hospital sucks ❀

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| Harry |

"Harry,meu filho, é o melhor para você!" Minha mãe grita e sinto suas mãos nas minhas mas eu rapidamente as tiro e bato em algo de vidro, um dos jarros dela provavelmente, decido não me mover para não pisar em algo pontudo já que estou sem o maldito bastão.

"Não é mãe, só por que eu vou completar vinte e um você já quer me despachar por que sou cego? Quer saber de uma coisa? Tudo bem! Eu não aquento mais ficar nessa casa de merda mesmo!" Sinto as mãos de minha mãe em meu braço, as mãos dela sempre foram muito pequenas.

Eu nasci assim, eu nunca soube o que é ver, parece até um sonho enxergar o mundo, eu só sinto e ouço, uma fração do que deveria acontecer. Nunca fui bem aceito na sociedade e por isso me tornei amargo, eu sei que sou amargo pelo simples fato de ouvir minha mãe chorando quase todas as noites por minha culpa mas eu não sinto remorso, a culpa é dela e do meu pai, eles me fizeram assim, essa aberração que sou hoje, sempre fui e sempre serei, já me acostumei em ouvir os cochichos das pessoas sobre mim mas eu não ligo, eu odeio minha vida de merda mesmo.

Forço minhas pernas a se moverem quando sinto uma fincada no meu pé. Ótimo.

"Meu bastão, onde aquela droga está?" Grito e começo a tentar tatear algo quando sinto o sofá macio entre meus dedos e trilho um caminho até encontrá-lo e então bato no chão para um caminho seguro até o sofá, me sento rapidamente e faço o caminho da minha perna com as mãos até chegar ao meu pé, sinto um líquido que deduzo ser sangue e então com cuidado encontro o caco de vidro. Ser cego é uma bosta.

"Os meu Deus Harry, vou te levar ao hospital agora." Ouço a voz de minha mãe a minha esquerda, ela está a menos de um metro de mim, deduzo. Sinto ela me ajudar a levantar. "Não coloque o pé esquerdo no chão, só se apoie em mim e pule com o direito, se quiser eu posso ir te guiando."

"Quero meu bastão." Falo rude e ela me dá imediatamente.

(...)

"Boa tarde." Ouço uma médica falar, pela distância do som ela está na minha frente.

"Graças a Deus, meu filho pisou em cacos de vidro a pouco tempo e não para de sangrar."

"Posso examiná-lo?" Ela pergunta para mim.

"Claro."

"Se sentir dor em algum lugar avise." Ela começa a tatear meu pé com suas luvas de látex.

"Ok, Harry, acredito que não entrou tão fundo assim, irei te dar uma anestesia local e vai ficar tudo bem."

"Obrigada doutora, eu vou lá fora pegar um café e já volto." Minha mãe fala a minha esquerda, alguns minutos se passam até que ouço a médica falar comigo.

"Então Harry, o que estava fazendo para isso ter acontecido? Não viu por onde andava?" Ótimo, já começou com as piadinhas.

"Na verdade eu não vi nada acho que pelo fato de eu ser cego!" Elevo minha voz e ela não me responde mas ouço sua respiração ofegante, ela deve estar surpresa como o caralho.

"Me desculpe, eu não..." Ela gagueja e ouço o barulho das luvas sendo retiradas de suas mãos.

"Eu não me importo." Falo rude. "Mãe?"

"Filho?" Ouço sua voz longe.

"Podemos ir embora?" Falo e logo ela me ajuda a sentar no que presumo ser uma cadeira de rodas.

"O que aconteceu?" Minha mãe pergunta baixo.

"A médica era uma filha da puta, só isso." Falo e passo minha mão por meus cabelos, pelo que minha mãe me falou eles são lisos na raiz mas fazem pequenos cachos no final, não sei se eu pago de ridículo por ter um cabelo assim mas sei que ele é macio então presumo que seja bom, sou magro e tenho tatuagens, ouvir delas num programa quando mais novo e quando completei dezoito comecei a fazer milhares delas que só sei a localização por que senti a dor na hora mas agora não sei bem onde algumas ficam por que não decorei mas sei que a minha predileta é o barco, ele é grande, eu sei por que as extremidades doeram por semanas e passando o dedo pelo plástico que cobria a tatuagem eu tinha noção do tamanho só que agora depois que eu comecei a levantar peso, minha mãe falou que minha massa muscular fez a tatuagem parecer menor que de acordo com ela antes cobria todo meu braço e agora cobre 2/3 dele.

"A sua viagem para Londres será agendada para quando seu pé melhorar, tudo bem?"

"Tanto faz." Eu só preciso agora deitar na minha cama e fazer o que eu faço de melhor, ler e escrever. Quando eu ainda era uma boa pessoa minha mãe falava comigo o quanto minha caligrafia era muito bonita para um cego.

Escrevo para mim, como eu acho que o mundo é de verdade, para mim o que eu mais me intriga são as cores, todos falam que são lindo, principalmente o céu e as paisagens naturais, eu já viajei para esses lugares mas o máximo que aconteceu foi em sentir a brisa ou o sol quente na minha cara.

Minha mãe falou que meus olhos são verdes esmeralda, como isso deve ser? A única coisa que sei é que não é escuro, ou seja, preto. Ironicamente a única cor que eu consigo enxergar.

Existem tantas coisas que eu quero descobrir, eu quero saber como eu sou, conhecer eu mesmo através da visão, posso ter noções básicas de como sou, até já desenhei para meu psicólogo mais novo como eu achei que eu era e ele falou que eu era quase aquilo é me parabenizou por conseguir fazer aquilo.

Uma coisa que gosto de fazer muito é cantar, a visão não serve de nada, só precisamos da voz o que é bom por que nessa área não somos discriminados.

Eu espero de tudo em Londres, só não espero morrer congelado por que eu sei que aquele lugar congela até sua alma. Pena que a minha já está congelada.

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Oi bando de gente linda! Espero que gostem dessa fanfic e espero de coração que vocês comentem e favoritem, por favor, nunca se esqueçam de fazer isso por que é importante para saber se vocês estão gostando ou não!

Be safe. J

Blind Love | l.s. | pt brOnde histórias criam vida. Descubra agora