011 - Uma súbita questão de gosto

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De surpresa, Thed apareceu no dia seguinte ao colégio. De surpresa mesmo, porque Mary não o esperava.

Ela jurava de pés juntos.

Suas preces funcionaram, já não ficava esperando impacientemente por ele. Nada disso. Deste mal não sofria mais! Entretanto, não podia exclamar tanto sucesso com relação aos seus pensamentos em relação a ele... Mas tampouco podia ser tão ambiciosa. Um passo de cada vez.

Teve toda a preocupação em fazer um suspiro de surpresa quando o avistou em um corredor conversando com a Madre e uma garotinha. Eles não a notaram, pareciam estar muito entretidos em uma animada conversa.

Era engraçado ver Thed animado com alguma coisa, não era típico dele.

- Espero que não tenha problema ela ter vindo comigo.

- Oh, mas é claro que não! Seu avô uma vez havia me dito como ela era bonita, me lembro muito bem... – foi fácil para Mary deduzir que falavam da amada (ou não) esposa de Thed. – E, além disso – continuou a Madre. – A Noviça Mary me falou que estavam fazendo um ótimo trabalho.

- A Noviça Mary é realmente uma pessoa muito amável e...

- Sem mais elogios, porque por falar na noviça, aí vem ela.

Droga, Mary fora descoberta espiando abertamente a conversa de terceiros. O mínimo que podia fazer era agir naturalmente.

- Bom dia a todos! Um lindo dia, não acham? Lindo, lindíssimo! Não é mesmo? – disse Mary radiante, como se não estivesse morrendo de curiosidade por saber o que Thed ia dizer sobre ela.

- Papai, essa é a Noviça Mary que o senhor me contou? – perguntou Margot. Não só se envolvendo no meio da conversa dos adultos, como também revelando a todos os adultos em questão que ele tinha contado a ela a história da Noviça Mary.

E ele não tinha como negar que, no final das contas, terminou por fazer da Noviça Mary uma eficiente história de dormir para a sua filha.

- É a própria, filha. – disse Thed sem poder deixar de olhar para o rosto aterrorizado de Mary.

- Filha?! – perguntou Mary com um espanto tão grande, mesmo que a maior parte dela não conseguisse acreditar no que tinha acabado de ouvir.

- Você não conhecia Margot? – perguntou a Madre.

E antes que Mary tivesse a oportunidade de dar a resposta malvada que tinha a intenção de dar, fechou a boca com força e deixou para Thed a oportunidade de se explicar.

- Noviça Mary, te apresento minha filha, Margot – disse ele indicando a garotinha que mal passava da cintura dela, de tão pequena que era.

O olhar de Mary era facilmente interpretado como puro pânico, por um momento, Thed achou que ela fosse sair dali correndo e gritando, mas ao virar para sua filha, ela deu o mais bonitos dos sorrisos.

- Olá Margot, quantos anos você tem? – disse ela se abaixando para ficar da altura da menina.

Margot estendeu quatro dedinhos gorduchos na frente do rosto, e Mary abriu a boca como se estivesse surpresa com a revelação, o que foi motivo suficiente para a menina soltar uma sonora gargalhada.

Se o objetivo de Thed era fazer sua filha sorrir, tinha conseguido trazê-la para o lugar certo, ou, melhor dizendo, para a pessoa certa.

- Mas você tem olhos muito bonitos para uma menininha de quatro anos! – enquanto examinava a íris azul cristalina da menina e segurava-lhe as mãozinhas.

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