Chegava ao hotel barato que a empresa lhe reservara no centro da cidade, absolutamente extenuado após mais um longo e triste dia de trabalho. Já havia se acostumado com as viagens pelo estado após a mudança de cargo; a crise atingiu a todos e ele precisava se adaptar.
Casado há mais de vinte anos, com dois filhos já adultos, adotava agora novos hábitos com a mudança de rotina que o trabalho lhe impunha. Nunca antes havia traído sua mulher, mas a constante solidão das viagens o fez frequente nos bordéis das cidades por onde passava. Se no começo sentia por si profunda repulsa em ter em seus braços mulheres da idade de sua filha; hoje, já tratava tudo com a maior naturalidade.
Com engenho tudo pensou de modo que ninguém sequer desconfiasse de suas atividades noturnas. Nada alterou em sua rotina no trabalho, e tratava de manter seu comportamento em perfeita normalidade nos momentos em que voltava a casa. Não abraçou a frieza, tampouco pendeu à bajulação excessiva. Ninguém nada percebeu.
O casamento desgastado pelo tempo teve melhora que seu maior otimismo não previa; julgava ter como causa a distância e a saudade que ela causava. Os filhos já havia perdido ao mundo, tomaram rumos próprios, visitavam-no cada vez com menos freqüência; não por isso pensava menos neles, e sempre que podia procurava-oslo .
Vivia triste e só, entre hotéis e bordéis, de cidade em cidade, tentando aplacar a solidão que a vida lhe impôs.
Sentia hoje a solidão com força especial – talvez pelo tempo em que já não regressava a casa -, ligou para a esposa, trocaram palavras quaisquer que apenas reforçaram seu sentimento. Em seguida ligou para o filho, que apenas lhe disse não poder falar agora porque estava ocupado, mas que tratasse de ligar mais tarde, pois, tão logo pudesse, conversariam. Por último tentou sua filha mais jovem, e a sua preferida, mas a secretária eletrônica foi a única a atender seu chamado desesperado por companhia.
Restava-lhe a companhia efêmera e comprada dos bordéis, o amor frio pago por hora, e que por tantas noites foi o único que lhe ofereceu afago.
Tomou um banho, escolheu o traje e arrumou-se com cuidado, aplicando generosas doses de perfume. Desceu à portaria do hotel e discretamente conversou por cinco minutos com um dos empregados encarregados do turno da noite; com ele descobriu informações valiosíssimas acerca dos melhores locais da cidade.
Dirigiu-se até um deles. Local levemente escondido, no fundo de um beco de uma ruela qualquer; com uma porta pesada que revelava uma vasta escadaria. Subiu-a, e o vigor que sentiu nas pernas no percurso não foi o suficiente para mantê-lo em pé diante da cena que se deparava logo na entrada; sua filha, a caçula preferida que tanto amava, dançava seminua entre dois homens.
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O Viajante
Short StoryRestava-lhe a companhia efêmera e comprada dos bordéis, o amor frio pago por hora, e que por tantas noites foi o único que lhe ofereceu afago.