Prólogo

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3 anos antes.

- Julieta, saí de cima dessa árvore agora! - ele fala autoritário.
- Calma Arthur, só quero pegar uma manga!
- Você vai acabar caindo isso sim!
- Você tá parecendo o meu pai Arthur, e isso não é um elogio. - digo rindo da cara dele.
- Não é isso, você está de vestido e tá parecendo a sua calcinha de morangos. - ele diz brincalhão.
- Ei! Não olha tá?! - digo começando a ficar vermelha.
- É você que está mostrando a bunda e eu é que tô errado!?
- Isso mesmo, as meninas sempre estão certas. - falo enquanto desso da árvore - Olha como eu sou boa, trouxe até uma pra você mesmo você não merecendo.
- Pelo menos isso... - ele diz e eu dou um tapa no braço dele.
- De nada. Ei, vamos na casa Bella. Tá todo mundo lá. - puxo ele na direção da casa dela.
- Ok, o que você não pede sorrindo que eu não faço chorando. - ele diz e me abraça.
Arthur, Felipe, Dobby e Isabella são meus primos, mas Arthur sempre foi meu melhor amigo, a gente se completava, o que eu tinha de irresponsável ele tinha de responsável, eu sempre fui tímida e quieta, menos com ele, com ele eu sempre senti que poderia ser eu mesma. Ele sempre me protegeu de tudo, era como se fosse um irmão, não deixava ninguém encostar em mim, principalmente garotos. Eu morria de vergonha por ser BV com 13 anos e graças a ele ninguém zoava comigo.
- Julieta?
- Ah, sim. Chegamos.
No quintal da Isabella estavam ela, a Alice, a Letícia, o Dobby, o Felipe e o Caleb.
- Vocês estão atrasados! - disse a Isabella.
- Vamos, entre na roda. - falou o Dobby do lado da Alice. Eles estão namorando 3 meses, dava vontade de vomitar arco-ires só de olhar pra esses dois. - Estamos jogando verdade ou desafio.
- Uhu! - brincou Arthur. Ele era muito bonito então sempre estava cheio de garotas ao redor. Letícia gosta dele e eu não sei por que os dois não ficam.
-Então gira logo! - Eles nunca faziam desafio de beijar alguém pra mim pois sabiam que eu era BV, então eu não me preocupava muito. O Felipe girou e caiu no Felipe e em mim.
- Verdade ou desafio?
- Desafio. - Eu tinha medo das verdades com eles.
- Eu te desafio... - ele me olhou com uma cara bem safada - ... A você me beijar.
- O que!? - eu quase gritei. Senti Arthur ficar tenso ao meu lado.
- Eu tava brincando gente, calma! Vocês tinham que ver a cara que vocês fizeram. - ele riu. - Calma Arthur, não vou beijar sua namoradinha não, fica tranquilo. Mas se ela quiser...
- Ela não quer nada. - ele falou sério.
- Vamos continuar o jogo? - falei querendo mudar de assunto.
- Vamos. - falou Alice girando a garrafa.

***

- Finalmente acabou. - resmungou Arthur ao meu lado enquanto voltavamos pra casa.
- Ei, topa ir a um lugar comigo?
- Sempre. Aonde vamos?
- Vem comigo. - puxei ele pela mão. Adorava segurar sua mão, me sentia segura, era como se fosse certo. Fomos até a parte onde tem uma nascente de algum rio. Eu gostava de ficar lá, vendo que tudo está em constante movimento, que nem a água.
- Julieta... - Ele me seguro pelo braço, me fazendo ficar de frente pra ele.
- Arthur? - respondi confusa.
- Preciso falar uma coisa pra você. - ele estava de cabeça baixa mas dava pra ver que ele estava vermelho tremendo, vendo aquilo comecei a ficar nervosa.
- O-ok, fala.. - falei gaguejando, não sabia por que eu estava tão nervosa. Meu coração estava acelerado e eu sabia que estava suando pois minhas mãos estavam úmidas.
- Julieta, eu gos... - ele foi interrompido por um grito.
- Julieta! Cadê você filha? - droga, não podia ser daqui há uns 2 minutos mãe!?
-Mãe! - falei exaltada -  Estou aqui.
- Finalmente te encontrei. Vamos pra casa, você precisa se arrumar.
- Ah sim. Desculpa Arthur, preciso ir mesmo...
- Tudo bem. Te vejo de noite? - ele me olhou esperançoso.
- Claro. Agora eu preciso ir. Até depois. - dei um abraço e um beijo na sua bochecha e fui embora frustrada.

