De uns tempos para cá, comecei a me interessar por uma parte do mundo virtual que poucos conhecem, a Deep Web. O principal problema que encontrei em minhas pesquisas é o fato de que a maioria dos sites que resolvem falar disso tem as mesmas fontes, provavelmente achadas apenas escrevendo Deep Web no google e lendo os primeiros resultados, o que acaba criando posts praticamente iguais. Seja por medo instaurado por esses sites de que a DW é perigosa, muitos nem se arriscam a adentrar esse mundo secundário. E não é para menos, já que ali eles falam que encontrar pedofilia e assassinatos é algo garantido, tornando aqueles mais fracos cautelosos de apenas buscar isso no google. Fui em frente em minhas pesquisas e fiz o que parecia certo emalguns sites: baixei o TOR e comecei a andar pelos sites .onion, que não são nada mais do que isso, uma cebola, camadas e mais camadas que adentram um mundo cada vez mais diferente do que somos acostumados.
Nesse mundo paralelo vi de tudo, o que achavam que tinha e ainda mais, como assassinatos a plena luz do dia, sangue chovendo dos céus, experiências em seres humanos e animais em busca da quimera perfeita, abduções, operações, autópsias e todo tipo de coisa que nunca seria levada em consideração num mundo aberto. Contei algumas dessas minhas experiências a meus amigos e muitos se interessaram, o que nos levou a criar a nossa própria camada da cebola. Esse foi só o primeiro de meus problemas, mas como todas as péssimas ideias, na hora pareceu que eu era um gênio. Eu e mais uns 5 amigos com conhecimentos de códigos e criptografia nos dedicamos a criar um fórum, algo simples, para que pudéssemos falar uns com os outros sem sermos incomodados por pessoas irrelevantes e que eram alheias a nossas conversas.
Nos primeiros 3 meses tudo corria bem, falávamos sobre pessoas de nossos colégio, fatos sobre a vizinhança, lá eu colocava algumas fotos que eu tirava de maneira secreta, como aquela vizinha tomando banho, o carteiro roubando cartas ou um casal de mendigos brigando por causa de um pedaço de repolho estragado. Meus amigos faziam o mesmo, com seus relatos de transas, do que pensavam realmente em algumas conversas, fotos de animais mortos e de acidentes de automóvel que por sorte, éramos as vezes os primeiros a chegar e ver os corpos, estendidos no chão, estraçalhados pelo para-brisa.
Como fundador do fórum, eu tinha algum poder ali mas não precisava usar muito ele, já que todos sabiam o que postar sem passar dos limites.
Mas uma vez, um deles (agora posso falar seu nome verdadeiro, pois não fará diferença) o Marcos, não seguiu as regras e fez o que não devia. Ele estava sumido havia algumas semanas do colégio e numa tarde de quinta, ele aparece, nos olha e sabíamos o que aquilo significava,que teríamos nossas respostas quando chegássemos em casa, no nosso espaço. Aquela tarde passou de um jeito que pareceu ser uma década, e quando o sinal tocou e nos dirigimos a nossas casas, ativei minhas proteções e adentrei o nosso lugar, onde já tinha um tópico chamado "como se fossem pequenas baquetas". O tópico se entendia por diversas postagens, a maioria dos meus outros amigos, indagando e especulando o que poderia ter acontecido. Sempre nos deixando curiosos, eles
postava apenas uma linha, dizendo: "aguardem, estou escrevendo e colocando
as fotos. E vídeos."
Eram quase 3 da manhã quando ele postou o que estava planejando. Apesar de termos visto tudo na internet, a visível e a invisível, nenhum de nós estava preparado para aquilo que havia caído em nossos colos. Vou colocar uma versão resumida dos fatos abaixo, o que meu cérebro consegue
lembrar e que, depois de todos esses dias, ainda não bloqueou.
"Olá a todos, me ausentei essas semanas pois tive uma viagem a fazer com meus pais. Foi uma ótima viagem e dela, tenho uma história que se encaixa muito bem em nosso espaço e que acredito, todos vocês gostarão de ler. Era uma tarde quente e eu e minha mãe andávamos pelo calçadão, mas a andada dela por diversos shoppings e lojas idiotas me deixou cansado, foi onde a deixei para trás e resolvi fazer meu próprio passeio. Ruela após ruela, acabei chegando a um lugar onde haviam muitas pessoas ao chão, se drogando e uma dessas pessoas me chamou a atenção, pois era uma garota de uns 20 anos, já seca de tanto que havia consumido em seus poucos tempos de vicio. Mas isso não era o impressionante, do seu lado, havia uma criança, devia ter um ano, nunca
saberei. Vendo aquilo, me aproximei para falar com a mãe, a qual me pediu dinheiro para sua próxima dose. como tinha alguns trocados no bolso, me ofereci para comprar sua criança. ela aceitou e comprei o jovem garoto por 30 reais. Nas proximidades dali, encontrei um lugar que consegui alugar um quarto por 10 reais.
