Parte I

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– E aí, Noel? Tudo pronto para o Natal desse ano?

– Tudo pronto sim, Greg. A cada ano está mais fácil ficar com tudo pronto.

Ao dizer isso, Noel olhou pela janela que ficava à sua direita. O mundo estava tão diferente, mas essa paisagem parecia a mesma de centenas de anos. Tudo branco. Quase não dava para ver a oficina, os chalés mais próximos e, muito menos, as casas mais distantes. Sempre foi seu cenário preferido. Neve caindo. Pinheiros brancos. As renas passeando calmamente no espaço que era um jardim em dias mais quentes, mas que agora não passava de um grande terreno macio e gelado.

– Por que diz isso, meu velho? – perguntou o duende que parecia sentir que algo estava errado.

– Ah, você sabe. A fantasia está diminuindo. A tecnologia está aumentando. Não quero parecer pessimista, ainda mais nessa época do ano, mas já fui um homem mais ativo.

Dentro de casa, o inverno não tinha muito espaço. A lareira aquecia o ambiente que era muito mais colorido que o lado de fora. Aqui os pinheiros eram verdes e cobertos de enfeites e luzes. Meias penduradas na lareira. Tapetes e poltronas peludos e confortáveis. E o cheiro... ah, aposto que você pode sentir também... cookies no forno e chocolate quente para acompanhar.

– Entendo... – suspirou o duende.

– Veja bem, recebemos 47 sacolas recheadas de cartas esse ano... costumavam ser centenas. Foi fácil atender a todos os pedidos. E com a velocidade do meu trenó posso sair esse ano às 23h58 que ainda entregarei tudo até meia-noite.

– Talvez devêssemos modernizar a oficina. Acho que iria despertar o interesse de mais crianças.

– Greg, já existem fábricas que produzem Iphone, Ipad, Ipod... Parece até que tem gente querendo o antigo status do Papai Noel. – essa última parte sussurrou para si mesmo.

– Mas então o que faremos?

– Nada de diferente. De fato, há coisas mais importantes para se preocupar do que os presentes... já tem bastante gente encarregada disso. O problema mesmo é a magia.

Apesar de um pouco confuso, Greg entendia o que Noel dizia. Sentiam falta da magia. Algo grande que estava se tornando cada ano menor. Uma sensação capaz de aquecer e iluminar qualquer inverno.

Você a conhece em menor escala. Sabe a sensação que você tem quando a pessoa na qual você esteve pensando o dia inteiro te liga sem motivo aparente? Ou quando toca sua música preferida no rádio? Ou quando numa conversa casual você ri com vontade, até a bochecha doer e percebe que aquele momento te devolveu a alegria que os problemas do dia a dia tinham escondido? A magia que Noel, Greg e todas as outras criaturas que viviam por ali sentiam lembrava essas sensações, mas eram ainda mais poderosas.

Noel se levantou de sua cadeira. Arrumou o cinto e os óculos. Algo precisava ser feito. As pessoas precisavam voltar a acreditar. E que fique claro que acreditar no Papai Noel em si é uma pequena parcela disso deixada especialmente para as crianças. É ao sentimento relacionado ao Natal que Noel se referia. Você também o conhece, ele é retratado em livros e filmes sobre o assunto.

– Parece até que o Natal voltou a ser um dia comum. Eu só precisava de uma ideia. – Noel mais pensou alto do que falou.

Nessa hora, Fred, outro duende, entrou correndo e levando neve porta adentro:

– Carta de última hora!!!

– Fred, temos tempo suficiente de receber mais de 50 cartas sem tanto desespero. Relaxa, cara. – disse Greg que pegou a carta e foi entregá-la pessoalmente. – Carta de última hora!!!

Noel com um sorriso tímido que só levantava um dos lados de sua boca, pegou a carta. Sentia que a faísca que precisava estava ali:

Papai Noel,
Pode me dar uma TV? Senão, no Natal aqui em casa, vou ser o único a não poder escolher a programação. Minha mãe vai assistir um especial da TV na sala. Meu pai um filme na outra sala. E minha irmã um show no quarto. Não quero assistir nenhuma das opções anteriores. Então, pode me ajudar?
Ah, também seria legal deixar uma prova de sua existência por aqui... Já cansei das piadas sem graça a esse respeito.
Valeu,
Pedro.

– Ho! Ho! Ho! Sabia que a resposta estaria aqui!

– Vamos começar a produzir TVs? Eu já tinha dado essa ideia antes. – disse Greg.

– Preciso preparar um curso para ensinar os outros duendes a fabricá-la. Acho que os conhecimentos em marcenaria e artes plásticas não vão ser muito úteis. – disse Fred.

– Nada disso. Não tem nada a ver com a TV, tem a ver com a magia... – e aí sim um sorriso iluminou todo o rosto do tão conhecido velhinho.


Uma história de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora