O Reencontro - Parte 1

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"E foi nesses encontros e desencontros da vida que eu pude sentir pela primeira vez o que é o bater de um coração apaixonado. Foi preciso um tempo longe para meu coração enfim te colocar em primeiro plano, me fazer entender que o amor verdadeiro ainda existe, o amor à primeira vista existe, basta acreditar, assim como um conto de fadas, você foi a Bela que encantou e ressuscitou o coração de uma Fera adormecida."

Um táxi simples como todos aqueles que peguei quando ainda morava em São Paulo, semi-novo com aquele bom ar barato, um taxista calado, rádio ligado no AM, uma estação de notícias, taxímetro chegando na segunda bandeirada. Tinha me esquecido o quão caro era São Paulo. A cada quilômetro meu coração se apertava mais e se dividia, um lado palpitava de saudades da família, de casa, dos meus amigos e claro, da Laura, mas o outro palpitava de preocupação, de tristeza com a situação do meu pai. 
Demorei muito para ter uma relação saudável com meu velho, tivemos muitos problemas de relacionamento durante minha vida toda mas no fundo, aquele amor, aquela admiração de filho para pai nunca sumiu, crescendo incessantemente. Meu pai sempre foi um homem com vícios, bebidas, cigarros, não era aquela figura de pai exemplar que todo mundo deseja mas sempre se preocupou com o bem-estar da casa, do filho. Meus pais se separaram cedo, por volta dos meus 10 anos, mas mesmo assim não deixei de ter uma relação com ele, meu velho Marcelo, ou como era conhecido, Celinho. Era complicado ver seus pais brigando, gritaria, empurra daqui e empurra dali, lágrimas e portas batendo, foram tempos difíceis que foi me ensinando que uma escolha mal feita pode te afetar para o resto de nossas vidas. É meu pai, nossa vida não foi fácil mas eu tenho fé, eu sei que o senhor vai sair dessa e quem sabe, jogue aquele futebol prometido há anos.
Me pego rindo sozinho no táxi, viajando para outras galáxias lembrando dos momentos com ele, taxista me chamando, cutucando minha perna perguntando onde era o endereço. Voltei para Terra e lhe entreguei o endereço. Estava próximo, faltava poucas quadras para o tão aguardado encontro.

Pego meu celular no bolso da calça, 3 ligações da minha tia, meu coração dispara mais. O que será que aconteceu ? Meu pai está bem ? Nesse momento já não quero saber de mais nada, só quero sair desse táxi e ir ver meu pai!
Pago o taxista calado, pego minhas malas e corro para dentro do hospital, não me aguentava de cansaço por conta da viagem e de toda a emoção com a Laura, minhas pernas cambaleavam mas não podia descansar agora. Pedi informações sobre onde era a UTI na recepção, corro para o elevador, aperto sem parar o botão para subir, meus pés já batiam sozinho no chão de pressa,minha boca ficava seca. Entro no elevador, aperto o décimo andar e espero tentando ligar de volta para minha tia. Como uma UTI pode ser tão longe ? Que absurdo!
Abrem as portas do elevador, corro em direção à sala de espera, dou de cara com minha tia, com uma feição nada agradável, os olhos inchados, rosto pálido, mãos trêmulas.

- Oi tia, graças a Deus você está aqui ! Como ele está ?? Com um beijo estalado e um abraço bem longo.

- Meu anjo, que bom que você está aqui, senta aqui comigo um pouco.

Essa história de sentar me cheira notícia ruim.

- O que aconteceu tia pelo amor de Deus ??? 

- O seu pai teve um ataque cardíaco hoje de manhã, os médicos precisaram lutar a cada segundo pra conseguir traze-lo de volta...

Meu mundo desabou, era tarde demais, cheguei tarde demais. Minha única esperança de vê-lo foi destruída com uma notícia tão devastadora.

-... E eles precisaram colocar ele em coma induzido, só assim ele conseguiria ter um momento de paz, eles estava sentindo muitas dores Thi, chorava muito de dor.

Um momento para recordarWhere stories live. Discover now