Capítulo 1: Greg

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 O vento cuida da limpeza da minha pelagem enquanto corro pela floresta iluminada pelo sol. O verão me traz boas lembranças da minha infância, quando eu não tinha tantas responsabilidades. A bruxa disse que eu sou o próximo Alfa quando tinha oito anos, e dali para frente minha vida é treinar e esperar minha companheira dar as caras. É meio complicado explicar o sistema de relacionamentos dos lobos. Mas, basicamente, quando nascemos, já temos nossos parceiros certos mesmo que eles ainda não tenham nascido. É assim com qualquer raça não humana.

 Paro bruscamente quando sinto cheiro de sangue humano. Vou rapidamente até a fonte do barulho e vejo um corpo masculino, sem roupas e sem sangue. De relance vejo uma vampira vindo em direção ao meu pescoço e uso apenas minhas garras para causar-lhe alguns arranhões profundos no rosto. Ela está caçando no meu território e sabe que é proibido. Ela corre até sair da reserva e eu vou ao encontro do Alfa, isso precisa ser relatado.

 Saio de minha forma animal e entro na suntuosa casa, tenho livre acesso à sala do nosso líder Charles. Bato na porta e quando escuto a resposta entro.


-Alfa, uma vampira. No nosso território e ainda por cima em plena luz do dia.

-Acalme-se. Temos dois pontos a ser discutido, a invasão é o de menos. Como assim em plena luz do dia? A pele dela estava em contato com o sol?

-Sim, Alfa, eu tenho certeza.

-Era uma vampira mesmo? Como você sabe?

-Até onde me lembro nós não temos caninos avantajados na forma humana e nem nos alimentamos de apenas sangue humano.

-Puta que pariu. Ela não estava cobrindo a pele?

-NÃO, CHARLES, MAS QUE PORRA!- Bato na mesa declarando a minha raiva. Charles não é tão impulsivo quanto eu, ele é o lobo mais controlado da nossa matilha.- Eu sei que era uma vampira.

-Chame Kendra.



 Kendra é a bruxa aliada à nossa matilha, ela é a anciã e conselheira. Com certeza saberá o que fazer ou pelo menos responder.


-Charles, meu doce.- Cumprimenta com seu amor.

-Kendra, precisamos mais uma vez de você. Vampiros no sol. O que sabe sobre isso?

-Sei que alguma bruxa traiu sua própria raça. Isso não 'e trabalho deles, é magia negra e não pode ser desfeita, apenas podemos combater.

-Gregório, você tem ideia do motivo da visita daquela vampira?

-Não, mas posso descobrir com muito prazer se você me liberar essa noite para ir no território deles investigar.

-Leve dois homens com você. Desconfio que aqueles idiota tenham abusado dos humanos que tinham em seu território novamente.

-Obrigado, Alfa, você não se arrepend- Antes de ter a chance de terminar de falar, Kendra entrou em transe e a luz azul que emanava de seus olhos começou a mostrar uma vampira. E a voz que saía da boca da bruxa disse:

-Essa é a última pessoa que Gregório verá antes de morrer.


 Dito isso, Kendra voltou ao normal

-O que significa isso, Kendra?

-Que você vai encontrar Clarissa, a filha mais nova dos reis vampiros.- Charles corta- E provavelmente ela vai te matar.

-Querido, não se preocupe. A voz nunca erra, mas não diz nada com exatidão.- Diz isso e deixa a sala.


 Saio sem mesmo falar com Charles e chamo Bruno e Caio para "caçar" essa noite


-Caio, temos uma missão.

-Autorizada pelo Alfa, Greg?- Bruno, o mais sensato desse grupo intervém.

-Sim, Bruno, autorizada pelo Alfa.


 Passamos o resto da tarde planejando a investigação sorrateira que faríamos à noite. O movimento fica mais intenso no território deles quando a noite cai, mas com as roupas certas e o cheiro de sangue humano conseguimos nos misturar graças aos olhos vermelhos iguais aos dos vampiros. Nós só matamos humanos quando é necessário. Conseguimos num recorde da matilha espalhar o cheiro de um único humano para três homens grandes que somos.

 Quando estávamos chegando perto do território minhas pernas travaram, me derrubando pesadamente no chão causando um estrondo e senti meu peito doer como o inferno. Nunca sofri de problemas no coração, mas acho que um infarto doeria menos. A dor era dilacerante e tentei rasgar meu peito para aliviar o que estava me consumindo por dentro. Os caras ficaram preocupados e uivaram para o Alfa me fazer voltar para a forma humana, me levando de volta para a reserva e seguidamente para a enfermaria. Ao entrar na reserva a dor foi diminuindo rápido e logo parou. Chamaram Kendra e explicaram o ocorrido, ela logo abriu um sorriso doce e acariciando meu rosto falou:


-Você finalmente achou sua companheira... E eu desmaiei.



Olhos de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora