Capítulo 2

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Naquela hora da tarde já se fazia escuro por conta da chuva, e as pedras dos
paralelepípedos estavam brilhantes refletindo as luzes dos postes por causa da água
que ainda estava por sobre as pedras. Por minutos Valentina se perdeu olhando os
reflexos.
- A oferta do livro eu aceito, mas a blusa não é necessária. Disse enfim Valentina para
quebrar o silêncio.
- Não, não me contrarie! Tu verás.
A parte final da frase de Augusto pareceu definitiva, então Valentina achou melhor só
seguir com ele e acabar isso de uma vez.
- Tu moras aqui perto? Perguntou de repente Augusto enquanto eles caminhavam para
o centro da cidade.
- Mais ou menos... Moro á uns quinze minutos daqui de trem... E você?
- Hum... Interessante... está lendo "Senhora" então? Eu gostei muito desse livro
quando o li. É um dos meus preferidos. A mudança repentina de assuntos fez com que
Valentina visse claramente que era ele quem fazia as perguntas e que não queria o
contrário. Decidiu então ser mais discreta o possível sobre si, pois afinal ela também
não daria respostas a um estranho sobre ela.
- Estava lendo. Disse Valentina corrigindo e frisando bem a palavra ao estranho que
recém conhecera e continuou - Estou gostando até agora, mas acho que Aurélia
deveria esquecer essa história de vingança, pois ela o ama, e se ele se arrependeu do
que fez seria justo perdoá-lo.
- Acho que você tem razão. Mas também é justo que ela ficasse com esse sentimento
ao ser trocada por causa de dinheiro tu não concordas? Pelo visto tu estás na metade
da trama... Não lhe contarei o final, mas acho que você ficará feliz com o desfecho.
Valentina ficou ardendo em curiosidade sobre o fim do livro, mas era orgulhosa de mais
para perguntar.
- Bom se você diz, tomara que eu goste mesmo!
Dobraram a esquina e logo à direita viram uma loja.
- Chegamos. Augusto empurrou e segurou a porta para que Valentina entrasse e sem
saber deixou a pobre moça desconcertada por tamanha educação, porque Valentina
nunca fora alvo de tamanha gentileza por um homem, e isso a deslumbrou.
- Obrigada.
A loja era desconhecida aos olhos de Valentina, tinha bancos com estofados luxuosos e
estava praticamente vazia, o que dava a entender que era uma loja de roupas cara.
- Bem, sinta-se a vontade! Me sentarei ali e esperarei tu escolher qual tu queres para ti.
Com timidez Valentina de súbito disse que não poderia aceitar, mas Augusto falava em
tom decisivo para com ela, fazendo com que ela perdesse essa luta.
Olhou em volta, e logo apareceu uma moça loira, bem vestida lhe perguntando o que
ela queria em especial e qual tamanho ela usava para ajudá-la, mas Valentina não
estava acostumada a ficar sentada e esperar que as pessoas buscassem as roupas
para ela, então ela dispensou a moça, e foi aos cabides procurar por si só. Achou uma
blusa preta com uma etiqueta bem discreta no final da blusa que estava com o nome de
Ralph Lauren e era estranho, as blusas que continham ali eram muito parecidas com as
que ela usava, como se ele soubesse o que ela iria escolher.
Pegou o tamanho M e disse que estava pronta. Augusto pagou e saíram rumo à uma
livraria.
- Muito obrigada.
- Eu que tenho que agradecer por você não ter batido em mim por todo esse
inconveniente, se fosse outra pessoa com certeza me xingariam por pelo menos mil
anos... E com sorte não tomaria uma bofetada. Augusto soltou uma risada de canto de
boca, como que escondendo a graça que acabara de sentir.
- Bem, o que eu posso dizer? Tenho paciência... Bom, obrigada pela blusa, mas ela foi
muito cara, deixe o livro para lá, alugarei na biblioteca e eu termino de ler ok? Tentou
negociar de novo.
- Não! Não foi esse o tratado, eu vou comprar o livro pra ti, além do mais, é uma
história muito bonita de se ler para adiar por culpa de um estranho não é mesmo?
Augusto falou com tom sarcástico e terminou com uma risada maliciosa de como quem
diz: " Assim ela nunca vai discordar em eu comprar o livro" e foi exatamente o que
aconteceu, pois Valentina já estava curiosa de mais para saber o desfecho daquela
história. Acabou aceitando e não falou mais no assunto.
- Venha, não percamos tempo discutindo o que já tinha sido combinado, tem uma
livraria próxima e logo tu te livrarás de mim. Olhou para ela em silêncio e sorriu.
Valentina tinha um monte de perguntas para fazer aquele estranho mas não teve
coragem de perguntar, e assim seguiram até a livraria. Chegando lá, Valentina já
acostumada, sabia exatamente o lugar de cada um de seus livros favoritos, sem
demora pegou o livro e levou para o caixa acompanhada de Augusto que a esperava
com o rosto suave e tranqüilo. Saíram da livraria e enfim voltaram à estação de trem.

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