Não destruas

Capítulo 1 - Nostalgia

– Oh, é tão grande! – Eu era obrigada a dizer. – Olha, papai, o que é aquilo?

– Aquilo também é um automóvel, minha filha, só que maior. – E eu precisava fazer uma expressão de pateta toda vez que meu pai respondia

Todos os adultos nesse automóvel me consideram pateta, mas eu sei da história. Sim, da história. É essa palavra que eles usam para falar sobre algo do passado.

Posso dizer que aconteceu algo ruim com o mundo em que vivemos. As pessoas não sabiam mais como conviver umas com as outras e foi assim que começou as guerras. Guerras em toda a parte, até os países que eram pacíficos começaram a guerrilhar e quem não queria entrar na guerra era induzido por "forças maiores" e entravam, até hoje nunca descobri o que eram essas forças. No fim, o mundo inteiro estava em guerra. Mas dessa vez não haviam aliados, haviam países que tinham um inimigo em comum e se ajudavam e depois começam a guerrilhar entre si. E foi assim que a população mundial foi se acabado. E foi assim que acabaram com o problema da superpopulação mundial.

Resumindo, deveríamos estar todos mortos.

Mas não estamos. As pessoas que sobraram deveriam viver de uma forma diferente agora, um alguém chamado de Grande X tomou o poder para si dizendo que precisamos de alguém que nos controlasse para que a paz pudesse reinar, vivemos em uma espécie de monarquia agora. Sim, eu usei a palavra monarquia.

E foi assim, depois de tantas guerras que o planeta Terra foi divido em dois pontos, os que eu costumo chamar "os do lado de lá e os do lado de cá" eu faço parte do lado de cá, do lado do Grande X, papai diz que a vida é melhor aqui e continuaremos sobrevivendo, mas mesmo com 7 anos de idade eu quero muito ir para o lado de lá. Lembro da última vez que vi minha avó, antes de ela atingir a idade máxima para se viver, Math diz que as pessoas devem respirar mais oxigênio quando ficam mais velhas e por isso são mandadas embora, mas eu não sei o que ele quer dizer com isso, ela me disse que do lado de lá tem uma coisa chamada árvore, bom, eu sei o que é árvore, mas nunca vi uma realmente, só vejo as que foram criadas pelos melhores editores do X, ela me disse que lá tem uma coisa chamada livro, aqui também tem, mas é algo que chamamos de TL-book, os livros eram feitos de um material tóxico, um tal de papel e por isso tivemos que mudar para os TL-books, mas a vovó dizia que existiam centenas e milhares e milhões dele, mas nunca entendi o motivo de criar algo que iria te matar.

Meu pai acredita que eu nunca saí de casa, mas mal ele sabe que toda vez que ele sai eu me escondo na parte de trás do automóvel e sempre caminho pela cidade, mas eu sou apenas uma criança, uma criança sozinha e sem passe, preciso me esconder, então minha exploração é 90% a parte de trás do automóvel. Em uma dessas vezes meu pai foi para um lugar que tinha um letreiro enorme algo com as letras O R F A N A T O, mas na época eu não sabia ler mais do que duas letras juntas e até hoje ainda não fiz questão de saber o que elas significam. É um lugar bem interessante, foi lá que eu conheci o Math, parece que depois da guerra tiveram que criar do lado de cá vários outros O R F A N A T O porque eles lotavam muito rápido. Lotavam, meu pai diz que essa palavra era muito usada antigamente.

Math, assim como as outras crianças, usavam uma espécie de pulseira no braço, nela tinha números e fazia um bip cada vez que eles se mexiam, fazia um bip maior ainda cada vez que ele se aproximava da porta ou da janela. Ele me disse que quando o bip parava tinha chego a hora dele ir lá fora e tomar um ar fresco, quando o bip voltava ele precisava está dentro do O R F A N A T O em cinco minutos, mas eu não sei o que cinco minutos significa.

Meu pai foi mais algumas vezes naquele O R F A N A T O e foi hoje também, mas dessa vez ele está levando a mim, a mamãe a professora, que é minha irmã mais velha. Só não sei exatamente o porquê.