***

Quando deu 18 horas, fui correndo pro banheiro, tomei um banho rápido e vesti meu vestido preto e branco, minha mãe chegou e prendeu meu cabelo em "maria-chiquinha" e passou um troço de enrolar o cabelo no mesmo. Minha mãe nunca gostou das minhas sardas, ela dizia que eram manchas, já meu pai dizia que eram pintinhas que Deus fez pra eu ficar ainda mais linda, ela sempre passava corretivo, base e pó pra minha pele ficar "perfeita" pois já tinha 13 anos e era uma mocinha, depois dela me "embonecar" fui direto pra sala pra roubar doce pois não sou de ferro e aquele brigadeiro estava me olhando com uma cara quase implorando pra mim come-lo, então tive que fazer esse sacrifício ( e que sacrifício! ), então meu primo chegou e ficamos brincando de pira pega, ele começou a correr atrás de mim e eu corri pro jardim rindo que nem uma doida, mas como ele era mais alto e tinha pernas maiores, ele me alcançou e perdi o equilíbrio e tentei me segurar nele mas foi pior pois caímos juntou, ele caiu em cima de mim e ficamos nos encarando por um tempo até começarmos a ri feito dois doidos, eu empurrei ele pro lado e ficamos nós dois, um do lado do outro olhando o céu.
- Julieta? - ele me olhou e eu o olhei.
- Sim!?
- Vou sentir sua falta... - meu coração apertou contra o meu peito.
- Eu também... Mas vamos nos ver em julho novamente não é? - tentei parecer feliz.
- Claro Jully!
- Jully? - perguntei curiosa.
- Sim, Jully. É mais curto e bonito.
- Você está dizendo que meu nome é feio? - fiz cara de brava, ele arregalou os olhos e balançou a cabeça de um lado pro outro nervoso e eu não me aguentei, comecei a rir. - Ok, mas só você pode me chamar assim. -  ele sorriu e acentiu.
- Ei, olha - eu olhei pra ele e ele estava segurando uma flor, uma margarida. - Sempre achei que essa flor combinasse contigo.
- Por que?
- Sei lá... Ela é linda, delicada e... e combina com vo-você. - ele estava vermelho e gaguejando.
- ah... - eu fiquei morrendo de vergonha, nunca alguém tinha disse algo tão fofo pra mim antes. Eu não sabia o que falar, pela primeira vez eu estava totalmente sem palavras, minhas mãos estavam suando e eu não sabia o porque.
- Você não precisa falar nada, vamos pra dentro, todo mundo já chegou. Mas antes tira essa maquiagem, prefiro você com suas sardas. - eu sorri e tirei o máximo que eu pude da maquiagem da bochecha depois ele levantou e me ofereceu sua mão e eu aceitei, ele me puxou e eu fiquei tão próxima que podia sentir sua respiração se misturar com a minha, ele levantou sua mão e prendeu a flor no meu cabelo, eu pensei que ele fosse me beijar; não sei por que eu pensei nisso, afinal somos primos, que besteira minha; porém ele só sorriu e e me puxou em direção a casa dos nossos avós.
  Chegando lá, ouvi algo quebrando e gritos, olhei para Arthur e ele me olhou e apertou minha mão, então entramos. Meu pai estava brigando com o pai do Arthur e  meu tio e meu avô estavam tentando separal-los e nossas mães estavam abraçadas chorando. Eu fiquei paralisada, eu queria ir lá com o papai pra fazer ele parar e também queria ir lá com a mamãe e abraçar ela e dizer que tudo ía ficar bem mas eu não conseguia me mexer. Senti Arthur soltar minha mão e vi ele indo na direção dos nossos pais e falar com eles, vi meu pai me olhando e olhando pra mamãe. Minha tia e minha avó que estavam com a Isabella, o Dobby e o Felipe e eu fui lá com eles, cheguei lá e a Isabella me abraçou chorando.
- O que aconteceu?
- Parece que eles estão brigando por causa de dinheiro.
- Como assim?
- Parece que o vovô tá falindo e o tio Marceli e o tio Edu estão culpando um ao outro.
  - Julieta! Luíza! Arrumem suas coisas agora, parece que as férias acabaram. Vamos, não quero mais olhar pra cara desse ladrão corrupto! Vão! Agora! - disse o papai gritando.
  Minha mãe me puxou em direção do meu quarto e disse pra mim arrumar todas as minhas coisas rápido. Peguei minha mala, coloquei ela na cama e comecei a jogar minhas roupas dentro.
- Você não pode ir agora. - disse uma voz que eu poderia reconhecer em qualquer lugar no mundo, essa voz que sempre foi meu porto seguro, que sempre me protegeu e me confortou. A voz dele.
- Eu não tenho escolha. - falei sem me virar, e continuei jogando minhas roupas. Eu senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
- Vocês não podem deixar ele se acalmar? Ele vai repensar, tenho certeza.
- Não tenha tanta certeza assim Arthur. O seu pai também não está furioso?
-  Meu pai é tranquilo, tô preocupado com você Jully. - eu sorri quando ele falou meu mais novo apelido. E o meu favorito.
- Não precisa se preocupar comigo, eu vou ficar bem, eu juro. - Fechei a mala e olhei pra ele. - Juro de dedinho. - ele sorriu e me abraçou e eu retribui.
- Vou sentir sua falta.
- Eu também... - ele me abraçou com mais força e eu também. Só de falar com ele eu já estava mais calma. Ele era meu melhor amigo, meu irmão, meu companheiro, meu cúmplice, meu tudo. - Obrigada por existir.
- Eu é que agradeço... Jully?
- Sim!?
- Eu não sei quanto tempo eu vou ficar sem te ver mais eu quero que você saiba que eu realmente ...
- Filha já acabou? - chegou minha mãe interrompendo. - Seu pai está no carro nos esperando.
- Ah... Então é isso... Adeus!? - eu perguntei nervosa.
- Nunca. Isso é um "Até logo" ok?
- Ok. - digo dando um último abraço na pessoa que eu mais amava no mundo e em seguida sendo arrancada dela.
 

Simplesmente Aconteceu...Onde histórias criam vida. Descubra agora