1° Capitulo.

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Primeiro dia de aula, pode existir algo melhor?
Ah, pode sim. Tem várias coisas melhores. Chocolate, pizza, batatas, Coca-Cola... Enfim, qualquer coisa é melhor do que o primeiro dia de aula em uma escola nova.
Sabe, mudar de cidade já é um trauma para qualquer um. Agora, imagine mudar de país? Sim, eu mudei de país. Mais especificamente, me mudei do Brasil para a Inglaterra. Tudo por causa desse maldito emprego da minha mãe, que resolveu transferi-la. E você deve estar se perguntando: "Por que ela não ficou com o pai dela?", bom, meu pai morreu num acidente de carro há três anos. Eu já me acostumei com a ausência dele, mas no começo foi bem ruim. Eu emagreci doze quilos, eu não comia, nem dormia direito.
Voltando ao assunto, eu me mudei há um mês, mas quando cheguei a escola ainda estava no período de férias. Eu só falava o inglês básico quando vim pra cá, e minha mãe só fala comigo em inglês, para que eu me acostume. Mas eu já estou bem melhor perto do que eu estava antes, porque eu fiz amizade com meus vizinhos idosos e converso com eles todos os dias, por isso estou melhorando o meu inglês gradativamente.
Cara, porque a minha mãe não cala a boca? Se já não bastasse ser meu primeiro dia de aula, a minha mãe ainda tem que ficar tagarelando o trajeto inteiro, dizendo o que eu não devo fazer. Como se eu estivesse prestando atenção em alguma coisa, mesmo. Ela sabe que eu não posso ficar nervosa, mas não para de repetir essa coisas.
-Entendeu, filha? - minha mãe perguntou. Eu apenas assenti com a cabeça. - Então repita o que eu te disse.
-"Catherine, não xingue ninguém, não agrida ninguém, respeite o professor, não brigue com ele se ele mandar você ficar quieta, e não jogue comida nem bolinha de papel em ninguém" - eu disse tentando imitar a voz dela, mas não consegui. - Mãe, eu nunca joguei comida nem bolinha de papel em ninguém.
-Eu sei, mas de você eu espero qualquer coisa. - ela disse tranquilamente dando de ombros. Odeio quando ela age assim, como se eu fosse uma filha desnaturada. Mas eu não sou assim. Eu nunca ligo para o que as pessoas falam ou pensam. Minha mãe estacionou o carro na frente da escola. Apenas respirei fundo e abri a porta.
-Tchau, mãe. - eu disse dando um abraço nela. Apesar de ser um pouco louca, minha mãe é legal e carinhosa quando quer. Só quando quer, e isso acontece poucas vezes. Minha mãe falou mais alguma coisa que eu ignorei quando saí do carro.
Suspirei olhando para o lugar onde eu iria estudar durante o ano inteiro. Na frente da escola tinha um jardim, com alguns bancos para os alunos se sentarem. O lugar até parecia ser acolhedor, mas esse truque não funciona comigo.
Vi alguns alunos chegando na escola com seus carros caros, achando que estavam arrasando. Por favor, né. Eles não passam de filhinhos de papai que se acham melhores do que os outros só porque têm dinheiro, carros, jogam no time de futebol, ou são líderes de torcida, fazem parte de boybands. Sim, tinha uma boyband na minha escola, minha mãe falou disso o tempo todo. Ela até disse que eu deveria namorar algum desses garotos que fazem parte do time de futebol ou de alguma boyband. Eu quase pulei no pescoço dela quando ela disse aquilo. Ela vive falando que eu sou mal-humorada porque não arrumo namorado. Mas eu não preciso de namorado, é diferente. Eu não quero saber de garotos melosos pegando no meu pé, tendo que dar satisfações de onde eu vou e blá blá blá. Garotos só incomodam, essa é a verdade. Não, eu não sou lésbica. Eu até já tive um namorado uma vez, mas ele era gay. Quer dizer, ele parecia ser gay, ele agia como um. Ele vivia falando de sentimentos e essas coisas que garotas falam. Cara, nem eu falava daquilo, e ele vivia repetindo que ele não queria que eu partisse o coração dele. Sinceramente, ele era gay. Ele ainda não tinha percebido isso, mas ele era.
Ah, odeio quando eu faço isso. Eu começo a falar de uma coisa, vou emendando outros assuntos e não paro mais de falar. Isso é normal pra mim.
Bom, entrei na escola e fui caminhando pelos corredores estreitos até achar a secretaria, era aquele lugar que eu estava procurando. Falei com uma moça que estava na recepção, explicando que eu era aluna nova e que tinha ido pegar meus horários, o número do meu armário e saber qual era a minha sala. A moça foi bem simpática comigo, me entregou o papel com todas as informações que eu precisava saber, os livros que eu usaria e disse que qualquer coisa que eu precisasse eu poderia ir ali falar com ela.
Saí daquela sala tentando me localizar, e isso estava sendo uma missão impossível para mim. Peguei o papel com os horários e comecei a procurar o número da minha sala lá, mas eu não estava conseguindo achar, continuei andando sem prestar atenção em onde estava indo e tentando descobrir qual era a minha sala. O sinal bateu e percebi que vários alunos apressaram o passo, andando em várias direções diferentes. Esbarrei em alguém e deixei meus livros caírem sem querer. Me abaixei e comecei a ajuntá-los. A pessoa abaixou também e me ajudou com os livros, nem olhei para cima para ver quem era.
-Me desculpa por isso, eu estava com pressa. - uma voz masculina falou. Levantei o olhar e vi um rapaz com o cabelo castanho claro, olhando para mim.
-Não precisa se desculpar, eu estava distraída. - falei, ainda estávamos ajoelhados no chão. Ele entregou para mim os livros que tinha ajuntado. Pensei numa cena idiota. - Eca. - falei.
-O que foi? - ele perguntou.
-Nada, é só que... isso parece ser uma cena de um filme idiota de romance. - despejei.
-Ah, é verdade. - ele riu se levantando, me levantei também. - Está perdida?
-Muito. - falei. Ele pegou o papel com os horários que estava em minha mão.
-Você está na mesma sala que eu... Vamos? - ele disse e eu assenti. Pelo menos agora eu não ficaria perdida na escola. - A propósito, qual é o seu nome?
-Catherine.
-Ah, sou Louis. - ele disse sorrindo tentando ser sedutor, mas aquilo não me impressionou nem um pouco. Eu apenas sorri de volta para não deixa-lo no vácuo.

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