Adam

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Se você tivesse me dito há uma ou duas horas que eu terminaria minha noite no bairro mais chique de Nova York, na cobertura de Mary, a menina da turma de história americana... bem, eu teria dito que você perdeu a noção da realidade. No entanto, é exatamente onde me encontro neste momento, seguindo os passos de Mary da portaria do prédio --- até o elevador. O apartamento é bem luxuoso, todo decorado aos moldes da arquitetura vitoriana, do meio do século XIX --- ou, pelo menos, é o que eu acho, considerando todos os móveis que parecem ter saído daquelas minisséries chatas que minha mãe assiste na televisão, com protagonistas chamadas Violeta, Hortência, ou algo assim. Há livros por toda parte --- não livros de capa fina de autores como Dan Brown, e sim livros grandes e pesados, com títulos como Dermatologista na Grécia do século XVII e O guia da necromancia. Olhando em volta, eu não vejo nenhuma tela de plasma ou de LCD. Nem mesmo uma televisão convencional.

--- Seus pais são professores, ou algo assim? --- pergunto à Mary enquanto ela coloca a besta no chão e vai para a cozinha, onde ela abre a geladeira, pega dois refrigerantes, e me oferece um.

--- Quase isso --- diz Mary. Foi assim que ela se comportou durante o caminho todo até a sua casa: economizando explicações. Não que isso faça alguma diferença, pois eu já falei para ela que só vou embora quando souber a história toda. O fato é que eu ainda não sei nem o que pensar sobre tudo isso. Quer dizer, estou feliz por saber que Drake não é quem eu achei que fosse --- o ex-namorado de Mary. Por outro lado... um vampiro?

--- Vem aqui --- diz Mary, e eu a sigo porque... bem, que outra alternativa eu tenho? Não sei o que estou fazendo aqui. Nem acredito em vampiros. Acho que Lila se envolveu foi com um daqueles caras góticos bizarros que eu vi no Law & Order um dia desses. Todavia, a pergunta de Mary --- 'Como você explica, então, que ele tenha desaparecido do nada no meio da pista de dança?' --- me intriga. Como ele fez aquilo?
Da mesma forma, existem várias outras perguntas parecidas com aquela que eu não sei responder. Como, por exemplo, esta aqui: Como eu faço para que Mary olhe para mim da mesma forma que Lila estava olhando para Drake? A vida é cheia de mistérios, meu pai sempre diz. Muitos deles estão envolvidos por enigmas.
Mary me leva por um corredor escuro até uma porta parcialmente aberta, de onde vem uma luz. Ela bate na porta e pergunta:

--- Pai? Podemos entrar?
Uma voz taciturna responde:

--- Pois não. Então, novamente eu sigo os passos de Mary e entro no quarto mais estranho que eu já vi. Muito estranho principalmente para uma cobertura em um bairro chique de Nova York. É um laboratório. Vejo tubos de ensaio, provetas e frascos por toda a parte. Em pé, no meio de todos aqueles recipientes, encontra-se um homem com toda pinta de professor, grisalho, alto, vestido com um roupão de banho, examinando uma mistura verde que solta fumaça. O senhor tira o olhar concentrado do recipiente e sorri ao ver Mary entrando no quarto. Seus olhos verdes --- idênticos aos de Mary --- me observam com curiosidade.

--- Olá --- diz o homem ---, estou vendo que trouxe um amigo para casa. Que bom Tenho pensado ultimamente, e acho que você passa muito tempo sozinha, moça.

--- Pai, esse é Adam --- diz Mary, casualmente.

--- Ele senta atrás de mim na aula de história americana. Nós vamos para o meu quarto fazer dever.

--- Que ótimo --- diz o pai da Mary. Parece que ele não percebe que a última coisa que um cara da minha idade vai fazer no quarto de uma menina às duas da madrugada é um dever da escola.

A Filha Da Exterminadora !Onde histórias criam vida. Descubra agora