Capítulo 1

28 1 0
                                    


Forte,Valentina, Valentina, forte.
Existe algo de muito irônico no significado do meu nome. Não me vejo como forte, pelo


contrário, desisto rápido das coisas e tenho medo do desconhecido, gosto apenas de


fazer coisas que eu sei que vão dar certo.
" Nossa! É o livro que eu queria! Bem ali!Bom, mas vou ter que deixar pra o mês que


vem, porque já não tenho essa quantia para comprá-lo."
E como alguém que aperta em um botão, impetuosamente o céu desabou com suas


lindas gotas prateadas fazendo com que todos procurassem por abrigo na rua.


Valentina que caminhava absorta na capa de um livro que acabara de ver na vitrine de


uma livraria e desejosa de tê-lo imediatamente, foi surpreendida pelas gotas escorrendo
em seu rosto fazendo com que corresse a um lugar seco mais próximo. Refugiou-se


dentro da estação de trem onde a maioria das pessoas tinha corrido e ali procurou um


lugar em meio à multidão para esperar a torrente chuva passar. Pensou em chamar um


taxi, mas desistiu ao lembrar-se da quantia que tinha no bolso já com um destino.


Resolveu então sentar-se em um banco no lado leste onde parecia estar mais vazio, se


é que poderia chamar vazio aquele emaranhado de pessoas molhadas, e como tinha


sua bolsa sempre muito bem equipada pegou um pequeno livro e pôs-se a ler, afinal, o


que restava para ela era esperar pelo próximo trem e ir para casa. Logo logo Valentina


já não estava na estação de trem, mas sim em outro século onde o amor era mais puro


mas também mais complicado de vivê-lo. Valentina não sabia ao certo o que pensar


sobre a personagem Aurélia, que estava em busca de vingança porque seu ex-


namorado Fernando a deixou para casar com uma outra moça que tinha um dote maior,


mas com tudo ainda sim achava que ela deveria perdoá-lo e deixar o amor sobrepujar o


interesse. Absorta no romance de José de Alencar, nem viu a tênue chuva passar.


Valentina de repente sentiu um calor lhe queimando a pele e um peso apertando-a no


banco. Quando finalmente voltou para os tempos atuais onde ela estava sentada em


uma estação de trem, se deu por conta que tinha alguém por cima dela. Rapidamente o


rapaz, agora ela conseguira identificar que era um homem, este, assustado a olhou


penetrante e por uma fração de segundos Valentina ficou perdida nos olhos dele antes


de se recompor e virar o rosto para saber o que acabara de ocorrer com ela e esse


estranho que aparentemente estava em cima dela e que derramará café em seu livro e


sua blusa. O rapaz recuperando-se da queda e sem se demorar mais do que já tinha,


se levantou desconcertado pedindo perdão sem saber o que fazer para compensá-la.
- Oh, me desculpe! É a pressa! Que posso fazer agora? Ai meu Deus você está toda


molhada de café! E o seu livro! Oh permita-me que eu lhe compre um outro livro pra ti ! Perdi o trem! Bom mas agora não importa mais... O rapaz continuava falando em


voz alta, mas parecia mais uma conversa com ele mesmo do que com Valentina.
- Qual é o seu nome? Me desculpe, me desculpe!


- Valentina.
Ainda se recuperando do susto e tentando secar suas mãos nas calças que haviam


queimado por conta do café, Valentina só conseguiu proferir seu nome. O rapaz se pôs


em pé e pegou o livro da mão de Valentina ajudando-a a se levantar e disse: - Olá, não


posso dizer que foi um prazer, mas posso tentar fazer com que se torne mais tarde...


Permita-me dizer, sou Augusto Lorenzi.


Valentina sentiu a ironia na fala do desconhecido e da mesma forma ironizou, incapaz


de não devolvê-lo com a mesma gentileza.


- Haha, não posso deixar de rir, nem tentar contradizê-lo, depois deste ataque


"homicida" de café quente sobre mim, creio que afinal não foi mesmo um prazer te


conhecer... Você é italiano?


Valentina lembrou-se que uma vez leu um livro onde o personagem era italiano e


carregava esse sobrenome, daí partiu pergunta inusitada.


- Bom o que eu posso dizer? Tentarei o possível para que essa má impressão


desapareça de nossas lembranças... Sou de origem italiana por parte de meus avós...


Valentina começou a olhá-lo detalhadamente enquanto ele falava, seu cabelo era louro


escuro e seus olhos eram verdes claros, era magro mas não de uma forma feia, apenas


normal, tinha covinhas na bochecha quando ria e Valentina se encantou em todas as


vezes que viu ele sorrir. Percebendo que já fazia algum tempo que ele ficara mudo, ela sabia que era a vez dela de dar à recíproca.
- Ah entendo... Bom acho que já perdi meu trem também por conta que me distraí


lendo e agora me resta esperar pelo próximo...


- Não! Permita-me, vamos a uma livraria comprar o livro que eu acabei de destruir, e


comprar uma blusa nova para você, pois se continuar com ela temo que possa pegar


um resfriado...
Indecisa em sair com um estranho ou não, Valentina se demonstrou corajosa quando


disse sim a ele, porque no fundo o seu rosto mostrava que ela poderia confiar nele.


"Forte. Será? Bom... Se sou ou não, eu não sei, mas eu acabei de dizer sim para um


estranho e estou caminhando com ele, isso é tudo menos ser fraco" pensou Valentina


enquanto caminhavam na rua deserta por conta da chuva que ainda intimidara a todos.

Enquanto você escrevia

Enquanto você escreviaOnde histórias criam vida. Descubra agora