Suzanna

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Introdução:

Não é o primeiro dia após o fim da guerra, nem o primeiro dia de algo, só quero ter a noção de quanto tempo eu estou andando.
Consegui esse caderno de rascunhos em um armazém na cidade que passamos anteriormente. E agora consegui um lápis em um mercado abandonado. Vou registrar aqui como vai o mundo após o apocalipse ao meu ponto de vista.

Dia 1.

Acordo com uma brisa fria batendo em meu rosto. O sol ainda não nasceu, mas já é possível ver alguns raios brilhando no horizonte. Solto a corda que me prende ao tronco da árvore e guardo meu saco de dormir. Começo a descer da árvore e já posso sentir o dia chegando.

Vou até a árvore ao lado e chamo por Scarlett, que já está se aprontando para descer também.

Ainda temos algumas opções de suprimentos, mas não vão durar mais que uma semana. Precisávamos achar alguma comunidade logo. Scarlett desce e seguimos nossa viagem.
Não nos falamos no caminho, apesar de finalmente estar acompanhada, me sentia mais sozinha ainda.

Quando chegamos a uma estrada, seguimos caminho por ela, fico de olho nas placas ao redor, esperando encontrar alguma dica de que estávamos perto, mas como sempre, não achei nada. Após horas intermináveis de caminhada, acabamos chegando em uma cidade aparentemente abandonada. Como a guerra foi quase somente química, as cidades continuaram intactas, o que havia sido destruído, foi obra de rebeldes e vândalos. Entramos em silêncio num supermercado, a maioria já havia sido saqueado, mas ainda tínhamos esperança. Procuramos por tudo, acabamos achando uma lata de sopa e um pacote com bolachas, que provavelmente já haviam passado da sua validade. Guardei na mochila e fomos procurar água, mas sem sucesso.

Quando saímos já estava quase tudo escuro. Então resolvemos ficar ali e continuar a viagem pela manhã, entramos de volta para o mercado e fechamos a porta com um cano de aço, não era super eficiente, mas caso alguém tentasse entrar, nos daria tempo para fugir pelos fundos. Fomos para a sala que antigamente era usada pelos vigias, havia uma tela e alguns equipamentos de segurança, aproveitei para procurar munição. Fechamos a porta e apagamos as lanternas, arrumei meu saco de dormir e nos deitamos.
Comi um pouco das bolachas antes de dormir e dividi com Scarlett.

Conheci Scarlett depois do surto. Estávamos no mesmo abrigo de refugiados e ambas perdemos nossos familiares no segundo ataque biológico que aconteceu em Fresno. A maioria dos sobreviventes não tinham mais que vinte anos. As primeiras doses de vacinas de prevenção foram distribuídas apenas para jovens com menos de 18 anos, alguns mais velhos deram a sorte e conseguiram vacinas extras, quem podia pagar por doses extras sobreviveu, mas quem não tinha, infelizmente, no segundo ataque não teve chance. O mundo ainda estava cheio de adultos e velhos, mas a grande maioria era de adolescentes e crianças, que se dessem sorte como nós duas, conseguiriam sobreviver fora de abrigos.
Dizem que quando você está em uma situação como essa, de apocalipse, você revela quem realmente é, se nasceu para o bem ou para o mal. Eu discordo. Na minha opinião, você apenas faz o que tem que fazer para sobreviver. Nessa situação, não importa se você é bom ou mau, e sim, o tamanho da sua vontade de continuar vivo. Ou de manter quem você ama vivo.
Eu sei que se meus pais tivessem sobrevivido, eles fariam de tudo para me proteger dos males que viriam depois da guerra, inclusive matar.

Eu não me culpo por nada que aconteceu, eu sei que se eu tivesse a oportunidade, faria de tudo para tentar mudar o passado. Mas com Scarlett era diferente, desde que chegamos no primeiro abrigo, ela se culpava pela morte de seus pais e de seus outros familiares, sempre achava que tinha algo mais a ser feito, e mesmo eu falando que não havia nada a ser feito, ela continuava se torturando com esse pensamento.

Por Suzanna Moore, para alguém em um futuro melhor.

Ps.: a bolacha tem gosto de morte.

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⏰ Última atualização: Nov 17, 2015 ⏰

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