Capítulo 03

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Refez os passos até voltar ao lugar em que deixara Taiga, que continuava sentado no banco. Recebeu do outro um franzir de sobrancelhas desconfiado. A postura não desanimou Daiki, ele próprio desconfiaria da atitude se estivesse no lugar dele.

Não era bom em meneios e rodeios. Foi direto ao ponto, como lhe era característico.

- Vem comigo, Kagami. Eu vou salvar o seu traseiro.

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A frase não teve o exato efeito que Daiki esperava, algo entre forte protesto e óbvia resistência. Ao invés disso, foi mirado com certa desconfiança.

- O quê?

- Vem ficar na minha casa esses três semestres que faltam. É melhor do que continuar na rua.

- Por que? - Taiga balançou a cabeça. No fundo, já esperava alguma coisa nesse sentido. Volta e meia recebia olhares compassivos por sua situação. Estava acostumado, ainda que fosse doloroso - Obrigado pela oferta, mas posso cuidar disso sozinho.

- Claro, está fazendo um ótimo trabalho - Daiki resmungou - Sei o que tá passando pela sua cabeça, Bakagami. Não vai ser incomodo algum.

-... - Taiga não pareceu convencido - Agora ele lê mentes.

- Vai me ajudar com as despesas também - usou o argumento para tentar convencer o outro.

Mas a frase teve efeito contrário, pois Kagami ficou ainda mais sério.

- Não tenho como ajudar, Aomine. Se tivesse como, não estaria desse jeito.

- Caralho, não tô falando de dinheiro, Bakagami - o outro girou os olhos. Ele compreendera tudo errado - Você disse que ganha a janta. Podemos dividir.

Taiga observou atentamente o ex-rival.

- E seus pais? - não entendeu porque levar a janta seria assim tão útil.

- Tô morando sozinho. O lugar é pequeno, mas cabe mais um lá - pensou no quarto sem uso - Meu pai banca o aluguel e me dá uma grana pra ajudar com a faculdade, o combustível, essas coisas.

A explicação fez sentido. Mas ainda assim Taiga não parecia convencido. Lembrava-se dos poucos encontros entre ambos e sempre saíra faíscas. Tinham personalidades parecidas, e, ao mesmo tempo, incrivelmente diferentes. Uma convivência não seria pacifica.

- Aomine, agradeço, mas acho que isso não vai dar certo.

Daiki respirou fundo. Acabou sentando-se no banco, um tanto cansado de olhar o outro de cima. Sempre haviam se mirado em pé de igualdade.

- Isso vai dar tão certo quanto você quiser que dê - acabou coçando a orelha com o dedo mindinho - Não estou fazendo isso apenas por pena. Eu não levaria um desconhecido pra casa, mas você não é um desconhecido. Se é orgulhoso demais para aceitar minha oferta não posso fazer nada, mas não vou ficar aqui implorando para te convencer.

- Que sermão! - Taiga ficou surpreso. O que ouvira não combinava em nada com a imagem que tinha de Daiki, aquele cara orgulhoso e arrogante, cujo lema era "apenas eu posso me vencer". De onde saíra a inesperada maturidade?

- Baka.

- Então você mora sozinho? E tá sobrevivendo? - ele riu ao pensar em Aomine levando uma verdadeira vida de adulto.

- Sobrevivo muito bem, Bakagami.

O silêncio caiu sobre eles mais uma vez. Daiki podia ver a luta interna travar-se dentro do outro rapaz. Não o julgava, no fim das contas. Sua oferta era a mais inesperada possível. Nunca foram amigos ou íntimos. Chegar oferecendo um teto assim, do nada? Quem faria isso? Apenas alguém próximo o bastante.

Doce Outono (AoKaga)Onde histórias criam vida. Descubra agora