Na Aldeia dos Pinheiros, havia uma cachorra chamada Luna. Era pequena, branca e peluda. Ainda bem que era peluda, pois seus pelos a protegiam do inverno rigoroso da Aldeia e ela sempre ficava quentinha, até mais que os humanos vestidos com roupas grossas de couro e lã.
Certa noite, Luna estava deitada confortavelmente num cantinho da casa de seus donos. Acabara de receber sua comida favorita – um pedação de bife frio – e estava completamente satisfeita. Preparava-se para dormir mais uma vez naquele dia quando ouviu um barulho.
Parecia um rugido ou seria a risada de algum animal? Luna não saberia dizer. Precisava investigar, mas seus instintos caninos diziam que o barulho veio de muito longe, há quilômetros de distância da aldeia.
Imediatamente, Luna ergueu suas orelhinhas e prestou atenção. Ouviu o barulho esquisito de novo. Ela olhou ao redor da casa. Sua dona Sofia, uma menina de cinco anos de idade, estava rindo comendo as tortas da vovó Lucy. Ninguém deixava Luna comer doces. Diziam para ela que fazia mal.
Aproveitando que estavam distraídas, Luna se moveu sem pressa em direção a porta. Ela sabia como abri-la, pois já saíra a noite algumas vezes. Se ergueu com as patas de traseiras e deu um breve empurrão. Assim que a fresta se abriu, Luna saiu da casa, pisando no chão cheio de neve. Como a neve era macia e as patinhas almofadadas dela também, não fez nenhum barulho.
Nenhum dos aldeões prestou atenção em Luna. Estavam todos ocupados com seus trabalhos. Alguns estavam reunindo cestas com peixes – argh, ela odiava peixes –, outros acendiam fogueiras para iluminar a aldeia...
Sorrateiramente, a cadelinha se aproximou da cerca proibida. Era proibida porque seus donos não a deixavam pular. Sempre que fazia isso, ralhavam. Mas esta noite era diferente. Afinal, eles não estavam olhando. Mesmo assim, Luna olhou para trás, como se quisesse avisar aos donos que voltaria logo. Era apenas um passeio.
Pulou a cerca.
Não havia nada de interessante para os cachorros na floresta. Só havia pinheiros, um monte deles e... Neve! Era um lugar muito branco, tão branco que quase cegavam os olhos sensíveis de Luna. Ela começou a farejar, em busca de um cheiro diferente e aguçou os ouvidos para escutar novamente o barulho estranho.
Passou-se muito tempo e ela não conseguiu ver ou ouvir nada, exceto o barulho dos passarinhos que faziam algazarra nos ninhos e de um ou dois uivos distantes, de cachorros tristes procurando pelos donos. Luna captou a mensagem deles, mas não respondeu com seu uivo. No entanto, entendera o recado. A floresta não era lugar para cachorros que tinham donos. Logo, logo, ela se perderia ou alguma coisa perigosa aconteceria.
Segundos depois de ter decidido voltar, Luna ouviu novamente o barulho esquisito. Então, sem pensar duas vezes, correu na direção dele. Durante o caminho, só encontrou árvores e troncos caídos. Havia também muitos gravetos, mas não tinham graça quando seus donos não o jogavam para ela. O barulho foi ouvido mais uma vez, e mais outra. A cada pisada, Luna ficava mais curiosa para saber o que era aquilo.
Por fim, ela chegou numa região mais limpa da floresta, sem árvores e sem qualquer tipo de sujeira, embora a neve se acumulasse criando um belo tapete. A sua frente, havia uma caverna. Era de dentro que vinha o som e ficava mais alto porque ecoava pelas paredes, deixando-o mais esquisito do que era.
Luna caminhou até lá, sentindo pela primeira vez o cheiro. Parecia o fedor de roupa molhada. Mas Luna não se importava com isso, afinal alguns cães eram tão fedidos quanto. Ela também não tinha um cheirinho tão bom assim, mas pelo menos achava que os humanos não suportariam o novo cheiro.
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Luna
Short StoryUma cachorrinha comum faz amizade com uma criatura que os humanos temem e coloca em perigo a Aldeia onde vivem. Mas afinal, quem será o verdadeiro culpado pelas consequências que virão? Luna é o primeiro conto/capitulo do livro Manual do Yeti.