Prólogo.

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Ouço passos apressados no corredor.  Meus devaneios são interrompidos, mas não tiram minha atenção da janela e do céu noturno. Acomodo-me melhor na poltrona e volto meu olhar para a porta que logo se abre. Era Lucy, a enfermeira. Sorrio por obrigação e volto a olhar para a janela, a ignorando como costumo fazer na maioria das vezes. Lucy era uma mulher baixinha, de cabeleira loura, olhos castanhos e aparência comum, sem que eu perguntasse ela me contou que trabalhava ali desde que havia se formado e isso tinha menos de dois anos. Dizia que adorava o turno da noite por considerar mais calmo e acolhedor. Acabei anotando aqueles pensamentos em meu caderno pessoal, por força do hábito, no tópico que intitulei "A simples vida". Porque eu gosto de anotar essas coisas sem sentido? Para que ela possa ler quando acordar

- Como está essa noite, senhorita Deken?- Lucy insistia em falar comigo todas as noites, mesmo que nossa conversa não passasse de perguntas sobre o clima e como eu estava. Olhei para o rosto gentil da mulher e me forcei a sorrir.

- Bem.- Direcionei meu olhar até a cama a minha frente onde ela estava deitada. - E ela?- Essa era a parte em que eu não precisa fingir interesse por um assunto, já que era o motivo de eu estar ali.

- Ela está bem, os batimentos estão normais e não teve nenhuma alteração.- Lucy agora lia o prontuário e anotava as informações daquela noite.

- Quando ela vai acordar?- A pergunta que eu fazia toda noite, não para Lucy, minha mãe ou meu pai. Essa pergunta eu me fazia nas últimas três semanas, desde que ela não acordou mais.  

- Temos que esperar os médicos avaliarem o caso. Mas estamos todos esperançosos.- A resposta de Lucy era sempre a mesma. Logo ela saiu do quarto com o mesmo sorriso do início e eu fiquei ali fitando a cama como se olhasse a um espelho. Só que meu reflexo estava de olhos fechados e inerte na cama do hospital.

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