Aquele garoto.

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Mais uma hora, só mais uma hora. Esse culto acabará logo. Minha mãe erguia a mão direita enquanto apertava um terço com a mão esquerda, meu pai falando ditos sagrados e gloriosos às pessoas fiéis, e eu, simplesmente sentada, fingindo estar atenta, esse era meu domingo. Meu pai, John, é o pastor desta igreja, todos o veneram como se fosse um Deus, para mim, isso é estranho, e minha mãe, Cintia, é sua fiel seguidora, tudo para ela tem que ser santo e certo, senão, vai arranjar um problema quase severo. Já eu, me chamo Fiorella, mas é melhor me chamar de Ella, eu sou considerada, pelos meus pais uma santa, pois eu sou uma das únicas garotas de Morden que não se perde em festas, bebidas, drogas ou sexo. O ranger da porta soou por todo o salão, várias cabeças curiosas se viraram para trás, inclusive a minha, era um garoto desconhecido, ou talvez novo, mas parecia estar perdido, jaqueta de couro preta e blusa pólo preta também, jeans meio rasgado dos lados, quem era aquele garoto? Será que ele não percebeu que estava em uma igreja?

— Ser humano sujo. — minha mãe disparou em voz baixa ao ver o garoto.

— É apenas um garoto, mãe. — respondi com inocência, minha mãe não pode julgar os outros assim.

Ousei olhar para trás novamente, péssimo momento, o garoto me encarava e uma corrente gelada desceu pela minha espinha.

— Vire para a frente, preste atenção em seu pai. — minha mãe ordenou, imediatamente me virei.

— Sim, senhora. — obedeci sua ordem, mas continuei com o desejo de observar aquele garoto.

Posso dizer que sou uma garota exemplar, não sou de me rebelar contra meus pais, mas adoraria, sou estudiosa, mas odeio a escola, nunca namorei, mas digamos que tenho uma queda por um garoto da escola. As vezes é cansativo viver de ordens, parecendo um robô, minha mãe é meio rígida e religiosa comigo as vezes, entendo que é para me proteger, mas me proteger do que? Já meu pai é diferente, ele é calmo e apreensivo, mas me protege de outro modo, não fica no meu pé que nem a dona Cintia.

— Que Deus abençoe todos! — foi o grito final do meu pai. Hora de ir para casa e saborear o brownie de chocolate que todo domingo minha mãe faz.

— Amém! — minha mãe louvou junto ao povo.

Me levantei antes de minha mãe e olhei para trás, o garoto já havia saído, uma pena.

— Foi um ótimo culto hoje, não achou? — mamãe pergunta, agarrada em meu braço enquanto saímos pela porta principal da igreja.

— Sim. — rapidamente respondo.

Lá fora, olho em volta da entrada atrás do garoto, bem longe do tumulto, do outro lado da pista estava ele mergulhado no celular. Mamãe já havia me soltado para conversar com as outras amigas dela, eu estava em pé e parada olhando aquele garoto, o que há de tão especial nele? Olhos castanhos como o caule de uma árvore no sol, cabelos negros como a noite, vestes de bad boy. Okay, estou pensando demais nisso. Eu precisava falar com ele, eu quero conhecer ele, eu vou lá!

— Ella! Onde vai? Já estamos indo. — meu pai me grita, dou um passo para trás e viro para papai com a chave do carro em mãos.

Olhei para o garoto e ele tinha, simplesmente, desaparecido. Uma brisa me atravessou e novamente a corrente gelada me ocorreu.

— Eu estou indo, papai. — respondi apreensiva. Para onde ele foi?

Já anoitecia, era um alivio abandonar saltos e vestidos comportados por pijama e pantufas. Deitada no sofá agarrada em meu cobertor aguentando o ar frio de Morden e assistindo TV, era essa a minha rotina de domingo à noite. Era mais um episódio de America Got's Talent, começo de temporada e nem todo mundo é bom em canto.

Pulses of An Angel - with Shawn MendesOnde histórias criam vida. Descubra agora