Já estudava naquela escola há seis anos e sempre a achei melancólica, mas muito bonita. Me sentia privilegiada por poder estudar ali, onde minha mãe também tinha estudado quando era jovem.
Sua arquitetura diferenciada não era como a dos prédios modernos da maioria das escolas, tinha um estilo antigo, clássico, mas estava bastante maltratada pelo tempo. Escola pública, esquecida pelo governo, como tantas outras.
No centro da cidade, aquele antigo conjunto de prédios passara a alojar o centro educacional há trinta anos e várias histórias a respeito dele circulavam entre os alunos. Diziam que ele já tinha sido um manicômio, que fora um colégio de freiras, que tinha sido devastado por um incêndio há muito tempo, mas nunca se soube ao certo com qual finalidade ele tinha sido construído.
Havia histórias de que era possível ver espíritos circulando por seus longos corredores e que ele era assombrado. Coisas do tipo sempre circulam entre os jovens, como lendas urbanas, com o único objetivo de assustar.
Até então eu era uma das poucas, se não a única, que não acreditava em histórias de fantasmas. Por causa disso fui vítima de muitas piadas e brincadeiras dos colegas, mas esse tipo de coisa nunca tinha feito minha cabeça e eu me mantinha convicta que histórias do gênero eram mera ficção.
Naquela escola, de acordo com a série em que se estava, o período de estudo variava entre o matutino e o vespertino. O noturno era reservado apenas para os alunos do, então, segundo grau.
Foi durante o ano em que estudei no período vespertino que minha visão sobre aquele local mudou radicalmente.
Como morava em um apartamento pequeno e minha família era grande, ficava difícil me concentrar para fazer os deveres de casa. Então eu costumava ficar depois da aula para dar conta deles.
Sempre gostei desse meu hábito. A escola ficava vazia e eu podia estudar tranquilamente. Sinceramente não me importava de chegar em casa um pouco mais tarde.
Meus pais sabiam e entendiam esse meu hábito.
As férias de julho estavam quase chegando, fazia frio e a noite chegava mais cedo. Era estranho sair da escola sem a luz do sol, com a cidade mais movimentada por causa das pessoas que saiam do trabalho, era diferente do que eu estava acostumava, mas eu gostava.
Era quarta-feira e já passava um pouco das dezoito horas. As aulas do período noturno só começavam às dezenove horas e eu ainda tinha um bom tempo para estudar em paz.
As luzes dos vazios corredores, que normalmente ficavam apagadas, já tinham sido acesas e eu já estava quase terminando a lição de matemática. Faltava pouco para eu ir embora, mas coisas estranhas começaram a acontecer.
De repente as luzes se apagaram. Olhei pela janela e percebi que toda a vizinhança estava estregue à escuridão. Provavelmente tinha acontecido algum problema no fornecimento de energia e a pane era geral.
Fiquei aborrecida porque teria que terminar a lição em casa, mas não tinha outro jeito, não dava pra estudar naquela escuridão.
De forma estranha todas as histórias sobre aquele lugar começaram a vir na minha cabeça. Por mais que eu não acreditasse nelas aquilo começou a me incomodar e eu estava ficando assustada.
Guardei meu material na mochila e sai apressada da minha sala, trombando nas carteias, derrubando algumas, provocando estrondos no antigo piso de madeira.
Torci para que algum inspetor viesse me ajudar, com uma lanterna, mas ninguém apareceu. Quem sabia que eu estava lá? Ninguém.
Enfim cheguei ao corredor e, para meu azar, minha sala ficava bem no final dele. Tive que percorrê-lo todo até chegar na escadaria que me levaria à saída.
Mas quando eu estava quase chegando nas escadas uma estranha luz surgiu do corredor à minha direita. Imaginei ser alguém para me ajudar, mas estava enganada.
Ainda hoje me arrepio toda quando me lembro do que aconteceu.
Junto com a luz vinha uma estranha mulher vestida de branco, que se movimentava lentamente e com uma leveza que parecia fazê-la flutuar. Ela caminhava como as freiras costumam fazer: com o rosto voltado para baixo, em sinal de submissão.
Por alguns instantes eu fiquei parada, como se estivesse congelada, enquanto ela se aproximava.
Na ânsia de afugentar qualquer pensamento assombrado eu quis acreditar que pudesse ser brincadeira de algum dos meus colegas, querendo me assustar.
"Caramba, parem com isso, vocês são idiotas", gritei jocosamente, certa de que eram eles. Minha voz ecoou pelos corredores.
A mulher, que já estava relativamente próxima de mim, levantou repentinamente seu rosto e me encarou. Como um anjo que se tornasse demônio, em questão de segundos, seu rosto se desfigurou e assumiu uma forma medonha.
"Você deveria respeitar os mortos, menininha".
Suas palavras não ecoaram pelos corredores, como as minhas. O que ela disse pareceu atingir apenas minha mente.
Não sei como consegui fazer aquilo, mas desci as escadarias correndo. Mesmo na escuridão eu não dei sequer um tropeção até que cheguei ao portão de saída e encontrei o porteiro.
Ele percebeu como eu estava apavorada e me perguntou o que tinha acontecido. Não respondi nada e segui para minha casa tão rápido como nunca tinha feito antes.
Ao encontrar minha mãe, que preparava o jantar, eu ainda estava branca e tremia.
Ela me perguntou sobre o que tinha acontecido, temendo que eu pudesse ter sido molestada durante o caminho para casa, e eu lhe contei sobre a visão que tive.
Na ânsia de me acalmar ela me deu água com açúcar, mas não tentou dar algum tipo de explicação sobre aquilo.
Minha mãe até hoje nunca comentou nada, mais de quinze anos depois de eu ter saído daquela escola.
No dia seguinte, de uma forma muito estranha, ela pediu minha transferência para outra escola e eu nunca mais voltei lá.
Não sei dizer se o que aconteceu foi mesmo realidade ou apenas uma peça pregada por meus "amigos" ou pela minha imaginação, mas o que achei mais estranho foi a atitude tomada por minha mãe, como se ela soubesse de alguma coisa.
Talvez algum dia eu pergunte a ela.
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Relatos Macabros
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