O Amor Supera o Preconceito

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Lúcia observava pela janela o homem de seus sonhos, Victor Hélder. Ela era uma garota meiga e gentil, com seus curtos cabelos loiros, olhos safiras e com seu longo vestido branco. Sempre buscara encontrar o amor verdadeiro e, finalmente, quando conhecera Victor, dois anos atrás, pensava tê-lo encontrado.

Mas, por ser um camponês que trabalha para sua família e, ainda por cima, descendente de negros, seus sonhos estavam longe de serem realizados.

A família da moça era muito rígida e antiquada, tradicionalista e preconceituosa. Ainda acreditavam que sua única filha deveria arrumar um marido por meio de um casamento arranjado.

Os pais de Lúcia já haviam preparado tudo, em menos de dois meses ela teria de casar-se com Alexey Britt, filho de um importante empresário britânico, que veio a São Paulo com o objetivo de expandir sua empresa.

Lúcia suspira, despertando de seus pensamentos. Tinha que parar de sonhar acordada, era hora de voltar para o presente e encarar a realidade. Ela levanta-se e caminha até sua mesa de leitura onde encontra o último livro que começara a ler. O livro era um dos muitos que lera nos últimos meses, de seus escritores brasileiros preferidos. Esse, em especial, tinha sido escrito em 1943, sete anos antes, e era um romance que retratava alguns dos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial.

Uma hora depois, ela desiste de tentar concentrar-se, seus pensamentos não paravam de orbitar em torno de Victor, que de tempos em tempos passava por frente a sua janela carregando a última entrega de alimentos, junto ao ajudante de cozinha.

Victor era responsável por cuidar dos animais da fazenda , tanto os destinados à pecuária quanto os de estimação, mas sempre ajudava onde fosse necessário. O problema era que ele não teria sido contratado se não fosse pela mãe de Lúcia, pois seu pai era muito racista.

Ela levanta, já cansada e com dor de cabeça, decidindo voltar ao seu quarto, mas ao sair, a primeira coisa que vê são os olhos castanhos de Victor a observando.

Ela sente-se petrificada, sua respiração fica presa em sua garganta. E, apesar de tê-lo observado pela janela, ele parecia muito mais perfeito, bem à sua frente, com sua calca marrom desgastada e uma camisa verde que contrastava com sua pele escura. Ele também à observava, vendo-a dos pés à cabeça e pensando que nunca a vira tão bonita.

Mas uma voz os faz voltar à ralidade e deixar seu mundo particular de lado.

- Victor, essa é a última caixa. Obrigado pela ajuda. - disse Tom, o ajudante de cozinha, enquanto se aproximava deles.

Lúcia fechou a porta e Tom parou de andar.

- Senhorita - disse ele com um movimento de cabeça, comprimentando-a.

Ela abriu um sorriso e falou:

- Bom dia, Tom - e então virou-se novamente para Victor perguntando - Você poderia me ajudar com algo?

- Claro, senhorita - ele entrega os sacos de farinha que carregava para Tom e abre espaço para ele passar.

Tom despede-se com um último movimento de cabeça antes de seguir pelo grande corredor que leva à cozinha. Lúcia volta-se para Victor e fala:

- Eu preciso de ajuda para levar alguns livros para a biblioteca.

- Tudo bem - ele responde, seguindo-a para o quarto de leitura.

Ele mal teve tempo de fechar a porta, quando sentiu os braços de Lúcia rodearem-no pela cintura.

Ele à abraçou fortemente. Os dois sentiam falta de estar juntos, já que nos últimos dias a mãe de Lúcia a mantivera ocupada com os preparativos para a festa de noivado, que seria na semana seguinte. Incontáveis vezes já estiveram assim, eles sempre procuravam pretextos para estarem juntos, mas ultimamente não lhes sobrava tempo para passarem na companhia um do outro.

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