Eu já estava mais do que cansado daquela discussão. A impressão que dava é que ela nunca me entendia. Eu falava e falava mas nunca chegava a lugar nenhum, não sabia o que falar, as minhas palavras não tinham sentido e eu me sentia abandonado.
-Danny, eu não agüento mais! Olha a situação que nós chegamos. Não quero mais isso, não quero mais brigar.
Luísa me olhou com olhos duros e eu rebati, sem dó alguma.
-Caralho, você não sabe o que fazer? Quem não sabe o que fazer sou eu!
Minha cabeça girava a milhão com toda aquela situação.
-Você percebeu pelo que estamos brigando, Dan? Estamos brigando por ciúme, de novo! –Ela também parecia cansada. Então, sentou-se no sofá.
-Lu... Tá complicado. Eu paro e penso, como se eu fizesse alguma outra coisa, mas você não ta mais fazendo sentido. Você não me tem como abrigo e não me oferece o seu, não tem como.
Ela me olhou e se levantou, indo até a janela. Chovia em Londres, e a água fazia um barulho alto batendo no vidro. Eu me aproximei dela e a ouvi suspirar, voltando a falar.
-Sabe... Há um tempo atrás, eu pensei que num momento como esse, de briga, eu saberia exatamente o que fazer, o que falar.. Mas não sei, Lu. Se você quer me deixar de fora da sua vida, eu posso tentar ser feliz lá fora. Sem você.
Luísa virou-se de frente e me fuzilou com olhar, e um arrepio me subiu pela espinha. Cruzou os braços em frente ao peito e começou.
-Olha, sabe por que eu to quase desistindo? Porque eu não to mais sentindo recíproca em nada, Danny! Porque você não vai ligar se eu deixar de te ligar. E falar de mim não faz sentido. Você vai sair pra outro lugar pra pôr alguém no meu lugar. E, Danny, viver assim, pra mim, não faz sentido!
Eu soltei o ar pela boca. Ela estava certa. A recíproca havia sumido. O casal apaixonado de três anos atrás estava acabando, por mais que eu detestasse admitir.
-Cara, eu não sei Luísa. Você sabe o que você faz. Faz o que você quiser. Fale o que quiser. Eu não me importo mais.
Eu me joguei no sofá, derrotado, e ouvi os saltos dela batendo pelo piso do apartamento na minha direção. Foi quando eu olhei pra cima e lá estava ela, de braços cruzados e expressão fechada, pronta pra despejar tudo em cima de mim.
-Ah, é pra eu falar, então? Agora? Tá... Olha só... Meu bem, meu bem. Você me fez tão mal. Será que você não vê, meu bem, que eu nunca dancei no Carnaval? Então, me deixa de fora, mas me deixa tentar. É, me deixa dançando, mas deixa eu dançando meu tango que é isso que eu sei dançar. Tudo muda, meu bem. E, também, qual a graça se não mudar?
Eu sabia exatamente de onde ela havia tirado essas palavras. A música que havíamos composto juntos há um tempo atrás nunca fez tanto sentido. Eu ia falar, mas ela continuou.
-Será que você não vê, meu bem, que todas as vezes que eu parti, eu nunca prometi voltar. E todas as vezes que eu fui, eu nunca prometi ficar.
Ela me lançou um último olhar, pegou seu casaco, sua bolsa e as chaves do seu carro. Beijou minha bochecha e, por fim, falou.
-Se VOCÊ quer me deixar de fora, eu posso tentar ser feliz lá fora, e é agora.
Luísa saiu do nosso apartamento, fechando a porta suavemente. Me levantei do velho sofá e fui até a janela, vendo seu carro arrancar rua chuvosa afora. Então, foi a minha vez de encostar no batente da janela e olhar pro sofá. Relembrei todas as coisas que vivemos nele: todas as canções que compusemos, todas as vezes em que fizemos amor, demos risada, choramos juntos, comemoramos vitórias, choramos derrotas, brigamos e juramos amor eterno. Olhei mais uma vez pra rua e sorri, decepcionado, amargo. Ela sempre tinha razão. Eu me sentia pesado. Pesado porque levei três anos pra perceber que um relacionamento com alguém que se ama vai muito além do sofá.
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Muito Além do Sofá
Fanfiction"Muito Além do Sofá" é uma shortfic criada em cima da música do Esteban Tavares de mesmo nome. Espero que gostem! :) Música: https://www.youtube.com/watch?v=xSpFWtyDRD0