Aproveite o Dia

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Ele a segurava pela cintura, bem forte, como se temesse que ela fugisse ou desaparecesse. Estava, a poucos centímetros um do outro, separados por algumas grossas camadas de roupa. O frio dessa noite não pareca natural, mas isso não importava. Ele estava com ela, a garota que ele amava. Tão pequena, tão fofa, tremendo de frio, agarrada a seu pescoço. "Não posso perdê-la" - ele pensou.

Ela estava na ponta dos pés, só assim para conseguir entrelaçar os braços em volta do pescoço dele. Um sorriso estava estampado no rosto da garota enquanto ela sentia o cheiro dele. Aquele perfume que só ele tinha, aquele que trazia segurança e conforto. O melhor lugar para se estar era ali, com a cabeça no ombro dele, sentindo seu cheiro e o calor do pescoço dele contra o seu rosto frio. Ela estava feliz, e ele era o motivo.

- Eu te amo - ele sussurrou. - Eu te amo para sempre.

-Eu também. - ela respondeu secamente. Apesar de tudo, não se sentia pronta para dizer aquelas três palavras. Eram importantes demais para serem usadas a todo o momento e não queria dizê-las para qualquer um. Não que ele fosse qualquer um, é que o namoro começara a poucos meses. Ele a entendia, sabia os motivos dela e isso não mudava os sentimentos dele. Então ela o beijou delicadamente no pescoço, como costumava fazer sempre. 

O celular dele tocou, alertando-o que já era hora da despedida, mas ele não queria abandonar soltá-la, não queria abandonar aquele calor, não queria abandonar aquele cheiro. Mas ela tinha que ir senão teria problemas em casa.Ah, se ao menos ele não tivesse soltado ela. Se ao menos tivesse a segurado por mais dois minutos...Depois do doce beijo de despedida, ela se foi. Sem nem mesmo imaginar que aquele seria o último beijo. A menina voltava para a casa pelo mesmo caminho de sempre, não tinha por que se preocupar... Ou tinha?

Caminhou por alguns minutos até que uma sensação invadiu seu corpo. Sentia que estava sendo perseguida. Por impulso olhou para trás, mas não viu nada. O silêncio absoluto apenas a deixava mais nervosa.Apertou o passo para chegar rápido em casa, se o mantesse, em menos de vinte minutos estaria em casa. 

Nesse momento ela ouviu algo que a deixou paralisada. Era um grito de dor e desespero, sem dúvidas de uma mulher, e não estava muito longe dali.Tentou se mover, mas não conseguiu. Ouviu outro grito, dessa vez mais próximo a ela e misturado com som de alguém correndo. Ela virou para o lado de onde pensou que o som vinha. Mas não havia nada lá. Um nó se formou em sua garganta. Engolindo em seco ela virou novamente o rosto e quase caiu com o que viu.

Havia uma mulher a sua frente, ajoelhada, o corpo coberto de sangue que escorria pelo topo da cabeça. Os cabelos estavam molhados de sangue.

-Por favor. Fuja. Ele está vindo. - Depois de dizer essa palavras, ela vomitou sangue na calça jeans da menina, que continuava parada, sem entender o que estava acontecendo.

 -Está tentando fugir, vadia? - um homem alto surgiu atrás da mulher, ele usava uma máscara de palhaço deformada, o que mais se destacava era o sorriso psicopata. - Vou matar as duas!

A risada do Palhaço ecoou pela rua deserta se misturando com a tosse repentina da mulher que estava se curvando sobre seu corpo com a mão na barriga. Aquilo irritou o palhaço. Com um rápido movimento ele chutou a sua cabeça, fazendo com ela caísse deitada. Em questão de segundo, ele a prendeu no chão com uma das mão enquanto a outra tateava a própria cintura. De lá ele tirou uma faca de açougueiro e a posicionou sobre o pescoço da mulher.

-Cansei de brincar. - Então ele pressionou a faca. Nesse momento a menina fechou os olhos ao menos para fugir da imagem, mas os gritos da mulher permaceram ali. Ela podia sentir a dor através dos gritos. Em poucos segundo os gritos cessaram, a única coisa que se podia ouvir era a respiração do Palhaço. Ela abriu os olhos lentamente. Desejando que ele tivesse ido embora ou que aquilo fosse apenas um pesadelo. Mas, se fosse um pesadelo, aquele não era o fim.

 O Palhaço estava a sua frente, estava ali a poucos centímetros do seu rosto. Sorrindo. Os dentes vermelhos e a boca pingando sangue. Ela não conseguia desviar os olhos daquela máscara. Mas espera! Aquilo não era máscara, não era maquiagem... AQUILO ERA REAL. Era real.A tortura começou em seguida. Primeiro ele a espancou, com tudo o que ela tinha direito. Socos, chutes, mordidas, tapas, arranhões. Ela se mantinha calada, mesmo que a dor fosse insuportável.

-Grita, vadia! - O Palhaço disse. - Chora. Eu vou matar você.

 Ela se mantinha calada e nem mesmo sabia o motivo.Ela estava de joelhos. Esperando por mais alguns tapas ou socos. Mas viu o Palhaço pegar a faca. Ela aproximou a lâmina comprida do rosto dela.

 - Isso deve te fazer gritar.

A lâmina cortou passou pelo seu rosto, cortando profundamente, causando uma dor insuportável, mas a menina se limitou a fechar os olhos. O Palhaço chegou ao nível máximo de raiva:

-VOCÊ É LOUCA? - Ele gritou agarrando os cabelos da menina. - Louca! - ele disse arremessando sua cabeça ao chão.Ela perdeu os sentidos. Não via nada, não ouvia nada, não sentia mais o cheiro nauseante de sangue. Ela sentiu os cabelos sendo puxados novamente e novamente a sua cabeça foi lançada ao chão. Abaixo de sua cabeça, uma poça de sangue se formava.

 Pouco tempo depois, o Palhaço desistiu e foi embora. Mas do que adiantava? Mesmo respirando, ela estava morta.Perdera muito sangue e o pouco que restava em seu corpo já estava se esvaindo. A morte estava do seu lado, esperando para levá-la.Nem sabia se sentia dor ou não. Mas a sua morta era lenta e fria e toda sua vida começou a passar pela sua cabeça. Ela nunca teve uma vida boa, mas os últimos dias tinham sido abençoados. Conhecera seu namorado a poucos meses e sem dúvida tudo mudou. E pensar que agora ela não poderia mais tocá-lo, não poderia mais beijá-lo...

 Lembrou-se do celular no bolso e com dificuldade discou o número dele.

-Alô? - o garoto atendeu, a voz mostrando grande preocupação. - Está tudo bem? Por que está me ligando?

- EU TE AMO. - Ela gritou com todas as forças. Ele fez silêncio como se soubesse que tinha algo errado.

 -Eu também amo você. Por que está chorando?

- Eu te amo.- Ela sussurrou, em seguida sentiu uma forte dor na cabeça e no estômago. Um aviso de que sua hora chegara.

 - Me perdoa.- Amor? - ele disse, quase que gritando. - Onde você está? Amor? AMOR?




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⏰ Última atualização: Dec 08, 2015 ⏰

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