O clarim diário

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Depois de quase 2 horas passando o conteúdo da aula para o Max, acho que ele finalmente entendeu o assunto.

- Alguma dúvida, Max?

- Não senhor.

Era engraçado ouvir os alunos me chamarem de "senhor" e ao mesmo tempo gratificante. Sempre quis ensinar aos outros o que aprendi durante a vida. Principalmente aquilo que meu tio me ensinou.

- Não esqueça de balancear a equação. – Dei uma pausa. – Em questão à bombinha, falamos disso na próxima ocasião. Agora você deve ir, está tarde.

Dei um último aperto de mão no garoto e abri a porta para que ele seguisse adiante. Observei a sala e só o quadro negro estava "bagunçado." Fui até o mesmo e apaguei com um pano semi-molhado.

Peguei minha maleta com alguns pertences e tranquei a sala. Tinha cumprido meu dever do dia. Entreguei a chave para a secretária da escola, a qual estava jogando tetris no celular.

- Parker. Olá! Como foi seu dia?

- Muito bom, senhorita Gavin. Obrigado por perguntar. E o seu?

- Típico... Joguei tetris o dia todo. Olhe, bati meu recorde!

Ela mostrou o display do celular para mim. Realmente, ela havia batido o recorde do qual batera ontem.

- UAU! Parabéns. – Disse, por educação.

- Tenho que ir agora. Nos vemos depois!

Sai em disparada. Aquela mulher ia me segurar a tarde toda contando sobre a vida monótona dela.

A senhorita Gavin não é muito velha. Se não me engano está nos seus 42 anos de idade. Às vezes ela é legal, mas só as vezes. Ela sempre vem para o trabalho com um coque no cabelo e um batom vermelho, daqueles bem leves. Sempre para lanche trás um pão de gergelim com salada. Vive jogando tetris, se não me engano é casada e tem um filho. E óbvio que não poderia faltar um apelido pra ela. Chamamos ela de miss nutrição. Também, não é pra menos né...

Pego minha motoca e dirijo rumo à minha casa. Provavelmente tia May não vai estar em casa nesse momento, pois ainda está trabalhando. São 5PM, acho que vou dar uma passadinha no clarim diário para ver se há oportunidade de trabalho.

O clarim continua a mesma coisa. Ainda é administrado pelo louco do J.J Jameson, para minha infelicidade. Nós nunca fomos grandes amigos, isso é porque ele não sabe que eu fui o aranha esse tempo todo...

- Foto de casais se beijando? Foto de pássaros voando sob o mar? VOCÊ ESTÁ BRINCANDO COMIGO, PARKER?

- Foram as fotos que consegui, senhor.

Naquele momento, o J.J jogou as fotos na mesa, vermelho de raiva como o manda brasa mais cedo.

- NÃO VOU TE PAGAR POR ESSAS FOTOS, ESTÃO UM LIXO. QUERO FOTO DO ARANHA! ESTAMOS ARRUINADOS SEM ESSE VILÃO MASCARADO.

- Jameson, você sabe que ele não está mais na ativa... Não posso tirar foto de quem não existe mais...

- FORA DAQUI, PARKER! FORA!

E esse foi meu diálogo com o J.J. Sempre calmo e aconchegante.

Enquanto saia do clarim, encontrei a Betty, a recepcionista. Ela estava um pouco para baixo, o que é estranho, pois ela sempre tá ativa e animada.

- Betty. O que houve?

- Ah, olá Peter. Não é nada não...

- Diga. Sabe que sou teu amigo.

- Ai Peter. Com o sumiço do aranha, as coisas estão horríveis. Essa semana um tio meu foi assassinado em frente à sua casa. As pessoas estão aterrorizadas, não temos mais o que fazer.

Tentei dar uma disfarçada. Realmente, as coisas estavam horríveis em NY. Assaltos em bancos, casas... Mas eu havia jurado a mim mesmo que não voltaria a ser o aranha. Não mais.

- Ei. Não fique assim. – Levantei seu rosto. – As coisas ficarão melhores, você vai ver. Tem meu número, certo? Qualquer coisa me liga ou manda uma mensagem...

A Betty afirmou com a cabeça. Dei um beijo em sua testa e fui para casa.

Abri a porta e me deparei com minha tia sentada na sala assistindo um programa de culinária. Aproximei dela e reparei que estava dormindo. Peguei um manto que sempre ficava em baixo da escada e cobri ela. Dei um beijo de boa noite, desliguei a tv e fui para meu quarto.

Tirei a roupa social, já tava cansado de usar ela. Mais um dia no trabalho e as coisas estão boas por lá. Vejo na cabeceira da cama uma foto dos meus pais. Não tenho muito o que falar deles, não tive muito contato. Mas claro, sentia a falta deles, como sempre senti.

Liguei a televisão para esquecer um pouco da correria do dia. Apenas há desgraça na televisão. Pessoas são mortas, assaltadas, agredidas... Aonde esse mundo irá parar.

- O caos está maior em Nova York. O que será de nós? Estamos sofrendo só, aquele que sempre nos salvou não está conosco. Aonde está o homem aranha? Só ele pode nos salvar. Enquanto isso, vamos sofrer calados esperando a volta de nosso herói.

Por incrível que pareça, essas palavras não faziam mais efeito em mim. Todo aquele heroismo que havia em mim simplesmente se dissipou. As coisas estão melhores como Peter Parker. Espero que surja algum outro super herói para ajudar esse povo. Pra mim já deu.

Tá na hora de dormir, gatão. Desligo a tv, colocando o controle próximo da cama. Olho para o teto e vejo algumas aranhas minusculas andando e soltando teia por todo lugar. Só podem estar de brincadeira... Quando fecho os olhos, ouço alguém me chamar do lado de fora.

- Peter?




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⏰ Última atualização: Dec 21, 2015 ⏰

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A queda do AranhaOnde histórias criam vida. Descubra agora