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Quando entrei na cozinha para tomar o pequeno-almoço, a minha família calou-se. Cortei caminho para o café. A minha mãe aproximou-se, agarrou-me as mãos e virou-me para a encarar.

- Oh, querido, és uma visão. – Disse, beijando-me as ambas faces.

- É uma camisa, mãe. – Libertei-me. – Ultrapassa lá isso.

Peguei numa caneca do armário e servi-me de café. Consegui afastar o meu longo cabelo no último segundo, antes que os cachos acastanhados mergulhassem no líquido negro.

Ansel atirou-me uma barra Luna e tentou esconder o sorriso afetado estampado no seu rosto.

- Traidor. – Balbuciei ao sentar-me. Ainda só tinha dado duas dentadas no meu pequeno-almoço quando me apercebi de que o meu pai estava pasmado a olhar para mim.

- O que é? – Perguntei com a boca cheia de proteína de soja. Ele tossiu, pestanejando várias vezes. Depois os seus olhos dispararam da minha mãe para mim.

- Desculpa, Harry. Não esperava que levasses as sugestões da tua mãe tão a sério.

Ela fulminou-me com o olhar. O meu pai mudou de posição na cadeira e abriu o jornal.

- Estás muito elegante.

- Elegante? – A minha voz subiu umas quantas oitavas. A caneca de café abanou na minha mão.

Ansel engasgou-se com a sua Pop Tart e agarrou um copo com sumo de laranja.

O meu pai escondeu o rosto atrás do jornal ao ver a minha mãe acariciar-me a mão. Permiti-me um olhar fulminante na direção dela antes de me perder na névoa da cafeína.

Passámos o resto do pequeno-almoço em silêncio embaraçoso. O meu pai lia e tentar evitar contacto visual comigo ou com a minha mãe. Ela insistia em lançar-me olhares encorajadores que eu evitava friamente. Ansel ignorava-nos, ruminando alegremente a sua Pop Tart. Deitei fora as últimas borras do café.

- Vamos, An.

Ansel saltou da cadeira, apanhando um casaco no caminho para a garagem.

- Boa sorte, Harry – gritou o meu pai enquanto eu seguia o meu irmão mais novo em direção à porta.

Não respondi. Gostava imenso de ir à escola na maior parte dos dias. Naquele dia não me apetecia nada.

- Stephen. – Ouvi a voz da minha mãe elevar-se ao sair, batendo a porta atrás de mim.

- Posso conduzir? – Havia esperança nos olhos de Ansel.

- Não. – Respondi, dirigindo-me para o lugar do condutor do nosso jipe.

Ansel agarrou-se ao tabliê quando eu guinei para fora da entrada da garagem. O cheiro a borracha queimada encheu a cabine. Depois de eu ultrapassar o terceiro carro, ele fulminou-me com o olhar lutando para colocar o cinto de segurança.

- Lá porque usar gravata te dá vontade de morrer, isso não significa que a mim também dê.

- Não estou a usar gravata. – Disse entre dentes cerrados, desviando-me de mais um carro.

Ansel ergueu as sobrancelhas.

- Não estás? Isso não é impróprio ou assim?

Sorriu-me, mas os punhais que o meu olhar lhe lançou fizeram-no encolher-se no assento. Quando finalmente chegámos ao parque de estacionamento da Escola da Montanha, ele estava branco como um fantasma.

- Acho que vou pedir ao Zayn que me leve a casa. – Disse-me, batendo com a porta.

Respirei fundo ao preparar como os meus nós dos dedos tinham ficado brancos devido à força com que agarrara o volante.

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