PRÓLOGO
O desespero munido ao sentimento de impotência que sinto por não poder me recordar do passado faz com que eu me perca do fio da realidade... eu ainda não consigo entender como posso ter esquecido de tudo. Como isso foi acontecer? Pergunta e perguntas que giravam na minha cabeça, obscurecida por uma nuvem de deslembranças e que quase nunca eram respondidas de maneira direta. Somente palavras vagas e sem sentido. Não sei o motivo e muito menos a razão de nada. Sinto como se eu fosse alguém que estivesse exclusivamente no modo telespectador, alguém que não faria diferença se permanecesse ou não por ali... caminhando pela vida. Vazio, quem sabe seja isso. É o vazio que se insinua no meu ser e absorve boa parte de mim agora. Eu era ninguém. Eu era uma estranha entre tantos outros que me cercaram até então.
Me esforço para observar um pouco mais esse homem lindo diante de mim.... Falaram, ele falou, que é o meu marido. Meu polegar voa instintivamente em busca do meu anel... e ele estava ali, pelo que parecia há um bom tempo. Como posso ter esquecido de que sou casada, esquecido do meu próprio marido? Ele é tão lindo... não parece ser alguém de quem se esqueçam com facilidade. Eu jamais me esqueceria dele... Você já esqueceu, não vê?
— Olha... – comecei meio incerta de como avançar — ...eu não sei como te dizer isso.... – Respirei fundo na tentativa de afastar tanto o nervosismo quanto a ansiedade e continuei — eu não consigo me lembrar de você – ele sorriu de maneira calorosa para mim, porém o seu olhar estava frio. O calor do seu sorriso não tinha sido capaz de aquecer o seu olhar e isso me incomodou. Incomodou mais do que deveria. Será que esse homem era mesmo o meu marido?
— Fique calma, minha pequena – a última parte dita soou tão traidora... — Tudo vai ficar bem – tive a sensação de que as palavras eram ditas mais para consolo próprio do que direcionadas a mim. Ele não se aproximou em momento algum, não pude deixar de notar — A sua família irá chegar em breve e você se sentirá mais segura – "Essa não era a sua função como meu marido?" Quis gritar alto, mas me limitei a olhar as minhas mãos. Um nó se fixou no meu estomago e as lagrimas teimavam em querer deixar os meus olhos. Eu não queria chorar. Não agora, não perto dele.
— Eu quero ir para casa... – falei não sabendo ao certo se eu tinha um lar e mesmo me esforçando a minha voz saiu junto a um soluço e ali estava eu, chorando.
Meus olhos deviam estar inchados e vermelhos de tanto que chorei durante essa última semana. Como a minha família podia ignorar o meu estado de saúde? Eu estava em um hospital, sem memória.... Talvez eles tenham se esquecido de mim também.
— Vamos para casa porque você recebeu alta medica hoje. Veja como está com sorte – ele sorriu para uma enfermeira que acabava de entrar no quarto. Um sorriso falso e cretino. Sim, eu sabia o que aquele sorriso significava e mesmo não lembrando de maneira alguma daquele homem... eu não gostei.
— Precisa de ajuda, senhora McMahon? – Senhora McMahon....
— Eu consigo sozinha... – uma irritação repentina e sem sentido se agitou dentro de mim, me deixando longe das boas maneiras. Eu não desejei ter bons modos naquele momento. Eu ansiei poder derramar toda a minha frustração e todos os meus medos ali. Almejei também, acima de tudo, entornar a minha raiva sobre eles.
— Tudo bem então – fazendo pouco caso da minha expressão de raiva e dor ela me deu as costas caminhando para porta, parando ao lado do homem que dizem ser o meu marido e colocando uma mão no peito dele — Qualquer coisa – ela enfatizou o que dizia deslizando a mão até a gravata elegante dele — é só me chamar – ela, de maneira descarada, ronronou sedutoramente. O que aquela mulher pensava que estava fazendo? Melhor, o que ele pensava estar fazendo ao retribuir o sorriso daquela descarada?
— Eu perdi a minha memória, não a visão ou audição – falei acidamente e sem pensar segui com dificuldade até a porta e indiquei o caminho para fora com um gesto grosseiro que fez com que uma dor lancinante cortasse diante dos meus olhos. Respirei fundo e fiz de tudo para mascarar a minha dor. Ela não me olhou, apenas sorriu e saiu. Vadia.
— Quanta agressividade – ele sorriu polidamente para mim. O sangue se agitou nas minhas veias assim que as palavras sarcásticas deixaram aquela boca de lábios bonitos demais para pertencerem a um homem frio como ele.
— Você é meu marido e ela não pensou duas vezes quando flertou com você, que retribuiu descaradamente. O que pensa que está fazendo? – ele me lançou outro sorriso que sempre vinha acompanhado por um olhar gélido e se aproximou lentamente. Ele era tão alto... eu me sentia minúscula perto dele. Precisei olhar para cima para encara-lo.
— E desde quando isso foi motivo para exclusividade?
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O Filho Inesperado do Homem Que Me Rejeitou: Quando Eu Te Esqueci (AMOSTRA)
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