Dark Paradise, Lana del Rey.

59 11 5
                                    


                                                                                                          1

Seu corpo estava parado em frente à janela entreaberta, observando o céu nublado e sem estrelas. O vento agredia o corpo pálido e magro da menina, e a qualquer momento o vento poderia carrega-la. Ela almejava tanto por isso.

Vinicius, que se mantinha firme e forte no canto escuro do quarto, observava os filetes de luz lunar iluminarem o corpo de sua amiga. Nas mãos, ele tinha uma pequena chave que reluzia no escuro. Aquela chave abria o pequeno armário de álcool da casa, que suspostamente estava sendo arrombado nos últimos meses pelo o pai. Mas o pai não bebia, então foi a mãe. E por ultimo, a filha. A filha que bebia para esquecer seus problemas e bebia para encontra-lo.

Ele, então, aproximou-se. Tocou no ombro nu da amiga e perguntou-lhe no ouvido, baixo.

- Você precisa ser forte, Anna. Todos querem te ver bem, por favor, venha conosco. – pediu mais uma vez, e, apesar de saber qual seria a resposta, estava esperançoso.

- Não vou, Vini. Eu quero ficar aqui e relembra-lo, me deixe só. Por favor. – sua voz saiu falha e baixíssima, como se estivesse rouca de tanto gritar, o que era o caso.

- Anna... – iria pedir-lhe mais uma vez, mas surpreendeu-se ao ver a menina usando suas forças inexistentes com o objetivo de tira-lo de seu quarto.

Quando a porta bateu em frente o seu rosto, Vinicius suspirou forte e trancou novamente a porta.

Anna, que voltou ao seu posto, abriu totalmente as janelas, com a finalidade de olhar Vinicius dobrar a esquina. Quando ele o fez, Anna correu para seu guarda-roupa e puxou uma jaqueta de couro, vestindo-a e voltando novamente para frente da janela. Primeiro, colocou uma perna no telhado, olhou em volta para finalmente sair do quarto sufocante. Era tão simples e rápido que logo estava no chão, comparando que ela estava no segundo andar.

Seus pés criaram vida e a fizeram correr em direção contrária da que Vinicius foi, ela estava indo em direção ao litoral. Anna sempre odiou a praia, mas seus pés sempre estavam na areia úmida. Andou até as margens, para enfim, desabar.

Caída ao chão, à água tocava-a e a morte abraçava-a lentamente. Sentia-se pesada, mas sentia-se em paz. O rosto decorado nas estrelas a fazia sorrir. Abraçou o próprio corpo e ouviu a voz terna e sedosa sussurrar-lhe que tudo ficaria bem. Que quando acordasse ela iria reencontra-lo.

Enquanto seus olhos estavam prestes e fechar, ela teve relapsos momentâneos. Coisas como seus pais chorando por ela, pedindo para ela ir a uma clínica. Curar-se e voltar a ser a filha deles; seus amigos perguntando a ela os porquês, e ela respondendo com seus sorrisos; seus sonhos esperançosos, ele tinha que estar lá. Ela vivia em preocupação. Ele poderia não estar lá, ele poderia não cantar para ela. Eles poderiam não se amar.

Estava cansada, seu corpo e sua alma demonstravam isso.

Seu sorriso estava mais esplêndido. Cada dia mais reluzente, mais alucinógeno. Funcionava como uma droga para ela, na qual ela era realmente feliz.

Tentava tocar o céu, enquanto o véu negro do paraíso sombrio envolvia e cantava uma canção de ninar.

I don't wanna wake up from this tonight.


SENSE THE TUNE.Onde histórias criam vida. Descubra agora