Lembranças Na Neve

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"Relembrar é viver não é mesmo?

Por isso eu relembro.
Todo ano. Todo Natal.

Sou Jongdae, tenho 60 anos.
A muitos anos atrás vi muitas coisas. Vivi muitas coisas.

Ah o amor... algo tão lindo. Simples e puro. Em cada corpo, tem sua forma particular.

Tenho orgulho em dizer que o amor me pegou. Me pegou do nada, me pegou de surpresa.

O nome desse amor? Charlotte.

Cabelos ruivos e lisos. Olhos azuis. Pele extremamente clara. A pontinha do nariz sempre vermelha. Um sorriso grande, aconchegante, adorável.

A conheci no Ensino Fundamental, sétima série. Meu pai era um empresário, o pai dela também. Acabaram fazendo um acordo, do qual eu nunca quis saber, não me interessava por essas coisas, e, com esse acordo, foram ficando amigos, aproximando as famílias, me aproximando dela.

No final do Ensino Médio começamos a namorar.

No final da faculdade, nos casamos.

Casamento arranjado nunca foi uma opção, por mais que nossos pais quisessem bons herdeiros, não nos obrigavam a nada. Por isso, ao invés de me tornar um renomado empresário, me formei em música.

Cantar. O meu segundo amor, abaixo apenas de Charlotte.

Não fiquei famoso, nem era a intenção. Cantei para caridades, cantei em pequenos bares, dei aulas de música. Estava feliz, estava confortável. Não poderia querer nada além disso.

Charlotte, com seu amor por livros, se formou em letras. Dava aulas de português e redação em creches de caridade a crianças pobres. E também escrevia músicas.

Eu nunca cantava músicas conhecidas, nunca cantava músicas de outros compositores. Sempre cantei apenas as minhas músicas, as músicas de Charlotte, e as que escrevíamos juntos.

Em um ano e meio de casados, tivemos um casal de gêmeos.

Xiumin e Changmin. Meus mais novos amores. Cabelos iguais aos de Charlotte, olhos castanhos puxados iguais aos meus. Porém Xiumin era o branquelo de nariz vermelho e Changmin do sorriso gigante.

No nosso terceiro ano de casados, resolvemos passar o Natal de forma diferente.

Deixamos os meninos com minha mãe, meu pai já havia morrido. Os garotos a amavam, e era recíproco. A mãe e o pai de Charlotte resolveram passar o Natal junto da minha mãe enquanto nós passaríamos um tempo só nosso.

Fomos para um chalé em uma bela montanha.

A neve caía lindamente.

Eu sempre comparei Charlotte com a neve. As semelhanças eram tantas, não conseguia deixar de falar que Charlotte era uma fada da neve. Ela sempre reclamou do apelido, mas toda vez corava, então suponho que, internamente, ela amava.

Fizemos tantas coisas juntos... patinamos no gelo, praticamos snowboard, fizemos guerrinha de bolas de neve...

À noite fomos para um hotel que havia por perto, onde haveria uma maravilhosa ceia de Natal. Tinha karaokê, então tive uma ideia: cantei para Charlotte uma de suas músicas preferidas.

"""Ela é minha perola negra
Ela é minha perola negra

Eu não preciso de um mapa, meu coração me leva a você
Mesmo que o caminho seja perigoso, eu não posso parar agora
Eu nunca me esqueci de você por apenas uma hora
Se eu só posso vê-la no final do horizonte distante

AvalancheOnde histórias criam vida. Descubra agora