Estou em um abismo caindo sem fim, não consigo abrir os olhos, talvez eu não queira.
Nessa manhã eu vislumbrei a morte a minha frente com seus olhos vorazes cheios de dor.
Isso me matou por dentro.
Porque a Morte é como nós, ela é uma vitima do tempo sem poder nunca se libertar.
Ela sofre e sangra como nós sem jamais poder voar.
Mas eu posso voar, eu sinto que posso erguer meus pés do chão.
Talvez não seja tarde afinal, talvez ainda haja uma esperança me esperando.
Caminho sempre nos mesmos lugares como se vivesse presa em algum lugar e percebo que estou presa dentro de mim.
As mil faces de uma alma podem enlouquecer você com o tempo.
E todos sabemos que não temos muito tempo.
As folhas secas estão caindo porque o outono finalmente chegou, mas vivo em um inverno sem fim.
O vento frio já esta cravado em meus ossos.
Sempre vagando solitária entre as folhas entre as matas na esperança de vê-lo voar.
Porque os anjos estão entre nós, porque os anjos fazem parte de nós.
Porque te espero com suas asas azuis.
Mas a Morte não pode voar, ela não consegue tirar os pés do chão.
Ela é triste e sombria, precisa pagar pelas vidas que ceifou.
A Morte é um anjo sem asas incapaz de ver a face de Deus diretamente, porque ela é mais uma de suas obras para dar fim a sua criação.
Uma punição.
Mas eu posso voar, eu sinto que posso erguer meus pés do chão.
Hoje acordei mais cedo e olhei para o espelho buscando encontrar um pouco mais de mim.
Em cada reflexo escondido, em cada ponto conhecido, eu vi apenas quem eu fui.
Sabemos que o abismo é profundo, que ele nos leva para o mais baixo pensar.
Sabemos que não adianta lutar, quando o fim chega, não tem volta.
Mas a Morte me encara agora com um olhar incerto.
Talvez eu ainda não pertença a ela como pensei.
Talvez eu ainda possa sussurrar em seu ouvido palavras doces que a faça esquecer.
Mais vejo que me engano.
Ela agora faz sua dança macabra em minha direção, girando, cantando.
Nunca vi algo tão belo.
A morte é o rosto da incerteza misturado com o êxtase da curiosidade.
Quem sabe um dia eu consiga corteja-la como faço agora, quem sabe um dia ela me pegue em seus braços e voe comigo.
Porque a Morte é como nós, ela é uma vitima do tempo sem poder nunca se libertar.
Mas o abismo finalmente começa a chegar ao seu fim.
Nunca pensei que diria isso, mas sinto falta da queda.
Você espera que as coisas sejam diferentes quando á sua hora chega, você espera que o mundo esteja todo focado em sua queda, mas percebe que ninguém pode enxerga-lo.
Porque você mesmo não se vê.
Porque só a Morte pode sentir seu cheiro.
Entregue-se, ela chegou.
Entregue-se agora.
Respire fundo, sinta seus pés alçando vôo, sinta seus pés flutuarem para o céu.
Você só precisa aceitar.
Porque a Morte é como nós, ela é uma vitima do tempo sem poder nunca se libertar.