Você não sabe o meu nome

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Muitas músicas fazem parte das nossas vidas de uma maneira que é difícil de explicar. Mais do que a audição, elas são capazes de nos trazer boas lembranças ou atiçar nossa imaginação, fazendo com que viajemos. É bem comum, para quem gosta de música, associá-la a a um acontecimento, a uma pessoa, a um sentimento. Assim, os contos que estão por trás destas portas são todos baseados em músicas que amo e que fazem parte da minha vida




Marina olhou no relógio, faltavam cinco minutos. Mais uma vez se olhou no espelho, sorrindo para ele, não por estar satisfeita com a visão, mas para se certificar de que não havia nada de errado com os seus dentes. Alisou o uniforme novamente, embora estivesse impecavelmente passado. Talvez se ele não fosse de cores tão básicas – um mini colete preto sobre uma camisa fina branca e uma calça social também preta - ela estivesse mais em evidência. Não que achasse feio o uniforme, no entanto acreditava que poderia ser mais feminino, algo mais sensual. Sempre colocava essa observação na caixinha de sugestões anônimas, disfarçando a letra, entretanto, com a mesma frequência, tal opinião era ignorada.

Nunca imaginara trabalhar como uma bartender e muito menos no bar de um hotel de luxo como aquele. Porém, a necessidade e a oportunidade resolveram se encontrar e aliadas à ótima remuneração, ela não hesitou em aceitar o emprego. É verdade que começou verde no ramo, mas aprendia rápido e como era perfeccionista, na segunda vez que executava qualquer ação já conseguia fazê-la melhor do que a pessoa que a ensinara. Desse modo, pouco a pouco, foi ganhando a confiança do gerente até assumir sozinha  um turno, sem a necessidade de supervisão.

Investigou uma vez mais o pequeno relógio no pulso, antes de respirar fundo e ir assumir sua função. Karen, a moça do turno da tarde, sorriu-lhe ao vê-la se aproximar:

- E então? É hoje que vou conhecer o homem que a está deixando assim?

- Assim como? – Marina rebateu na defensiva.

- Nervosa – Karen manteve o sorriso. Sua amiga era uma moça com um corpo magnifico e um rosto extremamente comum. Algo que, para Marina, destoava um pouco. Ela, por sua vez, tinha uma feição marcante e um corpo sem graça, magro demais; desprovido daqueles atrativos que chamavam a atenção dos homens logo de cara. Os cabelos encaracolados, que conferiam mais graça ao seu belo rosto, estavam sempre presos, conforme as recomendações da gerência. Talvez se ela e a Karen fossem uma única pessoa, beirassem as garotas que saem nas capas de revistas. Como eram mulheres distintas, cada uma tinha sua graça recheada pelas imperfeições.

- Por favor, Karen! Só para constar, não vai ganhar hora-extra ficando aqui – Marina protestou, assumindo seu posto atrás do balcão e verificando de modo sutil se a amiga havia lhe entregue o bar em condições razoáveis. Ficou feliz ao perceber que sim, que o balcão estava brilhando de tão limpo.

- Não precisa me expulsar! – Karen sorriu – Adoraria conhecer o senhor mistério, mas o Raul já deve estar me esperando. Então, fica para a próxima.

Marina deu de ombros, como se não ligasse.

- Cuidado, hein – advertiu a amiga – Fala para seu namorado pegar leve na direção. Com moto não se brinca.

- Não é meu namorado, Marina! Às vezes você é tão... – Karen procurou a melhor palavra, sob o olhar da amiga – Convencional. Estamos ficando, sabe o que é isso?

- Saber não quer dizer que concorde – Marina respondeu, vendo a amiga se livrar do colete e desabotoar os dois primeiros botões da blusa branca, balançando a cabeça, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. 

Hotel dos Corações PartidosOnde histórias criam vida. Descubra agora