Prólogo

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"Quando essa dor vai acabar?" Era o que me perguntava enquanto chorava convulsivamente.

Meu coração doía, assim como todo o meu corpo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e caíam no chão enquanto mantinha minha cabeça apoiada em meus joelhos. Minhas costas estavam encostadas na porta impedindo a passagem de minha mãe que tentava insistentemente abri-la.

Aquela cena me vem à mente a todo momento, eu não me lembro de mais nada, só daquela cena, eu tentei sair, eu juro que tentei, mas não tinha força alguma. Minha cabeça girava e eu via tudo retorcido, tentei dizer "não" mas foi em vão, um som agudo e indecifrável foi a única coisa que saiu de minha boca.

Como descobriram tudo?

Mais batidas e empurrões na porta me acordaram de minhas relembranças. Eu não iria sair dali, precisava ficar sozinha.

- Filha, abra a porta, por favor - sua voz saiu embargada e logo depois escutei seus soluços de choro, aquilo acabou com o que restava do meu coração.

- Me deixa sozinha mãe! - mais lágrimas saiam de meus olhos enquanto eu me encolhia abraçando minhas pernas.

- Por favor, Eliza - mais duas batidas e um choro ainda mais doloroso, algo deslizando na porta e depois o barulho do choque com o chão.

A dor aumentava cada vez mais, eu não queria fazê-la sofrer.

- Deixa ela, deixa ela chorar. Você não vê que ela está querendo chamar atenção? - e essa foi a voz da pessoa que vem me torturando desde que chegamos aqui - Pare de chorar, Alice! Está vendo o que você fez com sua mãe, Eliza? - isso me atingiu como uma pedra - Vamos, saia desse quarto!

Minhas lágrimas já haviam cessado, limpei meu rosto e me levantei abrindo a porta posteriormente. Ver aqueles olhos castanhos me olhando com ódio me despertou um desejo incomum de socar minha própria avó. Mas eu iria me controlar pelo pingo de respeito que ainda me resta.

Olhei para minha mãe que ainda estava sentada no chão, me abaixei até ela e a abracei.

- Você só serve para fazê-la sofrer! - mais uma vez aquele ser se pronunciou. E esse foi o estopim para a ideia vir em minha mente.

- Mãe, me desculpe - falei ao seu ouvido - Me desculpe - lágrimas surgiram novamente e eu a apertei mais contra meus braços - Eu te amo tanto! Sempre vou amar... - estávamos nós duas chorando, enquanto aquela mulher nos observava.

Me levantei junto com minha mãe e beijei sua testa.

- Vá descansar mãe! - lhe lancei um olhar preocupado e ela apenas assentiu indo para o quarto.

Me virei para observar a mulher que tanto odeio uma última vez e entrei em meu quarto fechando a porta logo atrás de mim. Aquela seria a noite em que tudo acabaria.

Acordei três horas da manhã quando todos estavam dormindo, caminhei até a cozinha e então aconteceu minha primeira tentativa, quatro caixas inteiras de remédios aos quais eu não sabia a utilidade e que pouco me importava. À espera de uma morte lenta, mas menos dolorosa que as outras opções. E foi nessa esperança que tudo ficou escuro.

À Procura de Um MotivoOnde histórias criam vida. Descubra agora