Eu sempre quis viver um amor à primeira vista.
Me movia pela ideia romântica de que num dia de sol, eu o veria em um campo verde, e caminharíamos um em direção ao outro enquanto meu coração daria pulos de felicidade.
Ou... Em um dia chuvoso, eu escorregaria no salto alto e ele, solicitamente, me impediria de cair. E ao olhar para cima eu encontraria seus magníficos olhos verdes e encontraria o amor.
Fosse como fosse, eu sempre vivi essa esperança do amor à primeira vista, que te arrebata no primeiro olhar.
Eu tinha quatro anos, quando achei que havia encontrado. Sim, eu comecei bem cedo nessa aventura do amor.
Meus avós gostavam de me levar para brincar na pracinha perto de casa. Lá havia balanços, escorrega e uma incrível e exuberante caixa de areia. A caixa de areia dos meus sonhos!
Eu adorava brincar lá.
E adorava sorvete.
E, como bons avós de uma menina feliz, eles inventaram o maior prazer que uma criança da minha idade poderia ter: tomar sorvete de chocolate dentro da caixa de areia.
Naquele dia, porém, a caixa de areia estava digamos que... Lotada. De crianças bagunceiras. Mas nem eu, nem meus avós, hesitamos em fazer valer o meu maior prazer.
Eu estava sentada no meio da caixa de areia lotada, me deliciando com meu sorvete de chocolate levemente temperado de areia quando... Um menino um pouco maior que eu resolveu esbarrar em mim e... Derrubar minha bola inteira de sorvete na areia.
Imediatamente, fiquei muito irritada e estava prestes a abrir o berreiro. Mas ele foi mais rápido.
Com cuidado, ele pegou sua pazinha e catou a bola de sorvete para mim, a equilibrando sobre a casquinha que eu ainda segurava. E depois, com os dedos mesmo, limpou um pouquinho da areia que ficara grudada no sorvete.
Por fim, ele sorriu para mim.
Naquele dia, eu realmente acreditei que havia encontrado o amor da minha vida... À primeira vista. E pensei que poderíamos passar a vida inteira sendo os melhores amigos de tomar sorvete na caixa de areia.
Mas não foi assim.
Aquele menino, que se chamava Júlio, era paulista, e seus avós, como todos bons avós, estavam viajando com ele para o Rio de Janeiro. Em uma semana, Júlio voltaria para São Paulo e eu ficaria sem meu amor à primeira vista para tomar sorvete derretido com areia comigo.
Mas tudo bem. Eu só tinha quatro anos mesmo. Teria uma vida inteira pela frente para encontrar um amor à primeira vista.
A minha segunda experiência foi no show dos Backstreet Boys.
Eu tinha treze anos e estava louca pelo dia em que encontraria o meu Príncipe Encantado e seria finalmente beijada pela primeira vez.
Ele apareceu meio longe, um pouco atrás de onde eu e minhas amigas estávamos, e nossos olhos se encontraram no meio de toda aquela multidão. Ele veio para perto da gente e eu fiquei com medo que ouvisse meu coração bater mais alto que a música.
Tentei me desvencilhar das minhas amigas, que queriam que eu as acompanhasse e cantasse freneticamente I Want It That Way, quando ele tocou no meu ombro.
-Você tem namorado? - me perguntou.
Ele era magro e usava uma boina cinza que ficava bem legal naquele cabelo comprido. Ele tinha quinze anos e parecia perfeito para mim.
-Não. - respondi e dei um sorriso.
Ele sorriu de volta e... Como deveria ser em um amor à primeira vista, ele segurou o meu rosto e me deu um beijo.
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Quando Eu Vi o Amor
Short StoryPara ver o amor, é preciso prestar atenção. Ele está por todo canto e por todo lugar, mas, na maioria das vezes, a nossa obssessão por ele nos impede de perceber. Este conto é um convite, simples e despretensioso. Abra-se para o amor que está aqui d...