Hartford, 1872
Me acordei com alguém me chamando e batendo na porta.
- Sr. Humberto?
- Walter. Se não percebeu estou tentando dormir. - gritei, mas ele já havia entrado.
- O senhor precisa se levantar. Esqueceu que dia é hoje?
- É bem provável que eu tenha esquecido. - falei enquanto encostava a cabeça no travesseiro e fechava os olhos novamente.
- É o dia de seu casamento.
- Eu não vou me casar com ela. Não faz mais sentido sem eles. - falei a última parte baixo rezando para que Walter não ouvisse, mas ele ouviu.
- Eu sei que está sofrendo por causa de seus pais, mas lembre-se da promessa que fez a eles. - fez uma pequena pausa antes de começar. - Vou chamar Cassie para ajudar a arruma-lo.
Walter saiu do quarto. Me levantei da cama o mais rápido que pude, apenas troquei de roupa e peguei o colar com o pingente de uma espada cravada na cabeça de um lobo. Eu sei que parece estranho, mas quando era pequeno costumava ter pesadelos quase todas as noites. Sonhava com monstros que tinham garras afiadas que me arrancavam a pele e meu precioso sangue. Eu só conseguia dormir tranquilamente quando mamãe estava por perto. Então ela me deu o colar dela. O símbolo da família. Para que eu lembrasse que nenhuma criatura poderia me machucar, pois, o pingente ilustra como nosso nome se tornou o mais famoso em toda a cidade. Afinal somos caçadores.
- Acho que ele dormiu de novo .
Ouvi uma voz distante no corredor, o que quer dizer que estava na hora. Sinto tanto ter que deixar meu irmãozinho aqui. Se pudesse leva-lo comigo... mas não posso, é perigoso demais lá fora, ele estará seguro aqui com os outros caçadores.
- Eu não vou me casar com alguém que nem suporto... - falei para ninguém em especial. Em seguida tranquei a porta por dentro, guardei a chave no bolso e abri a janela, se fosse rápido o suficiente conseguiria sair da cidade sem grandes problemas. Depois seria fácil roubar uma cavalo. Fico imaginando se papai me perdoaria se soubesse do que fiz, mas acho que ele compreenderia, mamãe pelo outro lado me mataria se soubesse. Ela não vai ter esse desgosto, já estava morta... assim como papai.
- Está na hora de ir, - falei para mim mesmo, tentando me motivar a seguir o plano - de desapegar do conforto, do calor, das pessoas, e principalmente das lembranças que a casa e a cidade trazem... - senti meu rosto molhado, mesmo lutando contra minhas lágrimas, elas me venceram, como sempre faziam. Antes que pudesse terminar de me despedir, a maçaneta girou, mas a porta não abriu. E então eu pulei da janela. Não doeu tanto quanto pensei, não fisicamente. Sou fraco não consigo comandar meus pensamentos, eles me deixam confuso. é um combate entre querer voltar para casa e querer ir embora daqui.
Comando, combate e fraqueza...
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Coração de fogo
AdventureAnjos perdidos, duas irmãs que tem sangue real, meninas curiosas colocam o mundo em perigo. Megan. Uma adolescente de 15 anos, que tem experiências estranhas desde a infância. Ela sempre pensou ter algum problema. Mas as suas teorias sobre si mesm...