8- Faça por merecer

38 5 0
                                    

ㅡ O Sr. Heidfeld me passou outro trabalho.

ㅡ De novo? ㅡ pergunto.

ㅡ Sim. Pior são essas dores ㅡ Tânia faz careta.
ㅡ Coluna de novo?

ㅡ Sim.

Tânia estava com em alguns conteúdos atrasados, por isso o Sr Heidfeld pedia alguns trabalhos extras. Depois do que aconteceu ela tem tentado segurar as pontas, seguindo a vida, como dizem. Pensei que fosse se isolar no quarto, ou se culpar, mas ela não fez nada disso. Fazem alguns meses desde a morte de Edward e eu acho que ela está seguindo em frente de verdade. Não quero saber se ela chora quando pensa nele, quero manter a ideia de que ela realmente está seguindo em frente. Eu sei que ela é forte, e não vale a pena ficar presa por coisas do passado, coisas que não podem ser desfeitas. Ela sabe, ela entende, sabe o que está fazendo e que é melhor assim.

****

Flashback

No dia do funeral:

ㅡ Pronto, estou salva.

ㅡ Claro ㅡ Tamax dá uma piscadela.

Nós acabamos de voltar da casa do policial Khan. Foi cansativo tanto na ida quanto na volta, mesmo assim ele me acompanhou.
Ele me encara por algum tempo enquanto me pergunto no que está pensando. Minha cabeça parece querer explodir.

ㅡ Está um pouco frio. Quer entrar? Tomar alguma coisa quente? ㅡ convido.

ㅡ Não, só quis me certificar de que você chegaria bem.

ㅡ Tudo bem então, e, obrigada.

Ele continua parado. Seu rosto está tão próximo do meu, que consigo ver através de sua pele que também está com frio. Ele dá um passo a frente e prendo a respiração. Acho que não consigo me mexer.
Ele dá um passo mais perto e então me abraça. Pisco inúmeras vezes enquanto meu corpo sente o arrepio. Seus braços são fortes, aconchegantes. Posso sentir seus músculos através das nossas vestes. Não quero pensar no que tem abaixo das dele.

Lembro-me de soltar a respiração. Não é momento para ter esse tipo de pensamento.

Não digo nada mais enquanto ele me solta e se esvai pela rua vazia.

****

Depois da aula, Tânia me pede para ajudá-la.

ㅡ Pode me ajudar dessa vez?

ㅡ Sabe que sim. Sempre.

ㅡ Obrigada, Ramona.

ㅡ Você parece tão bem ㅡ comento.

ㅡ Se não fosse essa maldita dor, eu estaria perfeitamente bem.

ㅡ Sabe, eu acho que estamos esquecendo de alguma coisa.

ㅡ Que coisa?

ㅡ Quando você fez aquele raio-x?

ㅡ Não sei. Meses?

ㅡ Já deve ter chegado.

ㅡ Eu já fui pegar. Não lembra? ㅡ ela me olha confusa.

ㅡ Não ㅡ como eu poderia ter esquecido?

ㅡ Deve tá com umas duas semanas. Você tá bem da cabeça? 

ㅡ Não sei ㅡ respondo meio sem jeito.

ㅡ Onde está Tamax?

ㅡ Ele disse que não viria para a escola hoje ㅡ respondo.

ㅡ Não explicou por qual motivo?

ㅡ Não, Tânia. Ele não me deve satisfações, somos amigos.

ㅡ Amigos que "se pegam"? ㅡ ela ri. Parece debochar.

ㅡ O quê? ㅡ me recordo de ter ouvido isso antes. Encaro ela, me perguntando por que falar de Tamax. Demonstro indignação. ㅡ Você sabe que nunca fizemos nada.

ㅡ Você nunca falou nada.

ㅡ Se acontecesse você já saberia.

ㅡ Vontade é o que não falta.

ㅡ Que tipo de conversa é essa? 

ㅡ Bom final de semana ㅡ ela grita e acena para o Sr Market, me ignorando completamente.

****

Na porta pode-se ler claramente: Empurre. Ao empurrar sinto um odor forte, parece familiar. É a mesma mulher com aquele odor característico da clínica. Ela vive aqui?

ㅡ Posso ajudar? ㅡ a mesma moça de batom cor nude interrompe meus pensamentos com essa pergunta.

ㅡ Ah, sim, ela queria... ㅡ digo

ㅡ Sim ㅡ ela mostra um sorrisinho.

Olho para trás. Onde está Tânia?

ㅡ Se estiver procurando Tânia ela entrou ali ㅡ diz apontando para uma porta de vidro, aquela mesma em que quase não sai há uns meses atrás. Enquanto a moça fala alguma coisa, suas mãos se movimentam rapidamente pelo teclado, ela está procurando algo no computador. Depois de encontrar, ela pega uma caixa prateada com papéis organizados em ordem alfabética. Enquanto isso me pergunto se Tânia poderia ter entrado sem autorização.
ㅡ Ah, eu deveria ter mandado Tamax avisá-la.

ㅡ Conhece Tamax?

ㅡ Sim ㅡ ela me olha desconfiada. ㅡ Ali está ela com o... Morrison.

ㅡ Quem é Morrison?

ㅡ Ele ㅡ responde.

Olho para trás e vejo Tânia de braços dados com um homem de jaleco, ambos estão sorrindo.

ㅡ Oi, Bianca, desculpas entrar assim, você sabe não é?! ㅡ Tânia dá uma piscadela.

ㅡ Oi ㅡ ela fala sorrindo para mim.

ㅡ Vocês se conhecem? ㅡ pergunto.

ㅡ Ela cuidou da Rocagris quando ela era bebê e me ajuda com algumas coisa, se é que você me entende ㅡ não, eu não entendi. ㅡ Esse é o Morrison.

ㅡ Oi Morrison ㅡ noto que ele me encara.

ㅡ Oi ㅡ ele diz por fim e olha para Tânia como se esperasse algo.

ㅡ Essa é a Ramona ㅡ Tânia complementa.

ㅡ Ah, certo. Prazer, Ramona.

Encaro Morrison.

Minha cabeça começa a doer forte e me sinto muito desconfortável. Como aquela garota conhece Tamax? Em que ela ajuda Tânia? Estou um pouco lenta e confusa, acho que é a minha cabeça pesada.
Só me lembro de abrir aquela porta com um PUXE em uma fonte verde enorme. Não ouço Tânia me chamar.

Não SeiOnde histórias criam vida. Descubra agora