Quarto era bondade, pois ali só havia uma cama, uma banqueta e uma pequena pia, que usei para lavar o garoto imundo. Passei água em todas as dobrinhas dele, lavei o cabelo o melhor que pude, e depois, o deitei na cama. Tirei minha roupa também, e sentei do lado dele e para vê-lo dormir o sono dos justos e dos condenados, o sono daqueles que sabem que a Morte se aproxima.
Morte essa que, dessa vez, usava minhas mãos como seu instrumento para destruição, trazendo o fim para aquela pequena figura. Levantei, peguei a banqueta e a acertei em sua cabeça, bem no meio da testa, onde seus cabelos logo se molharam de sangue. As coisas são bem diferentes nos filmes, digo a vocês, pois tive que acertar 4 vezes até o crânio rachar e sua massa encefálica se espalhar pelo lençol sujo que tinha na cama. Fiquei admirando aquilo tudo se espalhando pela cama, cada pedaço daquela massa cinzenta que poderia era um ser humano poucos segundos atrás e, com meu celular, filmei o vídeo e tirei as fotos que vocês podem conferir abaixo. O que seriam as pequenas baquetas do titulo? Ele tinha pernas lindas, e os ossos de sua coxa eram de uma brancura
impecável. Raspar aqueles ossos e músculos de sua perna foi a coisa mais difícil daquele dia, pois aquela carne era muito macia e escorregava de minhas mãos, mas no fim, valeu a pena. os ossos eram duas lindas baquetas, que coloquei no bolso, enquanto moía o restante dos ossos e jogava descarga abaixo, que sugou tudo sem nenhum problema. rapidamente, me lavei na pia o pouco de sangue que havia respingado em mim e me vesti.
Na saída, ninguém me perguntou onde estava o menino que me acompanhava na entrada, mas eu sabia, quem ia ali não queria ser incomodado por perguntas, pois ninguém iria querer saber as respostas. Voltei até onde havia deixado minha mãe e aqui estou contando essa história a vocês. O que acharam?"
Aqui acabava o post de Marcos. Fiquei sem palavras. Encarei a tela de meu computador durante um tempo que me pareceu horas, mas quando o telefone tocou, vi que não havia se passado mais do que 30 minutos da hora da postagem dele. Era uns de meus outros amigos, perguntando o que eu faria.
Porque eu? hoje, sei que todos estavam apavorados, e que minha decisão ali não foi a melhor de todas. Chamei a policia. Expliquei a história a eles, e recebi a promessa de que iam mandar uma viatura à casa de Marcos. Soube depois, pelo jornal, que naquela hora Marcos já havia matado seus pais e que, da maneira que acharam os corpos, ele estava na cozinha com o gás ligado. De acordo com a transmissão final dos dois guardas, que iam passando de cômodo em cômodo olhando o rastro de morte e a crueldade estampada nos corpos, observando que aquilo era obra de uma pessoa muito perturbada. Ao entrarem a cozinha, a ultima frase deles foi uma observação sobre o cheiro de gás, logo seguida de uma explosão e o corte da comunicação.
O corpo dos policiais foi encontrado alguns metros dali,pelo menos alguns pedaços. Imagino que ao trancar o tópico, ele tenha entendido minha intenção e fez o que fez.
Mas isso não é o final.
Não ainda.
Hoje, 3 dias após o tópico ser postado, após o velório simbólico, entro novamente em nosso fórum para reler o relato que nos trouxe até esse desfecho aterrorizante. Mas algo estava errado. O tópico, que eu tinha a certeza que tinha trancado, estava aberto e nele, mais uma postagem o encerrava. ela dizia o seguinte: "A morte chegou para meus pais e para meu primo, aquele que nos acompanhou na nossa viagem de volta. E você, que não soube guardar segredo, teremos nossa conversa." Logo após essa postagem, tinha uma foto, que apenas mostrava a porta de meu guarda-roupa. Minha espinha
parecia que tinha congelado, pois a data da foto mostrava o dia de hoje. Me levantei e fui até a porta, que abri e o que tinha lá me assombra os sonhos até hoje. A cabeça de um gato que rola até meus pés e o corpo dele, em pedaços, espalhando o cheiro de podre em minhas roupas. e na porta, escrito com o sangue daquele animal, apenas duas palavras: nos falamos.
Sei que sou uma futura vitima.
Mas quando?
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Velório
Terrorum conto que escrevi a alguns anos, finalmente colocado aqui. conta sobre um garoto e o sua experiência com a deep web, mas de um jeito mais próximo do que ele imaginava...