os dias foram passando. A dor também. Claro que era numa proporção meio injusta. Suponhamos que precisavam se passar um mês e alguns dias para 1% ou 3% de sentimento irem junto. Mas eles passaram. Até que ela chegou a este estágio.
Nesse momento, estou vendo ela exatamente do lugar que estou. Não está muito longe, mas, ainda não chegou. Tenho dúvidas se ela já é esperta o bastante. Não sei se ela negaria tê-la de volta. Mas o que eu sei, é que ela sabe o caminho que está tomando. E ao menos que algo gigantesco aconteça, não dará as costas para isso.
Não, eu não sou Deus e também não estou a vendo do céu. Sou só um narrador personagem. E estou me referindo a "superação" como um lugar abstrato. Com uma estradinha de tijolos amarelos, e ela pode ser a Doroty.
O problema é que eu já vi muita gente pegando o caminho certo pra cá. Muita gente andando na direção correta, tendo em mente que é isso que eles querem. Mas, sempre acontece algo que os fazem voltar à estaca zero, à merda. Seja um sorriso, um "bom dia" carinhoso, um "eu te amo" sem más intenções. No início, daqui de onde estou, eu os olhava voltar e ficava com muita raiva. Muita mesmo. Eles haviam matado tantos dragões e derrubado tantas barreiras pra chegar até aqui, pra simplesmente voltarem para o ponto de partida por tão pouco. Por quê?
Achei que nunca fosse entender isso. Mas, de tanto ver acontecer, descobri o motivo. Existe algo bem maior do que qualquer vontade, determinação ou desejo de superar. A esperança. Junto ao amor, ela simplesmente pode fazer com que uma pessoa desista de tudo que fez para ficar boa, e volte para o começo, correndo o risco de ter de percorrer de novo toda aquela estrada em busca de superação novamente. Enfrentar as mesmas barreiras, matar os mesmos dragões e bichos.
O bom é que, eles ficam mais preparados. Olhe ela agora. Já matou tanto aquele dragão azul que sabe que seu calcanhar de Aquiles fica debaixo do braço esquerdo. Já escalou tanto aquele muro que dessa vez, trouxe um martelo enorme para derrubá-lo.
E ela está quase chegando novamente. Consigo vê-la exatamente de onde estou, sem esticar meu pescoço ou ficar na ponta dos pés.
Mas, dessa vez eu não peço pra que ela chegue logo.
Peço para que nada a faça voltar atrás.Pois, é como dizem:
Realmente, a esperança é a última que morre.
E ela morreu.