O começo de tudo.

78 4 0
                                    





Raios de luz solar vazavam entre as cortinas vermelhas pesadas, entreabertas. Causando-me cegueira momentânea, ao abrir meus olhos ainda muito pesados, cansados... E quase mortos?

Ontem meu pai, promovera mais uma de suas festas de domingo, regadas á vinho, mesa farta e pessoas da realeza, esnobes e vazias. O que estava acontecendo, estranhamente, muitas vezes na semana.

Coloquei uma de minhas mãos á cima de meus olhos na tentativa de proteger-me do sol.Meus pés doíam, pelas bolhas que o sapato de salto altíssimo causaram-me. Isso, claro foi cortesia de minha mãe. Mamãe nunca deixou de nos ensinar os bons modos, como uma legitima princesa devia se portar. Eu como primogênita, devo ser o espelho para minha irmã mais nova e para todas as garotas do reino. Não posso cometer nenhum erro, se cometer, serei severamente castigada. Então como "boa princesa", permaneci com meus saltos elegantemente até o fim da festa. Mesmo querendo arranca-los e joga-los no canto, ou talvez na cara de David, nosso estilista real. Pobre coitado! Sei que apenas segue ordens rigorosíssimas da rainha, vulgo minha mãe. Mesmo aos meus 21 anos de idade, mamãe me mantém a rédeas curtas, acho que por eu ser solteira, mamãe morre de medo de que eu escape de seu punho de ferro e tenha um bastardinho, seria um escândalo! Mal sabe ela que eu já sou bem mal falada pelo fato de estar  solteira. Não me importo nem um pouco em ser solteira, quanto mais á escapar para ter bebês.

Coloquei-me de pé, ainda com a mão acima dos olhos, rastejando-me até meu roupão de seda, impecavelmente pendurado.

O assoalho de madeira range enquanto arrasto-me em meu quarto. Que horas seria? O sol já esta tão forte!

-Bosta!

Ralho quando não consigo colocar o braço em um dos buracos do roupão. Meus olhos ainda me incomodam. Consigo vestir-me e passo as mãos por meus cabelos olhando-me no espelho.

Se for tarde será um grande milagre deixarem-me dormir. Geralmente mamãe ou algum criado, por ordens dela claro, acordam-me antes que o sol nasça, para aulas de piano, canto e línguas estrangeiras. O que é na verdade tedioso. Tenho sorte que minha professora de piano, Ellen, sempre deixa-me dar uma escapadela para assistir as aulas de esgrima que meu primo e seus amigos praticam vez ou outra nos jardins do castelo. Ela também me acompanha vez ou outra, mas creio que não é para ver o duelo, mas sim, os cavalheiros!

Espadas, politica e cavalos é tudo o que mais interessa-me. Paixão a qual, nasceu quando era uma criança, papai sempre carregava-me na garupa de seus cavalos para reuniões secretas no reino norte ou sul. Atenta ficava a todas as conversas dos lideres e reis, sobre as guerras, barganhas , posse de terras e a mais lendária: a divisão territorial do país, que dividiu em reino sul, norte e central . Nunca entendi muito bem sobre essa divisão pois, quando me pegavam interessada demais mandavam as criadas me levarem até a sala de chá para conversar com as princesas. Eu fugia sempre que elas se distraíram conversando sobre historias de príncipes encantados, vestidos e bonecas de porcelana. No começo eu vagava pelos castelos até descobrir, furtivamente, os duelos de espadas que os cavalheiros promoviam a fim de aperfeiçoar suas técnicas para batalhas. Certas vezes papai me pegava admirada e conversava por horas a fio sobre batalhas que ele participou. Eu ficava encantada!

Prendi meus cabelos loiros e rebeldes, em um coque como gostava. Espiei o corredor do castelo, com a porta entreaberta e voltei a fechar sorridente, quando não vi nenhum movimento ali. Todos devem estar cuidando de suas ressacas e esqueceram-se de mim. O que é maravilhoso claro, eu recebia atenção de mais e nunca gostara disso.

Laços Medievais.Onde histórias criam vida. Descubra agora